Reportagem em Mae Sai, Tailândia

Estávamos em finais do mês de junho e Poom Chai tinha acabado de chegar de uma missão na China, com a associação cristã para a qual trabalha. Na sua terra natal, em Mae Sai, um burburinho começou a correr e espalhou-se como uma fagulha numa floresta. Doze crianças e um treinador da equipa de futebol local, os Moo Pa (“Javalis Selvagens”) estavam perdidos na gruta de Tham Luang, depois de terem ido explorar o local, a seguir a um treino.

“Não os conheço pessoalmente, mas conheço quem os conheça”, explica Poom. E, em Mae Sai, não há como escapar ao tema: “Toda a gente falava disto!”

Agora, quase três semanas depois de ter regressado ao seu país, os rapazes não só foram encontrados como foram salvos numa das missões de resgate mais arriscadas de que há memória. No dia seguinte à boa notícia, Poom entra num 7-Eleven (a cadeia de lojas de conveniência que prolifera na Tailândia), depois de um dia de trabalho, trazendo a filha pequena pela mão. Tem sido assim desde que o que aconteceu em Tham Luang acabou num final feliz: a vida retoma o ritmo habitual em Mae Sai. As crianças saem da escola e vão a pé até casa, os adultos pegam nas motas e apressam-se a ir comprar o que falta para o jantar. Tudo está bem quando acaba bem e amanhã vai ser outro dia.

Como a maioria dos tailandeses locais, também este missionário se sente “orgulhoso” pela forma como a Tailândia lidou com o caso. “Deu outra imagem do país, diferente da que tínhamos até agora”, assegura. O esforço conjunto de uma equipa de mergulhadores, fuzileiros, médicos e forças de segurança tailandesas e internacionais assegurou um plano milimétrico, que foi sendo aperfeiçoado à medida que a operação avançava. O resultado foi muito positivo, apenas manchado pela morte de um dos mergulhadores tailandeses no local,  dias antes do resgate. O risco foi muito, como provam as notícias surgidas hoje — o sucesso da operação pode ter dependido não só de uns centímetros de corda como de uma questão de segundos.

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Como os últimos 50 centímetros de uma corda salvaram os rapazes da gruta. Os detalhes de um resgate quase impossível

“Isto mostrou que somos um povo muito unido. E ficámos tão felizes por eles terem saído bem…”, resume Poom.

A grande agitação, agora, será quando os “13” regressarem à sua terra, saídos do hospital. Ninguém sabe ao certo quando isso será, mas todos já olham para o futuro. Poom arrisca uma previsão: “Acho que quando eles chegarem vai haver dois grupos de pessoas“, diz. “O primeiro vai encher as crianças de amor e de presentes. O segundo vai dizer que eles devem receber algum tipo de ‘castigo’ — não um castigo pesado, mas uma espécie de lição.”

Pessoalmente, e talvez por também ele ter uma filha, Poom afirma incluir-se no segundo grupo de pessoas. “Não podem voltar a entrar crianças naquela gruta, como elas gostam de fazer”, alerta, acrescentando que, quando os rapazes entraram na gruta, já tinha havido avisos das autoridades para não ir a Tham Luang naquela altura. “É que isto não pode mesmo acontecer outra vez.”