O dia era 11 de junho, o jogo o Inglaterra-Rússia, do grupo B do Campeonato da Europa de 2016. Horas antes, fora do recinto, uma autêntica batalha campal: centenas de hooligans russos avançavam nas ruas de Marselha levando à frente qualquer inglês que encontrassem pelo caminho. Tudo servia de arma de arremesso – garrafas, cadeiras e até mesas de esplanada. As autoridades estavam perplexas com aqueles atos, que qualificaram de “ultra-violentos” e “ultra-rápidos”.

As imagens daqueles homens ensanguentados geraram a dúvida, na opinião pública, da capacidade de a Rússia organizar um Mundial (sendo que antes ainda teriam a Taça das Confederações como teste, em 2017) e foram o alerta, mais um, para a necessidade de combater a violência nos estádios de forma severa, adensado pelos problemas registados em jogos das competições europeias.

Em Samara, como nos restantes recintos, havia centenas e centenas de agentes em todos os encontros do Mundial (Michael Steele/Getty Images)

A Rússia tentou dissipar as dúvidas. Para começo de conversa, as autoridades procuraram a colaboração de outros países, caso do Reino Unido, tradicionalmente associado a movimentos hooliganistas: o Ministério do Interior britânico obrigou mais de 1.300 adeptos considerados violentos a entregarem os passaportes (de forma provisória), como forma de os impedir de viajar para a Rússia. Quem não cumprisse, tinha de pagar uma multa na ordem dos 5.500 euros ou sujeitar-se a seis meses na prisão.

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Diz-me que és, dir-te-ei se podes entrar no estádio

Outra medida de segurança que se tem revelado eficaz no combate à violência no Mundial é o chamado ‘Fan ID’, o passaporte de adepto que já esteve em utilização na Taça das Confederações, no ano passado. Qualquer adepto que queira comprar bilhete para o jogo, tem de fazer o registo no site – sendo que os adeptos considerados perigosos são bloqueados nesse processo. Foi o caso de Alexander Shprygin, conhecido ‘ultra’ russo. “A minha identificação e a de umas mil pessoas foi invalidada”, confirmou ao jornal La Vanguardia. “Acredito que não haverá nenhuma luta porque a polícia vai intervir imediatamente. O Campeonato do Mundo na Rússia vai ser um dos mais seguros da história do torneio“, acrescentou ainda antes de arrancar a prova.

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Ora, o reforço policial foi outra das medidas implementadas – talvez a mais óbvia, até. Um responsável do Ministério do Interior britânico, citado pela agência Reuters, explicou que existe um polícia a cada 20 metros em todas as 11 cidades que recebem jogos do Mundial. O mesmo responsável explica que as autoridades foram especialmente instruídas para estar com todos os olhos em cima dos adeptos ingleses, em relação aos quais havia mais receio de desacatos. Aliás, houve uma cooperação entre os dois países também neste aspeto, já que polícias russos viajaram até Inglaterra para observar a forma de atuação das autoridades britânicas e polícias ingleses foram até à Rússia discutir a melhor forma de agir perante os adeptos mais violentos.

Multas até 23 mil euros

O reforço das punições por desacatos foi outra das medidas tomadas. Por exemplo, quem vender bilhetes falsos pode sujeitar-se a uma multa de 23.500 euros por cada entrada, enquanto o ataque a um agente de autoridade vale, nada mais nada menos do que passar até dez anos atrás das grades. Os confrontos físicos como ocorreram em Marselha, em 2016, também têm mão pesada das autoridades: oito a dez anos de cadeia. E até os pequenos desacatos dão direito a ver o mundo aos quadrados: 15 dias de prisão. Já o hooliganismo leve é punido com de cinco anos de cadeia.

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