O Festival de Velocidade de Goodwood permitiu o encontro de dois veículos afastados por 110 anos de história e separados por toda a tecnologia que entretanto passou a estar disponível. E nem o facto de um ter condutor ao volante e o outro ser conduzido por um processador é, curiosamente, o elemento mais distintivo.

O Mercedes à época ainda dava pela denominação apenas de Benz e o modelo em causa era o 120 cv Grand Prix, aquilo que se poderia considerar a F1 da época. Estamos perante um verdadeiro carro de competição, que participou no Grande Prémio de França de 1908, onde conquistou a 2ª e a 3ª posições, tendo sido concebido pelo belga Louis Groulart.

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O roadster de dois lugares extraia 120 cv de um motor que se pode considerar king size. Apesar de ter apenas quatro cilindros, o Benz usufruía de uma unidade motriz com 12.076 cc, com a espectacular potência de 10 cv por litro. Isto equivaleria a ter um motor de F1 actual (V6 com 1,6 litros) com apenas 16 cv, quando todos eles ultrapassam os 900 cv. Parte da explicação para tão baixo rendimento pode ser encontrada junto da tecnologia utilizada no início do século XX, com uma árvore de cames lateral e apenas uma válvula por cilindro.

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Por comparação com o Benz de 1908, o Robocar de 2018 até parece de outro planeta. Trocou o ferro por fibra de carbono, para poupar no peso – pesa apenas 1.350 kg, incluindo os 58,5 kWh de baterias, que deverão pesar mais de 500 kg – e no lugar de um motor gigantesco a gasolina, com apenas 120 cv, monta quatro motores eléctricos de 184 cv cada, o que lhe dá um potencial de 736 cv, apesar de quando todos estão a trabalhar em conjunto, para empurrar o veículo, estarem limitados a 500 cv, o que ainda assim não o impede de alcançar 300 km/h.

Mas a particularidade mais interessante do Robocar é a ausência de condutor, sendo o modelo conduzido por um processador, que por vez “vê” a estrada e o que se passa à sua através de um LiDAR, seis câmaras, dois sensores ópticos e 18 sensores ultrassónicos.

Comparando os vídeos que registaram as subidas de ambos os modelos, separados por mais do que um século, é possível verificar que o Robocar ganha muito pouco ao seu “avô”, sobretudo por ter uma abordagem muito conservadora em curva e até nas rectas, onde nunca acelera francamente de forma a explorar os 500 cv. Isto por oposição ao condutor do Benz de 120 cv, que ‘esmifrou’ o carro de Grande Prémio como se ele fosse novo a estrear. Mas a realidade é que o Benz não vai ficar mais rápido com o tempo, ao contrário do que vai acontecer com o Robocar, que findo o festival de Goodwwod ficou de regressar à pista para tentar bater o recorde, mas já sem público, para deixar que continue a ser a Uber a única empresa a ter atropelado um ser humano com um carro autónomo.