Três horas e quarenta e cinco minutos separam, de barco, São Miguel e Santa Maria. Mais de 500 idosos de Ponta Delgada fizeram esta semana a travessia, alguns pela primeira vez e porque “tinha de ser”, outros pelo convívio.

Anualmente, a Câmara de Ponta Delgada, maior cidade açoriana, promove um convívio com os seniores do concelho, juntando pessoas de todas as 24 freguesias: este ano o passeio deu-se de barco – não houve enjoos de maior a relatar – e uniu São Miguel a Santa Maria, a ilha mais próxima.

Manuel António tem 67 anos, é micaelense, e conhecia, até há poucos dias, oito das nove ilhas açorianas: “Nunca tinha estado em Santa Maria. É aqui à porta e nunca tinha estado, veja lá”, contava à agência Lusa a meio do passeio que durou um dia inteiro.

Reformado de uma empresa de construção civil, Manuel António participou no convívio com “mais dez amigos” da sua freguesia. Fala com carinho do filho, que vive nos arredores de Lisboa, e reconhece estar ainda a adaptar-se à reforma.

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Eram perto das 07:00 quando mais de 500 idosos partiram de Ponta Delgada para Vila do Porto, em Santa Maria. O barco, ao serviço da Atlânticoline, podia causar estranheza pela bandeira da Grécia e por várias indicações na língua grega: o “Aqua Jewel”, assim se chama a embarcação, foi alugado para este verão, albergando no total perto de 800 passageiros e 155 viaturas.

À chegada, pela hora do almoço, o salão dos Bombeiros Voluntários de Vila do Porto aguardava os convivas, embora muitos não se tivessem apercebido de que o repasto esteve em risco: com meia-hora de viagem no mar açoriano, o “Aqua Jewel” teve de voltar atrás porque o almoço de centenas…não embarcou.

“Perguntei e disseram-me isso. Já viu? Pensámos que se tinham esquecido de alguém, mas era mais grave, era o almoço”, conta, entre risos, uma animada idosa de um grupo da freguesia do Livramento.

Depois do almoço, o programa era livre: houve quem fosse ao centro de Vila do Porto, mas a maior parte optou por passear – com a ajuda logística de cada junta – por outros espaços emblemáticos da ilha, casos do Poço da Pedreira ou das zonas balneares na Baía de São Lourenço, por exemplo.

Depois de comprar umas meloas da ilha e antes de voltar para “as vitórias na sueca”, que ajudaram a passar o tempo na viagem, José Medeiros falou à Lusa da “alegria” que sentiu num dia “longo” mas, sublinhou, “quem corre por gosto não cansa”.

“Este homem é um bom homem. É do povo. Eu sou do PS, mas voto nas pessoas”, diz, apontando para José Manuel Bolieiro, autarca social-democrata de Ponta Delgada e promotor da iniciativa.

Dirigindo-se às centenas de idosos, Bolieiro lembrou o pai, falecido no ano passado, e falou também da sua mãe. Numa altura em que os Açores – e Ponta Delgada – voltam às notícias por alegados maus-tratos a idosos em instituições da Santa Casa, o autarca quer deixar a mensagem de que é “essencial para uma sociedade solidária tratar bem os seus seniores”.

No regresso a São Miguel, a jornada fechou com uma partida de cartas envolvendo uma vereadora da autarquia e vários idosos ou, no andar de baixo do barco, os mais resistentes arriscavam uns passos de dança.

O cansaço era notório, mas a travessia fez-se entre a saudade antecipada de um dia especial e a promessa de regresso em 2019.