Angelique Kerber tinha o serviço para fechar o encontro mas parecia que cada uma daquelas bolas que saíam da sua raqueta pesavam chumbo. E pior ficaram quando Serena Williams, após uma jogada fácil falhada, arriscou no segundo serviço da alemã e colocou o resultado em 30-30. A germânica não tremeu, fechou mesmo o jogo, alcançou a primeira vitória da carreira na relva de Wimbledon e caiu no chão, em lágrimas. Levantou-se, com a mão nos olhos tentando travar as lágrimas, e nem precisou de chegar à rede para cumprimentar a finalista derrota: com a maior das tranquilidades, a mesma que Kerber teve para alcançar a vitória, a americana deslocou-se ao outro lado do court para dar os parabéns de forma sentida à adversária.

“Foi um torneio fantástico para mim, fiquei muito feliz por chegar onde cheguei e não posso estar desapontada. Super Mulher, Super Mãe? Não, sou só eu… Para todas as mães aqui, eu tentei mas ela jogou muito bem e não foi possível. Angelique é uma pessoa fantástica, uma grande amiga e só posso dar os parabéns de novo. Sei que vais desfrutar do triunfo tal como eu também já desfrutei”, comentou no final Serena Williams, aplaudida de pé num court principal como sempre cheio (algo que nem o último encontro da seleção inglesa no Mundial da Rússia alterou) após perder por um duplo 6-3.

“É um sonho que se torna realidade. Mas primeiro tenho de falar para a Serena: és uma grande, grande pessoa, uma campeã. Estás a regressar e és uma inspiração para toda a gente que te vê. Tenho a certeza que vais ganhar o teu próximo Grand Slam muito em breve, por isso parabéns por este grande regresso”, começou por destacar Kerber. “Sabia que tinha de jogar o meu melhor contra uma campeã como a Serena. Era a minha segunda vez aqui, vou recordar para sempre todos os momentos até porque nenhuma jogadora alemã ganhava aqui desde a Steffi [Graf, em 1996]. Obrigado à minha equipa, à minha família, aos meus amigos que me dão tanto apoio. Sem vocês, não estaria aqui. A minha mãe? Acho que está sempre nervosa, por isso é que evitei olhar para ela durante o jogo para ver se mantinha a minha concentração…”, acrescentou.

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Como explicava este sábado o El País, Serena Williams, que voltou a jogar em janeiro a um nível que a própria admitiu estar muito longe do que queria após ter sido mãe (e com as todas as complicações que daí vieram, tendo mesmo corrido risco de vida por todas as complicações pós-parto que sofreu), alterou alguns aspetos: mantendo a direita fortíssima de sempre, deixou de ser tão agressiva em court, melhorou o jogo de pés e conseguiu ir preparando a vantagem dos pontos que antigamente não demorava a fechar. Foi por isso, por exemplo, que fez muito poucos erros forçados no trajeto até à final; foi por isso, sobretudo, que perdeu este encontro decisivo, falhando demasiadas bolas que em condições normais tinham o seu nome escrito. Assim, e frente à mesma adversária que batera em 2016, na última participação, acabou por vacilar. Mas nem por isso foi “derrotada”.

Ser mãe é fantástico mas tive um parto complicado. Não é segredo para ninguém que tive uma recuperação muito dura e perdi a conta às operações que tive de fazer, converteram-se numa rotina. Houve uma altura em que não conseguia sequer andar bem. Muita gente dizia que devia estar na final, mas para mim tudo isto agora é prazer e diversão porque há menos de um ano passei por muitas coisas”, reconhecera antes da final a jogadora americana de 36 anos.

Serena Williams ganhou três vezes em Roland Garros. Ganhou seis vezes o US Open. Ganhou sete vezes o Open da Austrália. Procurava agora a oitava vitória em Wimbledon. Serena, por si só, será sempre uma Super Mulher no ténis e no desporto em geral. Com o tempo, tornou-se também uma figura icónica da sociedade. Agora, fica sobretudo de sorriso rasgado quando lhe chamam Super Mãe. E gosta desse papel e de todas as vitórias que o crescimento de um bebé pode trazer, mesmo se não tiver a oportunidade de acompanhar, literalmente, todos os passos do crescimento – no final da última semana, Olympia deu os seus primeiros passos quando estava a treinar, chorou por isso, recebeu inúmeras mensagens de mães a quem aconteceu o mesmo e acabou a confessar à imprensa que, apesar disso, consegue passar muito tempo com a filha.

A verdade é que, quando ninguém esperava, e depois de ter sido obrigada a abandonar Roland Garros na quarta eliminatória por lesão, a americana chegou à final. E quem a conhece bem desfez-se em elogios, numa reportagem da BBC. “Ela tem muita presença, uma aura. Basta o nome dela ser mencionado e as pessoas ficam intimidadas quando entram no court para jogar contra ela”, destacou a capitã britânica Anne Keothavong. “Não interessa se és uma tenista profissional ou uma mãe com outro trabalho, é igual”, referiu também ela uma jogadora que ganhou um Grand Slam depois da maternidade. “O que mais impressiona nela é a vontade de competir e o desejo de ganhar, o que mostra muito sobre a pessoa que é”, salientou a espanhol Conchita Martínez. “Ela não é humana, é uma heroína”, concluiu a antiga campeã francesa Marion Bartoli.

Kerber, de 30 anos, que conta agora com três Grand Slams (tinha ganho o Open da Austrália e o US Open em 2016) e que já chegou a liderar o ranking mundial, teve um ano de 2017 para esquecer mas regressou da melhor forma e arrancou uma exibição quase perfeita frente a Serena Williams. Só assim conseguiu contrariar Bartoli e mostrar que a americana também é humana. Mas percebe-se pelo discurso no final que, também para si, a jogadora de 36 anos é uma Super Mulher.