O líder da UNITA lamentou que o Estado angolano continue a reter os restos mortais de Jonas Savimbi, morto em 2002, facto que Isaías Samakuva disse constituir “um testemunho gritante da política de exclusão entre irmãos”. Numa intervenção pública este fim-de-semana em Viana (20 quilómetros a leste de Luanda), destinada a assinalar que, se fosse vivo, Savimbi, primeiro presidente da União Nacional da Independência Total de Angola (UNITA), teria feito na sexta-feira 84 anos, Samakuva acrescentou que a atitude de Luanda “simboliza a necessidade imperativa da genuína reconciliação nacional”.

“A prisão dos restos mortais do cofundador da República de Angola constitui um testemunho gritante da política de exclusão entre irmãos e simboliza a necessidade imperativa da genuína reconciliação nacional, que a República ainda luta contra si própria e que os angolanos ainda não são um só povo, uma só Nação”, sublinhou Samakuva.

“Não há razão alguma para que o Estado angolano mantenha Jonas Malheiro Savimbi preso mesmo depois de morto. Porque é que os restos mortais de Jonas Savimbi foram capturados pelo Estado angolano? Porque é que se prende um morto”, questionou. Jonas Savimbi nasceu a 3 de agosto de 1934, no Munhango, a comuna fronteiriça entre as províncias do Bié e Moxico.

O Líder histórico da UNITA viria a ser morto em combate após uma perseguição das forças armadas angolanas a 22 de fevereiro de 2002 próximo de Lucusse, na província do Moxico, onde os seus restos mortais permanecem sepultados, à guarda do Estado angolano. Para Samakuva, há que “ultrapassar” a situação e criar uma “nova atitude” perante a Pátria e perante o futuro, uma vez que, disse, uma “Angola unida e reconciliada será mais forte, mais legítima e mais rica”.

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Nesse sentido, o líder da UNITA apelou ao Presidente angolano, João Lourenço, para “capitalizar o momento histórico” e “potenciar as pontes de diálogo” para um novo pacto social “que conduza a uma efetiva reconciliação nacional”.

“Hoje, 50 anos depois, não devemos nunca mais perder de vista o essencial. O essencial é reconhecermos que todos os povos tiveram as suas guerras fratricidas e que não há guerra que não destrua. O essencial é reconhecer que, em todas essas guerras de irmãos, em todos os conflitos de família, não há apenas um único culpado. Das nossas guerras e destruições, dos futuros mutilados e dos sonhos destruídos, culpados somos todos, responsáveis somos todos e vítimas somos todos”, frisou.

Para Samakuva, a luta pela construção do país só será bem-sucedida se todos a fizerem com “patriotismo, sentido de nação plural e grandeza moral”. Segundo o responsável máximo da UNITA, “não há razão alguma que justifique” que os feitos históricos de Savimbi, reconhecidos pela África e pelo mundo, “não sejam reconhecidos formalmente pelo Estado angolano que ele próprio ajudou a erigir e do qual é cofundador”.

“[Savimbi] foi um homem culto, abnegado e destemido, que marcou de forma decisiva e inapagável o curso da História política de Angola e da África Austral. Amado por muitos, odiado por outros, mas respeitado por todos, Savimbi deixou-nos um legado que devemos estudar”, sublinhou.

“Honrar hoje a memória de Jonas Malheiro Savimbi significa estabelecer imediatamente as autarquias locais. Significa fiscalizar e auditar a dívida pública, reduzir a inflação, parar com os roubos e com a impunidade daqueles que utilizam o Estado para se governarem a si próprios”, defendeu.

Para Samakuva, honrar Savimbi significa também “transformar radicalmente” os sistemas de educação, de saúde e nacional de segurança social, canalizar os investimentos produtivos para o interior do país, “parar o crescimento anárquico” de Luanda e promover a criação de cidades ecológicas, economicamente sustentáveis. “O maior legado de Jonas Malheiro Savimbi é sem dúvida a conquista da nacionalidade angolana para todos os povos de Angola”, concluiu.