Entre 2011 e 2014, a Aston Martin produziu o Cignet, um pequeno veículo citadino destinado aos proprietários dos grandes e potentes Aston, ideal quando, por exemplo, pretendiam ir apenas comprar tabaco. Não faltavam contudo más-línguas que acusavam o Cignet de ser o Aston Martin para oferecer aos filhos e às amantes. Seja por falta de interesse de uns ou de outros, a verdade é que o pequeno utilitário, de aspecto “delicioso” e que na realidade era uma versão mais bonita e com melhores acabamentos do Toyota iQ – até na mecânica, pois montava um quatro cilindros com 1,3 litros e 98 cv –, foi descontinuado. Até agora.
A Aston Martin é um dos fabricantes mais reputados do momento, produzindo desportivos com raça, mas sobretudo a transbordar de charme. A Ferrari e a Lamborghini podem ultrapassar a Aston em potência, (baixo) peso e performances, mas o fabricante inglês ganha-lhes com avanço em estilo e classe. E, para os mais exigentes, a marca britânica criou ainda a Q – recorda-se daquele cientista louco que criava as armas e os carros mais cool para o agente 007? –, cuja função é materializar mesmo o sonho mais arrojado, e até mesmo tresloucado, de qualquer um dos seus clientes.
É aqui que entra o Cignet. Apesar de já não ser fabricado, surgiu um cliente, com bom gosto e uma carteira que lhe permite dar largas à sua criatividade, que resolveu pedir – e pagar – à Aston Martin que lhe criasse o melhor utilitário do mundo. Um que fosse pequeno e ágil, bom nas ruas estreitinhas e fácil de estacionar (o Cignet tem apenas 2,98 m de comprimento, apenas mais 29 cm do que o Smart Fortwo), mas que não fosse um pastelão quando a pressa aperta e as condições permitem acelerar. E, já que estavam com a mão na massa, um veículo pequeno que tivesse um grande motor, com um roncar possante, que animasse o condutor.
A divisão Q deitou as mãos à obra e a primeira alteração foi destronar o pequeno quatro cilindros 1,3 litros e montar no seu lugar, não sem alguma dificuldade, um imponente V8 atmosférico com 4,7 litros, herdado de um antigo Vantage S. Acoplada ao motor, agora montado em posição longitudinal, veio a caixa de velocidades do Vantage S, automática de sete velocidades, o que obrigou a abrir mão da tracção à frente dos 300 Cignet que foram fabricados e a trocá-la por uma mais funcional – e divertida – tracção traseira.
Sobre a balança, o Cignet V8 acusa 1.375 kg (pouco acima dos 1.000 kg originais), mas o Hulk dos citadinos tem agora uma distribuição do peso ideal pelos dois eixos, com 50% a incidir sobre cada um deles, o que o favorece em termos de comportamento, bem ao contrário do que acontecia até aqui. A suspensão também evoluiu, sendo agora de triângulos sobrepostos à frente e atrás, tal como evoluíram os travões, com uns discos impressionantes e umas maxilas de meter respeito, que só cabem por estarem montadas em jantes de 19 polegadas.
Com todo este cocktail, o Cignet V8 é capaz de atingir uns assustadores 274 km/h, isto depois de passar pelos 100 km/h ao fim de apenas 4,2 segundos, o que o torna num superdesportivo de respeito. Preço é que não há, pois o cliente que o encomendou quis apenas um exemplar, sem que fossem fornecidos quaisquer pormenores. Isto apesar da curiosidade que suscitou quando apareceu em público pela primeira vez, no Festival de Velocidade de Goodwood.
When you absolutely, positively must have the fastest, most compact city runaround in the paddock… ladies and gentleman we give you the @astonmartin V8 Cygnet. A one-off built for commission.pic.twitter.com/JEOQ1SG8Ze
— Aston Martin Racing (@AMR_Official) July 12, 2018