Houve um ponto comum entre o estádio José Alvalade e a forma de jogar do Sporting esta noite frente aos italianos do Empoli, jogo a contar para o Torneio Cinco Violinos que funcionou como último teste antes da estreia dos leões na Primeira Liga, em Moreira de Cónegos: dentro e fora de campo, o clube verde e branco recupera de um dos períodos mais conturbados de sempre da sua história e começa agora a construir o seu futuro, qualquer que ele seja. Da fraca assistência nas bancadas a alguns momentos menos conseguidos no relvado, não é estaca zero mas pouco falta para isso. Tudo atravessa uma fase de reconstrução.

Em relação ao último jogo “à porta aberta”, José Peseiro fez quatro alterações na equipa inicial: mudou o duplo pivô do meio-campo, deixando Petrovic e Wendel de fora para as entradas de Battaglia e Misic; lançou Acuña na esquerda em vez de Matheus Pereira, passando Nani mais para a direita; e colocou Bas Dost como referência ofensiva no lugar de Fredy Montero. Não demorou muito até se ver as primeiras diferenças, da mesma forma como não tardou a perceberem-se as limitações.

Logo aos 2′, na sequência de um livre numa posição mais ou menos central, Bas Dost subiu mais alto após cruzamento de Acuña mas Terracciano conseguiu desviar para canto. No seguimento do lance, após mais uma bola parada bem trabalhada, foi a vez de Coates surgir em boa posição para cabecear mas a tentativa passou longe da baliza transalpina. Duas oportunidades a abrir que confirmaram as boas indicações que tinham sido deixadas sobretudo no segundo tempo com o Marselha – os leões apresentam já alguma qualidade a nível de lances de estratégia, mesmo sem a eficácia desejada. E o episódio seguinte de perigo nasceu de um lançamento lateral, com Battaglia a rodar e a atirar forte e cruzado, a rasar o poste (15′).

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A meio da primeira parte, na melhor jogada até ao intervalo, Nani e Bruno Fernandes combinaram bem, o médio cruzou atrasado mas o remate do extremo saiu desenquadrado (24′). Ainda houve mais duas oportunidades daquelas que Dost raramente falha, ambas no seguimento da exploração dos corredores laterais, e um remate ao poste de Bruno Fernandes descaído no lado esquerdo da área. Golos, zero. Algumas boas movimentações, alguns erros nas transições defensivas que nunca foram bem aproveitados pela formação transalpina (que revelou pouco futebol em Alvalade), algumas ideias que deverão ser corrigidas (e que não têm a ver com Viviano, que não fez sequer uma defesa): 1) sem Matheus Pereira ou Raphinha, o ataque leonino carece de velocidade e explosão; 2) o duplo pivô está obrigado a conseguir mais presença em zonas de segundas bolas ou finalização, pelo menos um dos elementos; 3) ainda há muito trabalho de fazer na ligação entre setores.

No segundo tempo, Peseiro quis manter a rodagem nos principais jogadores e acabou por fazer apenas uma alteração em termos posicionais, com a troca de flancos entre Acuña e Nani. E foi o português a deixar o primeiro sinal de perigo, com um remate ao lado da baliza já à guarda de Ivan Provedel, que rendeu ao intervalo Terracciano, antes de Battaglia atirar também perto do poste do Empoli, equipa com pouca ou nenhuma capacidade de sair com perigo em transições rápidas. Essa era uma das diferenças em relação à primeira parte: quer o argentino, quer Misic começavam a armar as zonas de recuperação mais perto da área contrária e, em paralelo, subiam à vez para fazerem a diferença nos terrenos de finalização. E o croata fez mesmo: depois de um corte incompleto para a entrada da área, o médio inaugurou o marcador com um grande golo de pé esquerdo (51′).

Depois chegou a pior fase do Sporting e, com isso, o empate: numa fase onde o Empoli conseguiu ter maior capacidade para chegar ao último terço do terreno, Antonino La Gumina, avançado contratado esta temporada pela equipa que subiu à Serie A por dez milhões de euros ao Palermo, aproveitou um grande passe de Traoré para receber à vontade no meio dos centrais e rematar cruzado sem hipóteses para Viviano (68′). Pouco depois, o avançado ficou muito perto de bisar, mas o remate com selo de golo acabou por ser travado em cima da linha por Mathieu (72′). Houve falhas de marcação, demasiados erros posicionais e incapacidade para manter a posse num período de 15 minutos onde o Empoli conseguiu ser melhor.

Battaglia, no seguimento de um canto batido na esquerda por Jefferson, ainda obrigou Ivan Provedel a uma grande defesa que levou a bola ainda a embater na trave (80′), mas o final do tempo regulamentar chegaria mesmo com o empate a uma bola, levando a decisão do Troféu Cinco Violinos para o desempate através das grandes penalidades, onde os italianos venceram por 5-4 (Mathieu, Montero, Battaglia e Raphinha marcaram, ao contrário de Matheus Pereira e Jefferson) naquela que foi a primeira derrota de sempre em sete edições do conjunto verde e branco neste encontro de pré-temporada em Alvalade.

Na antecâmara do final do prazo para a entrega de candidaturas à presidência do Sporting, seguindo-se depois o período “oficial” de campanha, há um ponto que, de forma mais ou menos assumida, tem sido transversal a todas as listas: Bruno de Carvalho, ex-líder destituído em Assembleia Geral que foi esta semana suspenso de sócio durante um ano, faz parte do passado. Olhando para o futebol, há um outro Bruno que faz toda a diferença, de apelido Fernandes – José Peseiro parece disposto a entregar a batuta de todas as manobras ofensivas da equipa ao internacional português, que tem também como função iniciar a primeira fase de pressão defensiva a par de Bas Dost. E um pouco como já tinha acontecido na última temporada, é da visão, da qualidade e do instinto do número 8, bem como do apoio “todo o terreno” de Battaglia, que sai o melhor dos leões. Mas se é em Bruno Fernandes que assenta a missão de tentar construir um futuro, ainda tem muito para construir.