A próxima cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) vai acolher pelo menos seis novos membros observadores, dinâmica que, para o chefe da diplomacia cabo-verdiana, significa um momento de viragem para a consolidação da organização.

A ilha cabo-verdiana do Sal acolhe a 17 e 18 de julho a XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, evento que marca a passagem da presidência do Brasil para Cabo Verde, que assumirá os destinos da organização nos próximos dois anos.

Em entrevista à agência Lusa, antecipando a realização da cimeira, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, mostrou-se convicto de que a CPLP será “uma grande organização no futuro”. “Veja-se a dinâmica que estamos a ter com as candidaturas de vários países a membros observadores. Temos mais observadores do que Estados-membros. É um sinal de vitalidade da CPLP. Na cimeira do Sal, vamos acolher como observadores Andorra, França, Luxemburgo, Reino Unido, Itália, Argentina e provavelmente a Sérvia e o Chile, cujos dossiers estão em fase de conclusão para serem validados”, disse Luís Filipe Tavares.

“Acredito que esta dinâmica vai trazer uma nova vida à organização. Esta presidência de Cabo Verde pode ser um momento de viragem numa perspetiva da consolidação da CPLP”, acrescentou.

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O ministro avançou ainda que Cabo Verde vai levar à cimeira “três grandes declarações” de acordo com o lema escolhido para a presidência cabo-verdiana: Pessoas, Cultura, Oceanos. “Vamos apresentar uma declaração na área da mobilidade das pessoas, cujo conteúdo ainda estamos a negociar, mas que, de uma forma muito genérica, visa incentivar os Estados, com o secretário executivo e a presidência da CPLP, a fazer avançar o dossier, a trabalhar para que haja mais circulação e mobilidade”, explicou.

No domínio da cultura, o governante disse que a presidência cabo-verdiana dará “uma atenção muito particular” à promoção da língua portuguesa.”Vamos levar algumas iniciativas para as Nações Unidas para um cada vez maior reconhecimento da língua portuguesa no quadro das organizações internacionais. Há várias organizações internacionais em que a língua portuguesa tem um caminho a fazer para se afirmar como língua de cultura e conhecimento e uma língua que federa povos, países, hábitos”, afirmou.

Cabo Verde irá ainda apresentar a proposta de criação de um mercado comum cultural e das artes no espaço lusófono, uma proposta que, segundo Luís Filipe Tavares, “já está muito avançada”. “Esta é uma área que podemos pôr em cima da mesa muito rapidamente, chegarmos a um acordo com os demais Estados-membros e fazer avançar”, considerou.

Segundo o ministro, será ainda apresentada uma outra declaração na área da economia azul e da gestão dos oceanos. “As alterações climáticas têm impactos negativos em vários dos países da CPLP, nomeadamente nos pequenos Estados insulares como Cabo Verde, e por isso vamos produzir uma declaração e depois haverá programas, projetos e ações concretas que serão desenvolvidos para darmos corpo a esse tema importante que são os oceanos”, disse o ministro.

“Se conseguirmos avançar muito bem nas três áreas que definimos, nomeadamente naquela que é para os cidadãos a mais importante, que é a que tem a ver com a mobilidade de pessoas e bens, estaremos a dar um grande contributo. Se avançarmos bem nesta área consideraremos a nossa presidência um sucesso”, concluiu.

Instado a fazer um balanço sobre a presidência brasileira da CPLP, que agora termina, o ministro referiu que foi positivo, apesar da “tremenda crise” política no Brasil. “O Brasil deu contributo muito importante para a afirmação” da organização, considerou, destacando os avanços no plano da agenda 20/30 de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, e o trabalho na área da cultura e da educação.

Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.