Vladimir Putin pressionou Donald Trump para renovar quatro acordos, alguns deles de não-proliferação nuclear, durante a cimeira de Helsínquia, mas não terá obtido uma resposta concreta do Presidente dos EUA.

A notícia é dada pelo Politico, que teve acesso a um memorando utilizado pela delegação russa durante a cimeira de 16 de junho em Helsínquia, que ficou marcada como o primeiro encontro bilateral entre Moscovo e Washington.

O acordo que terá merecido maior atenção de Vladimir Putin, e que o Presidente da Rússia terá instado o seu homólogo norte-americano a renovar, foi o New START. Trata-se de um acordo de não-proliferação nuclear assinado em 2010, pelos então presidentes Barack Obama e Dimitri Medvedev, onde ficou estabelecido que, até 2021, os dois países se comprometeriam a não ter mais do que 1550 armas nucleares prontas a ser usadas. Este acordo tem sido respeitado pelas duas partes — em fevereiro de 2018, a Rússia declarou ter 1444 ogivas nucleares prontas para uso imediato e os EUA diziam ter 1350.

Trump disse na conferência de imprensa que se seguiu à cimeira que acordo para a não-proliferação nuclear “é provavelmente a coisa mais importante para a qual podemos trabalhar”

No documento a que o Politico teve acesso, a Rússia terá proposto aos EUA que considerassem “a possibilidade de uma extensão de cinco anos” do acordo de New START “após a garantia de que os atuais problemas para a implementação do tratado serão dirimidos”.

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Em resposta a este documento, o porta-voz do governo norte-americano para temas de segurança nacional, Garrett Marquis, sublinhou que não houve nenhum compromisso por parte dos EUA naquele acordo. “Não houve qualquer compromisso para implementar medidas, além de ter sido acordado que cada lado vai continuar a falar com o outro. O Presidente não recebeu nenhuma proposta por escrito do Presidente Putin, e o Presidente não fez nenhuma proposta por escrito ao Presidente Putin”, disse aquele porta-voz da administração Trump.

Na conferência de imprensa que se seguiu à cimeira, o tema da não-proliferação nuclear foi abordado por ambos os líderes, mas ainda assim de forma vaga. “Estamos a aproximar-nos e temos agora a oportunidade de fazer grandes coisas”, disse Donald Trump. “Na não-proliferação nuclear, no que diz respeito a pará-la, temos de fazê-lo. Essa é provavelmente a coisa mais importante para a qual podemos trabalhar.”

“Simplesmente, EUA ainda não sabem o que é ou não do seu interesse”

Em declarações ao Observador, Adlan Margoev, diretor do programa para a Não-Proliferação da Rússia, do think-tank russo PIR Center, diz que a revelação do Politico demonstra que “a Federação Russa está três passos à frente dos EUA em termos de preparação para debater o controlo das armas [nucleares] e estratégia para a estabilidade”.

“Quando o Presidente Putin passou o memorando para o Presidente Trump, o primeiro e a sua equipa não tinham como discuti-lo porque esta administração dos EUA está neste momento a rever todos estes acordos e a avaliá-los perante realidades complexas e mutáveis. Simplesmente, eles ainda não sabem o que é, e o que não é, do interesse dos EUA. Tudo isto 18 meses depois da tomada de posse de Donald Trump”, continua Adlan Margoev.

Ainda assim, o especialista do PIR Center sublinha que a cimeira de Helsínquia “não foi no seu todo uma oportunidade desperdiçada”, referindo que “não haver uma cimeira seria ainda pior”. “Helsínquia foi uma cimeira preparatória, mas temos de ter em conta que não pode haver duas cimeiras preparatórias. A próxima terá de ter alguns resultados”, acrescenta Adlan Margoev.