O movimento independentista de Cabinda FLEC/FAC acusou esta terça-feira os Estados Unidos, cuja embaixadora em Luanda está de visita ao enclave, de se colocarem “no mesmo lado de Angola” e evitarem denunciar a repressão no território.

A posição está expressa num comunicado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda/Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), assinado pelo porta-voz do movimento independentista, Jean Claude Nzita. “Após a passagem da embaixadora dos Estados Unidos (em Luanda) por Cabinda, a FLEC/FAC apela ao Governo [do Presidente norte-americano, Donald] Trump, através da sua embaixadora Nina Maria Fite, para que denuncie claramente as intervenções militares de Angola em Cabinda”, lê-se na nota.

Para a FLEC/FAC, os Estados Unidos têm “negligenciado há muito tempo” as “violações do direito internacional humanitário”, os “abusos” aos direitos humanos, nomeadamente “a repressão selvagem, a intimidação, o sequestro e as prisões arbitrárias e os julgamentos sumários”. “Porque é que os Estados Unidos, um país respeitável no mundo, se coloca no mesmo lado de Angola, um país que não respeita as regras internacionais? Porquê essa política de dois pesos e duas medidas? Os americanos não devem nada ao neocolonialismo angolano e à sua pilhagem ilegal”, acrescenta-se no comunicado.

“Recomendamos ao Governo americano que não encoraje a pirataria das riquezas cabindesas por Angola. Os EUA devem falar diretamente aos cabindas para uma cooperação ‘win-win’, porque a população de Cabinda está na miséria, mas continua a ser a legítima representante do território”, frisa a FLEC/FAC. Nesse sentido, o movimento liderado por Emmanuel Nzita exorta os Estados Unidos a “parar de fazer hipocrisia na espinhosa questão” de Cabinda, pelo que “devem ter a coragem política” para “denunciar abertamente a agressão militar de Angola” em Cabinda e apoiar a luta legítima do povo e a luta pelo direito à autodeterminação.

“A FLEC/FAC reitera o seu apelo para o diálogo com o Governo de João Lourenço, para evitar danos colaterais no território. Pedimos a Nina Fite para se envolver pessoalmente no processo de paz entre Cabinda e Angola, para que uma solução política justa e duradoura possa ser encontrada, de acordo com a lei internacional”, termina o comunicado da FLEC/FAC.

A FLEC luta pela independência de Cabinda, alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano. Emmanuel Nzita é presidente da FLEC/FAC e sucedeu a Nzita Tiago, líder histórico do movimento independentista de Cabinda, que morreu a 3 de junho de 2016, aos 88 anos. Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes fações, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que mantém a resistência armada contra a administração de Luanda.

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