O Festival da Velocidade de Goodwood realizou-se mais uma vez este ano e, curiosamente, dois dos veículos que mais atenção suscitaram foram igualmente dois dos mais lentos. Referimo-nos ao Ford Mustang, tornado autónomo pela Universidade de Cranfield e pela Siemens, e ao Roborace, um veículo 100% eléctrico e sem condutor, que irá animar, mais cedo ou mais tarde, corridas de carros autónomos a competir nos mesmos eventos que acolhem a Fórmula E, específica para fórmulas eléctricos, mas com condutor.

A exibição do Ford Mustang foi preocupantemente triste, pelo nível de desempenho ridiculamente baixo que revelou, pois o carro não parava de andar aos esses e bater nos fardos de palha. A velocidade nunca ultrapassou aquilo que parecia 30 km/h e o condutor que ia sentado atrás do volante, para intervir caso fosse necessário, acabou por ter de intervir não só em todas as curvas (são só nove) como até nas rectas.

Parem tudo! Este carro autónomo está bêbado?

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O Roborace revelou efectivamente outro nível de automatismo, pois se o Mustang tem a rampa de Goodwood digitalizada e se guia apenas pelo GPS e uma câmara, o Roborace recorre a 18 sensores ultrassónicos, dois sensores ópticos para medir velocidade, seis câmaras e um LiDAR. O objectivo é cada equipa receber o seu Robocar, chassi e motores, para depois desenvolver e aperfeiçoar os automatismos que dirigem o carro. E as provas prometem ser tão animadas quanto aquelas com condutor, uma vez que na única competição/demonstração até aqui realizada, em 2017 na Argentina (e ainda com os protótipos DevBot), um deles despistou-se, para gáudio da multidão. Noutra ocasião, em Hong-Kong, o DevBot defrontou um ser humano (não um piloto, mas a apresentadora da Fórmula E, Nicki Shields) e perdeu. Mas teve um desempenho minimamente digno, como pode ver aqui:

O Roborace pesa 1.350 kg e está equipado com quatro motores eléctricos (um por roda, com 135 kW cada, ou seja 184 cv) alimentados por uma bateria de 58 kWh, dispondo de uma potência total em contínuo de 500 cv. Extremamente aerodinâmico, tanto mais que nem necessita de arranjar espaço para sentar o piloto, o Roborace anuncia uma velocidade máxima de 300 km/h. Só que não foi nada disso que vimos em Goodwood.

O carro autónomo fez todo o percurso pelo centro da estrada, relativamente estreita em alguns locais, por sinal, sem evidenciar trajectórias ou qualquer outro tipo de atitude desportiva que diferencie o Roborace do carro do jardineiro. Depois, com o potencial que o carro de competição autónomo anuncia, a começar pelos 300 km/h de velocidade máxima, não se pode dizer que o público – e nós próprios – tenha ficado impressionado pelo ritmo demonstrado, especialmente tendo em conta os dois anos de desenvolvimento e o potencial da máquina. É certo que facilmente atingiu o triplo da velocidade do Mustang, mas o Roborace com piloto a bordo seria outra conversa. O carro de competição autónomo aborreceu muita gente, mais precisamente aqueles que querem continuar a torcer por Hamilton ou Vettel, em vez dos chips e os algoritmos da Waymo ou da Nvidia, mas ainda falta um longo caminho a percorrer até os autónomos revelarem um nível minimamente interessante, ou melhor dizendo, emocionante. Veja aqui como correu a subida do Roborace em Goodwood: