O PCP enviou à família de João Semedo, que morreu esta terça-feira vítima de cancro, e à direção do Bloco de Esquerda “as suas condolências”. A curta nota de duas linhas foi até ao momento a única reação da parte do Partido Comunista à morte do ex-militante. Por altura do falecimento de Miguel Portas, que foi também membro do PCP, foi emitido precisamente o mesmo comunicado.

Perante a notícia do falecimento de João Semedo, o PCP endereça à família e à Direção do Bloco de Esquerda, as suas condolências”, lê-se na nota do PCP.

A vida política de João Semedo, filho de um militante do PCP, começou precisamente no Partido Comunista Português. A ligação ao PCP, que durou várias décadas, começou em 1972, através da União de Estudantes Comunistas (Semedo chegou a fazer parte da Comissão Central), quando ainda era estudante. Sempre destemido, enquanto membro do PCP, participou em atividades de agitação, propaganda e também no apoio aos funcionários clandestinos. Foi preso em 1973, quando distribuía panfletos a exigir eleições livres. Passou duas semanas em Caxias, recusando-se a assinar o documento elaborado pela PIDE no qual confessava o envolvimento em atividades subversivas e se comprometia a abandoná-las.

Depois do 25 de Abril, tornou-se funcionário do partido a convite de Joaquim Pina Moura e Jorge Araújo. Nascido e criado em Lisboa, mudou-se para o Porto em 1978, trabalhando “com intelectuais, artistas, professores, quadros técnicos”. Desempenhou também “tarefas relacionadas com a política de saúde, as relações com a imprensa e, já mais tarde, na organização da cidade do Porto”, como contou ao Observador. Demitiu-se como funcionário do partido e como membro do Comité Central em 1991, depois de votar contra Raimundo Narciso, José Luís Judas, Mário Lino e Barros Moura, defendendo que as questões políticas devem ser resolvidas politicamente e não administrativamente.

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Apesar das divergências, a saída definitiva do PCP só aconteceu no final dos anos 90, depois da morte de Luís Sá, que encabeçava um movimento de renovação dentro do partido. Depois de uma colaboração de alguns anos com o Bloco de Esquerda como independente, João Semedo tornou-se militante do partido.

CGTP-IN lembra o “militante antifascista” e o “homem de convicções e de causas”

Num comunicado emitido já durante a tarde desta terça-feira, a CGTP-IN recordou “o homem que lutou até ao fim da sua vida por um Portugal soberano, de progresso e justiça social”, homenageou “o profissional de saúde, que esteve na função do Sindicato dos Médicos do Norte”, o político” e apresentou as suas condolências à família e ao Bloco de Esquerda.

Recordando o “militante antifascista” e o “homem de convicções e de causas”, a CGTP descreveu João Semedo como “um lutador pela defesa da liberdade e a consolidação da democracia e um interveniente ativo na vida política, primeiro no PCP e depois no BE, pela construção de uma política de esquerda, alicerçada nos direitos, liberdades e garantias constitucionais emergentes da Revolução de Abril”.

“O seu apoio à luta pela valorização do trabalho e dos trabalhadores e à defesa e melhoria das funções sociais do Estado, com particular destaque para o Serviço Nacional de Saúde onde, ainda recentemente, foi co-autor, com o saudoso António Arnault, de uma proposta de revisão da Lei de Bases de Saúde, releva o compromisso de uma vida com o serviço público, o bem-estar da população e o desenvolvimento do país”, salienta ainda a mesma nota.

Artigo atualizado às 14h44 com o comunicado da CGTP-IN