A presidência brasileira do BRICS dará continuidade a iniciativas em áreas como finanças, saúde, ciência, tecnologia, inovação e infraestruturas, inaugurando a segunda década do grupo das cinco principais economias emergentes, em 2019, disse esta terça-feira à Lusa fonte diplomática.

Em entrevista à Agência Lusa, o embaixador do Brasil na África do Sul, Nedilson Jorge, disse que o governo brasileiro pretende dar continuidade, ainda, ao tradicional diálogo de ‘outreach’, iniciado pela África do Sul na 5.ª Cimeira de Durban, em 2013, ao convidar os países da esfera regional brasileira para a 11ª Cimeira BRICS (organização que junta o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), no próximo ano.

“Após as eleições brasileiras, em outubro próximo, vamos elaborar, com mais detalhes, o programa e as prioridades da presidência brasileira do BRICS”, disse Nedilson Jorge. A África do Sul é um parceiro prioritário do Brasil, com quem tem uma “Parceria Estratégica”, assinada em 2010.

“Isso significa que temos iniciativas bilaterais em diversos setores, que vão desde Defesa até políticas sociais. O facto de sermos países em desenvolvimento, com desafios e potencialidades similares, é um grande estímulo para a cooperação bilateral”, sublinhou.

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No seio do BRICS, o Brasil é o terceiro maior parceiro comercial da África do Sul, depois da China e Índia, respetivamente, tanto em exportações como nas importações. A cimeira que tem início quarta-feira em Joanesburgo junta também, como países convidados Angola e Moçambique.

As principais exportações para o Brasil são os automóveis (primeira exportação significativa realizada em 2014), químicos, produtos agrícolas e aço, enquanto que nas importações contam-se os químicos de base, a carne de frango, açúcar e o aço, segundo dados fornecidos à Lusa pelo ministério de Comércio e Indústria da África do Sul (DTI, em inglês).

“Também vale ressaltar a importância da relação entre o Brasil e África do Sul no contexto multilateral, em que há constante articulação entre os dois países para iniciativas conjuntas em áreas como desenvolvimento, meio ambiente e desarmamento”, frisou o diplomata. “Estivemos juntos, por exemplo, no ‘core group’ de países que impulsionou a negociação do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, assinado no ano passado, em Nova York”, explicou.

Ao caracterizar o estado atual das relações politico-diplomáticas e de cooperação bilateral entre o Brasil e a África do Sul, o representante da diplomacia brasileira sublinhou que os dois países “mantêm uma relação bilateral muito dinâmica”, como parceiros estratégicos, que pode ser exemplificada pelo número de visitas de alto nível ocorridas nos últimos anos.

“A vinda do Presidente Michel Temer para a 10.ª Cimeira do BRICS será a quarta visita presidencial à África do Sul nos últimos oito anos, período em que também houve quatro visitas de presidentes sul-africanos ao Brasil. Isso demonstra que o interesse no estreitamento das relações entre os dois países vêm do mais alto nível e se traduz, também, em um volume de comércio crescente, atualmente na ordem de 2 mil milhões de dólares (1.8 ME) por ano”, precisou à Lusa.

Questionado sobre as linhas mestras e principais prioridades da política externa do Brasil, no que concerne à África do Sul e à região SADC, o embaixador Nedilson Jorge destacou que a política externa brasileira tem envidado esforços para promover o fortalecimento do comércio inter-regional.

“O maior exemplo disso é o Acordo de Comércio Preferencial Mercosul-SACU. O Acordo entrou em vigor em 10 de abril de 2016 e engloba 1.026 linhas tarifárias ofertadas pela SACU e 1.076 ofertadas pelo Mercosul, com margens de preferência de 10%, 25%, 50% e 100%”, explicou.

Nesse sentido, diversas áreas produtivas do Mercosul passaram a beneficiar-se de preferências comerciais com a África Austral, como é o caso dos setores químico, têxtil, siderúrgico, plástico, automóvel, eletrónico e de bens de capital, além de produtos agrícolas, concluiu o diplomata.

Nedilson Jorge é embaixador do Brasil na África do Sul desde 2016. Em trinta anos de carreira diplomática, serviu nas embaixadas do Brasil em Roma, Santiago e Buenos Aires, além de ter sido diretor do Departamento da África do Itamaraty durante seis anos (2010-2016).

A Embaixada do Brasil na África do Sul estima que a comunidade brasileira na África do Sul abranja 2 mil pessoas, incluindo empresários e funcionários de empresas multinacionais.