A pergunta que João Oliveira endereça ao Executivo é longa, mas direta: “Que opção quer o Governo fazer quanto ao caminho a seguir? Quer prosseguir o caminho de defesa, reposição e conquista de direitos ou quer recuar? (…) ou quer dar a tarefa por terminada e passar a uma outra fase, esperando colher frutos do caminho feito de forma a desembaraçar-se daquilo que possa considerar um engulho para os seus objetivos?”. Num artigo de opinião que o líder parlamentar do PCP assina esta quinta-feira no jornal oficial do partido, o Avante”, as críticas ao PS e ao Governo de António Costa são constantes e cimentam a ligeira mudança de tom no discurso comunista em relação à atual solução governativa.

Sem se quer antecipar às respostas que possam eventualmente surgir por parte do Governo, o deputado não se mostra esperançoso. “As sucessivas declarações de membros do Governo acumulando justificações para travar a concretização de medidas tomadas ou para dificultar a resposta a outros problemas não são bom indicador”, escreve, numa clara referência às explicações que têm sido dadas por parte do elenco governativo para não aceder às exigências da esquerda – sendo o exemplo mais marcante a já célebre frase de António Costa quanto ao descongelamento das carreiras dos professores: “não há dinheiro”.

Já na passada terça-feira, o líder do grupo parlamentar do PCP tinha deixado no ar, numa conferência de imprensa de balanço do ano parlamentar, a ideia de que há dentro do partido uma crescente insatisfação quanto à atuação do Executivo. Em vésperas do início das negociações para o Orçamento do Estado de 2019, João Oliveira acusa o Governo socialista de “atender apenas aos resultados de sondagens”, em vez de responder “às justas reivindicações dos trabalhadores.”

PCP critica PS por impedir avanços mas não exclui acordos de futuro

Numa tomada de posição firme, antes das férias parlamentares, o PCP assume que não tem gostado de ver uma mudança de atitude por parte do Governo, que, segundo a ótica comunista, tem definido “como critério das opções políticas o agrado e o reconhecimento em Bruxelas.”

Com o PS na mira, João Oliveira não fecha a porta à prosseguição de um caminho em comum com os socialistas. A solução passa por continuar a aprofundar as “medidas de defesa, reposição e conquista de direitos, da conquista de novos avanços”, escreve. O nervosismo do PCP perante a abertura de António Costa ao diálogo com o PSD parece estar a toldar a tónica argumentativa comunista. Podem não passar de avisos, mas as recentes tomadas de posição do PCP prometem aquecer as negociações para o Orçamento do Estado para 2019 mesmo antes de terem começado.

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