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Verão, Gulbenkian e John Zorn. O que não pode perder no Jazz em Agosto

Este artigo tem mais de 5 anos

Dez concertos e um filme: estas são as sugestões do Observador para o festival que arranca esta sexta-feira. Há muito jazz ao ar livre para ouvir em Lisboa. A programação é dedicada à obra de Zorn.

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Para uma edição especial, a programação tinha de ser única. O redondo 35.º Jazz em Agosto não podia ser só mais um Jazz em Agosto, pelo que a organização do festival que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, decidiu montar uma edição dedicada a uma das maiores figuras da música underground norte-americana: John Zorn.

Orientar a programação em torno da obra de um único músico poderia ser arriscado, mas a profusão de projetos, bandas, composições, gravações e colaborações de John Zorn garante que a monotonia não tem lugar. Esta, por sua vez, só foi possível com uma vida dedicada à música, como assumia Zorn em 2013, em entrevista ao The New York Times:

“Fiz sacrifícios extremos para continuar a fazer o que faço. Tudo o que possa perturbar o meu foco em criar é cortado da minha vida. Às vezes é a família. Às vezes são os amigos. Às vezes é a aptidão para ter uma relação”.

A própria escolha de Zorn é um manifesto de intenções estéticas: embora em muitos projetos esteja próximo do jazz, o músico que toca, entre outros instrumentos, saxofone, explorou muitos géneros musicais ao longo da carreira, da música clássica à música eletrónica, do rock ao death-metal, do hardcore à soul-pop. Sempre com o seu cunho inovador, sempre à procura de trocar as voltas ao cânone, às notas musicais tocadas até à exaustão por muitos dos seus pares. Se isto é jazz, é jazz libertário e vanguardista, jazz como atitude exploratória e não como um género delimitado, jazz que se mistura e que por vezes mal se ouve, para abrir espaço a outros estilos.

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Como o The Guardian descrevia com grande acerto em 2012, ao longo da carreira, que já vai longa, o nova-iorquino de 64 anos (faz 65 em setembro) foi “capaz de habitar de forma virtuosa os universos dos músicos com quem trabalha, sejam eles quartetos de corda, grupos de música de câmara ou formações de metal experimental. Isto sendo ao mesmo tempo crítico, objetivo e criativo relativamente às convenções” desses estilos. Desta sexta-feira, 27 de julho, até ao domingo da semana seguinte, dia 5 de agosto, ouvir-se-á no Anfiteatro ao Ar Livre da Gulbenkian, sobretudo, mas também no Grande Auditório desta sala, muita música que desafia os cânones pop.

Multi-instrumentista mas mestre no saxofone, o nova-iorquino John Zorn, de 64 anos, compõe há mais de quatro décadas. A organização do Jazz em Agosto dedicou-lhe a programação este ano. @ Joaquim Mendes

Entre concertos de homenagens, interpretações da obra de Zorn, sessões de improviso musical e espetáculos que evocam a composição de bandas sonoras que popularizou o músico nos anos 1980, o Observador selecionou dez concertos para ouvir na Gulbenkian, a que se soma um filme de tributo ao músico. Pode parecer que o 35.º Jazz em Agosto é uma celebração do passado, mas a música que John Zorn gravou no século passado ainda hoje é futurista.

John Zorn e Thurston Moore

6.ª, 27/7, 21h30 / Anfiteatro ao Ar Livre

Para arrancar em grande o Jazz em Agosto, espera-se que com bom tempo já que o concerto é ao ar livre, eis uma colaboração única, de dois grandes inovadores do underground americano: Thurston Moore, guitarrista dos extintos Sonic Youth (entre outras coisas) e o próprio John Zorn. Os dois conhecem-se bem, gravaram por exemplo um álbum em 2013, “@”. Tal como o álbum foi gravado na hora, com muito improviso e sem grande edição, também o concerto resultará muito da inspiração do momento, num jazz-rock sem rede. Uma inspiração que a experiência e virtuosismo dos músicos impulsionam. O concerto era para ser em trio, mas o cancelamento de Milford Graves por motivos de saúde levou a uma mudança para duo. Ao guitarrista e ao saxofonista juntar-se-ão, contudo, vários convidados em palco: os guitarristas Matt Hollenberg e Mary Halvorson, os contrabaixistas Greg Cohen e Drew Gress e o baterista Thomas Fujiwara. O concerto, já esgotado, é descrito pela organização como uma sessão de improviso semelhante às que se ouvem habitualmente no the Stone, o bar e clube musical que Zorn gere em Nova Iorque.

Thurston Moore & John Zorn from Jorge Torres-Torres on Vimeo.

Mary Halvorson Quartet + Masada

Sáb., 28/7, 21h30 / Anfiteatro ao Ar Livre

A tradição musical judaica foi um dos muitos universos musicais pelos quais John Zorn se interessou ao longo da carreira — e que reinventou com cunho jazzístico. São composições do músico inspiradas por esse universo, pela música do Médio Oriente e pelo género musical Klezmer que os judeus inventaram na Europa de Leste, que se ouvirão na segunda noite do Jazz em Agosto. Ouvir-se-ão primeiro com o quarteto da guitarista Mary Halvorson (que inclui ainda o guitarrista Miles Okazaki, o contrabaixista Drew Bass e o baterista Tomas Fujiwara), a quem Zorn encomendou o 32º volume da sua série de composições Book of Angels, e depois com o grupo Masada, uma das formações que Zorn integrou ao longo da carreira e que, além dele, inclui o trompetista Dave Douglas, o contrabaixista Greg Cohen e o baterista Joey Baron. Jazz cósmico, pois claro.

“John Zorn (2016-2018)”, de Mathieu Amalric

Dom., 29/7, 18h / Grande Auditório

Com uma primeira versão apresentada pela primeira vez no ano passado, o filme do ator e realizador francês Mathieu Almaric (“O Estádio de Wimbledon”, “O Quarto Azul” e, mais recentemente, “Barbara”) sobre o músico foi prolongado recentemente e poderá ser visto este domingo, no Grande Auditório do edifício sede da Gulbenkian. O filme é descrito pela organização do festival como “um retrato íntimo do músico” e como “um diálogo contínuo, e que não terá nunca um fim, entre dois amigos”. Amalric estará presente na sessão.

O realizador francês Mathieu Amalric vai a Lisboa apresentar a nova versão do seu filme sobre John Zorn. @ DR

The Hermetic Organ

Dom., 29/7, 21h30 / Grande Auditório

John Zorn não se limita ao saxofone e Lou Reed, outra instituição (mais popular e canónica) da música norte-americana que com ele colaborou, elogiou-lhe em 2011 os dotes de organista. Neste concerto de domingo à noite, John Zorn troca o seu instrumento habitual pelo órgão de tubos e junta-se à improvisadora de música eletrónica Ikue Mori. O duo, que já colabora desde os anos 1980, apresenta a música do projeto discográfico The Hermetic Organ — em português, o órgão hermético. Com ecos de música ambiental, ao mesmo tempo cristalina e grandiosa, é música que não se presta a ser compreendida na totalidade mas que ressoa nos ouvidos mais abertos.

Bagatelles 1: Nova Quartet + Asmodeus

2.ª, 30/7, 21h30 / Anfiteatro ao Ar Livre

John Zorn foi tão importante pela música que gravou e tocou quanto pela música que compôs para outros. E essa serve só ponto de partida aos músicos que escolhe, como explicou Zorn ao The New York Times, em 2013: “O trabalho de um compositor é pôr algo num pedaço de papel que possa inspirar a pessoa que está a tocar”. O quarteto Nova e o trio Asmodeus são formações que o músico idealizou, para interpretar peças musicais que compôs nos últimos anos. Ao contrabaixista e baixista Trevor Dunn, presente nas duas formações, juntam-se o pianista John Medeski, o vibrafonista Kenny Wollesen e o baterista Joey Baron nos Nova Quartet, e o baterista Kenny Grohowski e o grande guitarrista Marc Ribot nos Asmodeus. Delicados e jazzísticos os primeiros, abrasivos e rock and roll os segundos, são coletivos que poderão fazer da noite de segunda-feira uma noite marcante desta edição do Jazz em Agosto.

Simulacrum

3.ª, 31/7, 21h30 / Anfiteatro ao Ar Livre

A dado ponto da carreira de John Zorn, o músico e compositor nova-iorquino rendeu-se à urgência das composições mais abrasivas. Nascidos na editora Tzadik, que Zorn fundou em 1995 e que serviu nas últimas duas décadas como centro de operações decisivo para os lançamentos independentes de Zorn, os Simulacrum exploram o rock como poucas formações. Power trio único e sem grandes travões, nos Simulacrum o órgão elétrico de John Medeski tem um papel decisivo, acrescentando tonalidades cósmicas e jazzísticas à força mais crua da bateria de Kenny Grohowski e da guitarra elétrica de Matt Hollenberg. Espera-se um concerto enérgico.

Slow Is Possible

5.ª, 2/8, 18h30

E agora, para algo completamente diferente, um projeto português, de que John Zorn não foi mentor e que atua três dias depois dos também portugueses The Rite of Trio. O jazz em português está bem representado e o crescimento dos Slow Is Possible nos últimos anos, também visível em palcos de outros festivais, aumenta a expectativa sobre o concerto do sexteto português. Se o nome é inspirado por uma peça de John Cage (“As SLow aS Possible”), um dos poucos inventores e vanguardistas musicais à altura de Zorn, no estilo a banda reclama influências do magnífico grupo que notabilizou o músico nova-iorquino, do final dos anos 1980 em diante, os Naked City. Tal como estes tinham em Bill Frisell um guitarrista magnífico (além de um saxofonista de grande nível como Zorn, um baixista como Fred Firth, um teclista como Wayne Horvitz e um baterista como Joey Baron), também os Slow Is Possible têm no português João Clemente um guitarrista ímpar. Este é acompanhado na banda pelo contrabaixista Ricardo Sousa, pelo saxofonista Bruno Figueira, pelo violoncelista André Pontífice, pelo baterista Duarte Fonseca e pelo pianista Nuno Santos Dias. A música, instrumental, é inspirada e cinematográfica, indo da quietude à aceleração jazz-rock sem nunca ficar totalmente fora de pé na melodia.

Insurrection

6.ª, 3/8, 21h30 / Anfiteatro ao Ar Livre

Travagens e acelerações, fúria elétrica e quietude melódica: é de tensão e distensão que é feita a música dos Insurection, grupo formado pelos guitarristas Matt Hollenberg e Julian Lage, pelo baixista Trevor Dunn e pelo baterista Kenny Grohowski. Grupo virtuoso e inteiramente instrumental, próximo da formação de uma banda tradicional no que toca à estrutura (guitarristas, baixista, baterista) mas inventivo no que toca à música, Insurrection foi idealizado por John Zorn como estrutura capaz de agigantar composições suas. A organização do Jazz em Agosto chama à banda “uma das invenções mais espetaculares de Zorn nos últimos anos”. À rádio pública norte-americana, NPR, o músico dava em 2013 algumas pistas sobre o sucesso das suas colaborações: “Acho que se pode falar simplesmente de comunidade. Não poderia fazer esta música sem estes músicos. Isto tem a ver com pessoas. A música, para mim, é as pessoas, não é os sons. É pôr pessoas em situações desafiantes, porque, para mim, os desafios são oportunidades”. A julgar pelo resultado, Hollenberg, Lage, Dunn e Grohowski levaram o desafio (muito) a sério.

Craig Taborn + Brian Marsella Trio

Sáb., 4/8, 21h30 / Anfiteatro ao Ar Livre

Pianista que começou a evidenciar-se nos anos 1990, mas que se tornou um dos nomes fortes do jazz norte-americano já neste século, Craig Taborn apresentar-se-á a solo na noite de sábado, 4 de agosto. Com um disco editado pela portuguesa Clean Feed e com álbuns lançados pela importante editora ECM, Taborn aproximou-se de John Zorn nos últimos anos, gravando um dos volumes (o 27º) da coleção de composições do nova-iorquino “Book of Angels”, e lançando no último ano um álbum pela editora de Zorn, produzido por este e que gravou ao lado de Ikue Mori: Highsmith. Nesta noite, a penúltima do festival, ouvir-se-á uma outra formação que gravou um dos volumes do “Book of Angels” de John Zorn. Trata-se de um enérgico trio de jazz liderado pelo pianista Brian Marsella, que inclui ainda dois habituais colaboradores de Zorn, o contrabaixista Trevor Dunn e o baterista Kenny Wollesen.

Julian Lage & Gyan Ryley

Dom., 5/8, 18h30 / Auditório 2

Embora não seja um dos concertos de maior destaque da programação do 35º Jazz em Agosto, a atuação de Julian Lage e Gyan Ryley pode ser uma boa surpresa para quem se deslocar ao Auditório 2 do edifício sede da Gulbenkian. O duo tem um talento incontestado: se Julian Lage é um dos guitarristas mais emergentes do panorama jazz, Gyan Ryley, filho de Terry Riley, já lançou um álbum a solo pela editora de John Zorn e tem um apuro clássico incomum. Nas guitarras acústicas, o duo interpretará composições delicadas de Zorn, num concerto que se prevê íntimo. Com um andamento e volume que contrastam com muito do do jazz exploratório e do rock que se ouve nos restantes dias de festival, esta música de Zorn que o duo gravou no disco Midsummer Moons, de 2017, é inspirada por paisagens sonoras mais apaziguadas e bucólicas. Ideais, aliás, para um fim de tarde de domingo.

https://www.youtube.com/watch?time_continue=28&v=Ab_yJ9FdY5o

Secret Chiefs 3 (plays Masada)

Dom., 5/8, 21h30 / Anfiteatro ao Ar Livre

Também eles intérpretes de composições de John Zorn na série “Book of Angels”, os Secret Chiefs 3 são uma banda invulgar. Liderada por Trey Spruance, revela mais uma face do ecletismo do compositor que, em 2013, explicava assim à NPR os seus múltiplos interesses sonoros: “Estudei música clássica e também gostava de jazz, ouvi rock, ouvi soul… ao crescer em Nova Iorque nos anos 1960, ouvia-se de tudo”. Os rótulos aplicados ao som da banda são muitos e variados, vão do surf-rock ao death-metal, passando pela música oriental e ritmos africanos. A própria formação acaba por dar um som único à banda, com o violino de Eyvind Kang a ter um papel decisivo. As vestes usadas em palco, com túnicas e capuzes, tornam um concerto dos Secret Chiefs 3 uma experiência ainda mais invulgar. Será o concerto de encerramento desta edição do Jazz em Agosto.

O passe geral para os concertos no Grande Auditório e Anfiteatro ao Ar Livre da Gulbenkian (são dez, no total) custa €135. Já o passe para os seis concertos no Auditório dois do festival custa €15. Há ainda ‘packs’ para o primeiro fim-de-semana do Jazz em Agosto e para o segundo fim-de-semana do festival, respetivamente a €45 e €40. Os filmes e filmes-concerto têm entrada livre. Estão ainda à venda bilhetes individuais para os principais concertos do festival, no Grande Auditório e Anfiteatro ao Ar Livre, que custam entre €15 a €20 cada.

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