Assim que soou o apito final em Moscovo, os jogadores franceses pareciam setas a correr em todas as direções. Acabavam de se tornar, 20 anos depois, campeões do mundo, deixando para trás uma Croácia que, só de jogar a final, já fez história. Nesse momento, o momento em que se ouviu o apito de Néstor Pitana, dois presidentes de países rivais (apenas em campo) abraçavam-se na tribuna; no relvado também os havia, aos abraços. Griezmann, por exemplo, chorava nos braços de Hernández, enquanto tentava tapar o rosto com a camisola.

Matuidi aterrava no chão de joelhos, a gritar palavras para o céu, Giroud jorrava lágrimas a olhar para as bancadas, antes de ser abraçado por Didier Deschamps, que lhe dava palmadas nas costas. Mendy tirava uma selfie com Griezmann. Rami puxavas as pontas do bigode, virado para a câmara, e logo depois sacava do telemóvel para filmar o momento. Seria para enviar o vídeo para a namorada Pamela Anderson? Entretanto, Pogba teve o seu momento: virado para a bancada, gesticulou. E os seus gestos diziam: “Falem à vontade, não vos ouço, eu estou aqui” – e nesse “eu estou aqui” até fez lembrar Cristiano Ronaldo. Logo depois, o médio do Manchester United abraçou Umtiti com tanto vigor que até ao atirou ao chão.

Do outro lado, os rostos eram fechados. Um misto de tristeza e incredulidade. Modric não esboçou um único sorriso. Parecia atónito. Dalic estava imóvel. Pouco depois, teria a atitude que se impunha, que sempre se impõe a um líder: com todo o staff croata em círculo, disse palavras ao grupo – enquanto Subasic chorava – e, todos juntos, entoaram um grito de guerra. Nisto, já Deschamps tinha ido ao ar, uma e outra vez, enquanto a chuva de champanhe – mais tarde seria mesmo chuva à séria e da grossa – lhe pingava o fato escuro.

Modric a ser consolado por Emmanuel Macron, perante o olhar emocionado da presidente croata, Kolinda Grabar-Kitarović. (JEWEL SAMAD/AFP/Getty Images)

E por falar em líderes e nas suas atitudes, outro momento salta à vista. Deschamps, o selecionador francês, cumprimenta os jogadores croatas, um a um. Demora-se especialmente com Subasic. Abraça-o e dá-lhe pancadas de incentivo.

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Estava próximo o momento em que se iam entregar as medalhas, aos vencedores e aos vencidos. E Domagoj Vida não se conseguia recompor. Sentado no chão, com uma bandeira croata pousada sobre as costas, repousava o rosto nos joelhos sem acreditar que tinha perdido a oportunidade, única até hoje, de se tornar campeão do mundo.

Ao mesmo tempo, entrava a taça em ouro de 18 quilates, carregada por Phillipp Lahm, capitão da seleção alemã que foi campeã em 2014, e pela modelo russa Natalia Vodianova. Atrás vinham Gianni Infantino, presidente da FIFA, Vladimir Putin, Emmanuel Macron e Kolinda Grabar-Kitarović, presidentes de Rússia, França e Croácia. Mbappé era eleito melhor jogador jovem do Mundial, foi ao palanque receber o prémio, mas não passou cartão a Macron, que ficou a falar para o boneco: o jogador queria mesmo era cumprimentar a presidente croata. E ela queria cumprimentá-lo a ele. E a todos. Até aos árbitros. Chegou a fazer uma festa na cabeça de Macron. Poderia levar o prémio fair play, a par de Deschamps.

Paul Pogba deixou uma mensagem à bancada. Em gestos, disse “Falem à vontade, não vos ouço, eu estou aqui” (ODD ANDERSEN/AFP/Getty Images)

Modric é eleito o melhor jogador do Mundial, vai também ele ao palanque, mas não se abriu um só sorriso no rosto do croata. Nem no dos companheiros de equipa, que, pouco depois, lhe seguem os passos para receber as medalhas de finalista vencido. Nisto, começa a chover. Torrencialmente. Um funcionário logo se apressa a proteger Putin, abrindo-lhe um guarda-chuva em cima da cabeça. Só a ele. É preciso esperar um valente bocado até Infantino, Macron e Kolinda também estarem ao abrigo da chuva.

Estava na hora de consagrar os grandes vencedores. No palanque, Macron abraçou demoradamente Griezmann e, sobretudo, Deschamps. Foi um abraço em dois atos, com o presidente francês a dizer-lhe coisas ao ouvido e a segurar-lhe a cabeça. Tanto demorou o momento, que deixou Lloris pendurado, na fila para abraçar os distintos convidados. Era tempo de dar por encerrada a festa. Infantino pegou na taça – pelo caminho foi interpelado por Kolinda, que quis beijar o troféu – e depositou-a nas mãos do guarda-redes e capitão. Levantou-se o objeto dourado, saíram fumos e confétis. Afinal, era uma festa. Daquelas que acontecem de quatro em quatro anos. Em 2022, no Qatar, há outra.