Hassan Al Kontar vive há mais de quatro meses (125 dias) no terminal 2 do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur (KLIA2), na Malásia, enquanto espera pela obtenção do estatuto de refugiado.

O caso despertou a atenção internacional quando Hassan começou a usar a conta pessoal no Twitter para relatar a sua vida no aeroporto. Em vídeos diários, o homem sírio que completará 37 anos esta sexta-feira explica os desafios e constrangimentos que enfrenta todos os dias. Em várias publicações fala também do impacto psicológico de viver confinado a um espaço fechado por vários meses.

“4 meses/120 dias/2880 horas, fizeram-me descobrir o que realmente significa estar triste, zangado, desapontado, impotente, solitário, cansado e fraco. O meu segredo para não me render e enfrentá-los a todos.. “ESPERANÇA”
Não podes amar, sonhar, trabalhar, sorrir ou levantar-te se não tiveres esperança. O momento em que a perderes ACABA O JOGO”, escreveu na publicação em que assinalava 120 dias a morar no aeroporto.

Noutra publicação, Hassan conta como foi voltar a sentir o ar fresco. “2 minutos para recordar, pela primeira vez em 122 dias eles abriram a porta para o mundo exterior e eu pude sentir o calor e respirar o ar fresco. Isto é o que eu chama um dia excelente.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A vida no terminal 2

Al Kontar dorme no chão debaixo de um vão de escadas, toma banho numa casa de banho pública depois da meia noite para não despertar a atenção dos turistas e tem dificuldades em lavar a roupa por não ter onde a secar. “Se eu tiver uma oportunidade para lavar as minhas roupas, lavo-as rapidamente e uso-as enquanto ainda estão molhadas”, cita o Business Insider.

Como não lhe sobra muito dinheiro, sobrevive sobretudo com as três refeições diárias (frango e arroz na maioria dos dias) que as companhias aéreas, principalmente a AirAsia, lhe oferecem. Por vezes recebe também café e refeições do McDonalds trazidas pelo staff do aeroporto com quem foi travando amizade.

Hassan Al Kontar está impedido de sair o aeroporto da capital da Malásia desde 7 de março deste ano, quando foi impedido de embarcar num voo de uma companhia aérea turca que fazia a ligação ao Equador. Na altura não lhe foi dada qualquer justificação e o bilhete não foi reembolsado, tendo perdido assim grande parte das suas poupanças.

Exilado por ser pacifista

O cidadão sírio vive em exílio desde 2011 e teme voltar ao país de origem porque corre o risco de ser preso por se ter recusado a juntar ao exército e participar na guerra civil que deflagrou na Síria em março desse ano. “A Síria está fora de questão, mesmo que tenha de ficar aqui para sempre. Eu não quero ser parte desta luta, eu não quero matar ninguém. Também não quero ser morto. Esta não é a minha guerra”, disse ao The Guardian.  Em declarações à Reuters acrescentou: “Não quero ser uma máquina de matar, destruindo a minha casa e causando mal ao meu povo”.

Al Kontar emigrou para os Emirados Árabes Unidos em 2006, onde viveu durante uma década e trabalhou na área do marketing. O visa expirou em 2016, depois de a embaixada síria se ter recusado a renovar o seu passaporte. Hassan decidiu permanecer no país ilegalemente e acabou por ser deportado para a Malásia, um dos 35 países que concedem vistos temporários a cidadãos de passaporte sírio.

Hassan permaneceu ilegalmente na Malásia para além do visto de 30 dias. Tentou sem sucesso entrar no Equador e Camboja. Na primeira tentativa, não pode embarcar no avião e na segunda não lhe foi concedida entrada, sendo obrigado a voltar ao aeroporto da Malásia onde permanece desde então.

A situação do exilado sírio já chamou a atenção de vários corpos governativos e ONGs que lhe ofereceram soluções temporárias para o problema. Apesar de agradecer, Hassan continua investido em encontrar uma solução permanente. “Não sei o que dizer ou o que fazer. Preciso de uma solução, preciso de um lugar seguro onde possa estar legalmente, com trabalho ”, afirmou.

Al Kontar terá rejeitado também entrar na Malásia como refugiado, porque este país não é signatário da Convenção de 1951 das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados que lhe garantiria os direitos enquanto refugiado e trabalhador no país. “Ofereceram a hipótese de ficar o tempo que eu precisar, mas não posso trabalhar e não posso ter o estatuto de refugiado com um visto de refugiado, visto de residência ou visto permanente.”

Um grupo de voluntários do Canadá tomou conhecimento da situação e angariou 17 mil dólares para que Hassan Al Kontar pudesse viajar para o país. O pedido oficial para a entrada do refugiado já foi submetido, mas o processo demora 26 meses. O grupo criou então uma petição online para que o Ministro da Imigração interceda por Hassan junto do Governo canadiense. A petição reuniu já cerca de 23 mil das 25 mil assinaturas necessárias.