Diz o senso comum que as coisas de que gostamos muito passam num instante e o que não gostamos tanto demora eternidades. A passagem do tempo é “facilmente enviesada” pelas coisas que acontecem ao nosso redor, escrevia o The Washington Post em 2015. A ideia estende-se ao fenómeno já batizado “efeito da viagem de regresso” (“return trip effect”, em inglês), que basicamente traduz a seguinte sensação: o caminho que fazemos para chegar a um destino desconhecido parece ser bem mais longo do que o que fazemos no regresso, apesar de a distância ser fisicamente a mesma.

Este fenómeno chegou a ser assunto de estudos internacionais, tal como o que os investigadores norte-americanos Niels van de Ven, Leon van Rijswijk e Michael M. Roy levaram a cabo em 2011: o trio comprovou que a viagem de regresso parecia entre 17 e 22% mais curta que a de ida, ainda que o trajeto fosse o mesmo.

O El Mundo interrogou-se precisamente sobre este assunto e tentou encontrar respostas adequadas. Em conversa com a publicação espanhola, a psicóloga Isabel Serrano, diretora do consultório EnpositivoSI, explicou que o sentido do tempo muda consoante o nosso estado emocional. Nesse sentido, viajar até um local desconhecido — o que facilmente pode acontecer em contexto de férias — pode alterar os sentimentos de uma pessoa, já que o ser humano tem uma “capacidade projetiva” que o permite imaginar as potencialidades do futuro. “Assim, criamos emoções futuras como a fé, a esperança, a confiança e o otimismo. Mentalmente, as coisas que estão próximas fazem o tempo passar rapidamente e as coisas que estão longe fazem o tempo passar muito devagar”, assinala a psicóloga.

Nas jornadas nunca antes feitas, é possível que o ser humano gere ilusão e ansiedade, acrescenta a especialista. Estas duas emoções aumentam os níveis de dopamina, um neurotransmissor que “impulsiona a atividade neuronal e acelera o nosso relógio cerebral” — ou seja, o tempo passa mais devagar quando estamos em situações de incerteza. O contrário acontece quando nos sentimos seguros (talvez seja por isso que, quando somos mais velhos, o tempo parece passar mais rápido, uma vez que, nessa fase, existem rotinas instaladas).

A esta ideia o The Washington Post acrescenta outras hipóteses, como o facto de prestarmos ou não atenção a determinados momentos. Quando estamos atrasados, por exemplo, o tempo passa particularmente devagar, o mesmo não acontece quando estamos distraídos com alguma coisa. Isto pode ter aplicações tendo em conta a memória: quando dedicamos especial atenção a determinados períodos da vida, tendemos a recordar-nos deles como sendo mais vagarosos.

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