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Lira turca afunda para mínimos históricos. "Eles têm os dólares, nós temos o nosso Deus”, diz Erdogan

Este artigo tem mais de 5 anos

Lira turca caiu mais de 18% num mês, os juros da dívida estão perto dos 20% e custa mais segurar esta dívida que a da Argentina. Erdogan diz aos turcos para não temerem: "temos o nosso Deus".

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Getty Images

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A lira turca está a cair mais de 6% depois de ter chegado a perder mais de 11% só nas negociações desta sexta-feira, numa altura em que os receios sobre a economia turca são cada vez maiores e já afetam os mercados europeus. Só no ultimo mês, a moeda turca já desvalorizou mais de 18% face ao dólar e está no seu nível mais baixo de sempre. Numa altura em que Turquia e Estados Unidos se encontram numa disputa diplomática devido à prisão de um pastor norte-americano, o presidente turco diz que há uma campanha contra o país, mas que os turcos podem estar descansados: “Se eles têm dólares, nós também temos o nosso povo, o nosso Deus”.

Numa altura em que a economia turca parece entrar numa espiral que já está a começar a afetar a Europa, eram esperadas palavras que acalmassem os mercados, mas para já essas parecem não estar a surtir efeito. O euro está em mínimos de um ano. Os bancos espanhóis e franceses são os mais expostos à Turquia.

Reçep Tayip Erdogan, que falava aos seus apoiantes na sua terra natal de Rize, disse aos turcos para estarem descansados porque a Turquia tinha Deus do seu lado. “Há várias campanhas em curso [contra a Turquia]. Não cedam a essas campanhas”, disse.

Esta sexta-feira, o ministro das Finanças da Turquia, Berat Albayrak (genro do presidente turco), vai apresentar o esboço do que o governo turco chama de um novo modelo económico para o país. No entanto, até lá os desenvolvimentos estão a demonstrar um grande nervosismo nos mercados.

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O ministro das Finanças, Berat Albayrak, será o responsável pela apresentação do plano para o novo modelo económico que o regime tem para a Turquia. Albayrak, que também é genro do presidente turco, era ministro da Energia e tem vindo a ganhar poder dentro do regime.

A moeda turca continua a perder valor face ao dólar e a bater mínimos históricos. Só nas negociações desta sexta-feira a lira turca já chegou a perder quase 11%, recuperando apenas parcialmente destas perdas para perder 6% pelas 11h00.

A desvalorização não é de hoje. A lira turca tem vindo a perder valor face ao dólar desde fevereiro, uma desvalorização que se acentuou nos últimos meses. Só nos últimos trinta dias, a lira turca já desvalorizou mais de 18%.

Mas as más notícias não se ficam por aqui. Os juros que os investidores estão a exigir para comprar dívida turca a 10 anos têm vindo a crescer de forma consistente e estão agora perto dos 19,6%. Ou seja, se fosse ao mercado emitir dívida a 10 anos, a Turquia arriscava-se a ter de pagar ao longo deste empréstimo o dobro só em juros do que receberia de empréstimo.

O nervosismo vê-se no custo para segurar dívida turca. De acordo com os dados da Markit, já custa mais comprar um seguro contra o incumprimento da dívida turca do que de dívida argentina. Qualquer coisa como 400 mil dólares por ano, por cada 10 milhões de euros de dívida a 10 anos que fosse segurada.

O que se passa com a economia turca?

Há várias questões de fundo relacionadas com a economia turca que são preocupações de longa data, mas que não geraram receios tão acentuados entre os investidores como o que está a acontecer agora.

Apesar de uma dívida pública relativamente baixa, a economia turca aproveitou o período de crise para registar taxas de crescimento económico elevadas e relativamente estáveis com recurso ao dinheiro barato com que os bancos centrais inundaram os mercados para conter a crise financeira.

No entanto, esse dinheiro não foi utilizado para investimentos produtivos que pudessem trazer retorno para a economia turca no médio e longo prazo. Uma parte importante desse dinheiro foi usada para incentivar a construção, entre ela de vários centros comerciais e outras infraestruturas de promoção do consumo. Mas o consumo privado não tem vindo a crescer tanto que permita retirar o retorno necessário desses investimentos.

A isto junta-se ainda uma taxa de inflação muito elevada e que está a crescer a níveis muito superiores ao que era esperado para a totalidade do ano. A inflação atingiu os 8,5% no final do ano passado e esperava-se que ficasse perto de 12% no final deste ano, mas em julho já era de quase 16%.

Qual seria o impacto para a Europa?

A Turquia é o quinto principal parceiro comercial da União Europeia, mas os valores importados não são elevados ao ponto de uma contração no comércio ter um impacto significativo na Turquia. De acordo com Carsten Hesse, do banco Berenberg, uma queda de 20% nas exportações para a Turquia teriam um impacto limitado a 0,1 pontos percentuais no PIB anual dos países do euro, por exemplo.

Mas há outras questões que estão a dar dores de cabeça maiores aos responsáveis europeus, e a primeira delas é a exposição dos bancos da zona euro à Turquia. Há vários bancos europeus a operarem em território turco e com um volume de empréstimos que pode trazer alguns problemas a estas operações, numa altura em que muitos delas ainda estão a tentar estabilizar e recuperar lucros. O Financial Times dá conta de que o próprio Banco Central Europeu está preocupado com esta situação.

Outra questão, que pode ter impactos económicos, mas que não se limita a economia, é a dos refugiados. A União Europeia tem atualmente um acordo com a Turquia, que permite restringir o número de refugiados que entram na Europa. Este acordo foi muito criticado pelo financiamento ao regime de Erdogan e pela falta de garantias do regime turco, na aplicação do acordado e na forma como tratam os refugiados, mas continua a ser visto com uma importante barreira à entrada de refugiados sírios na Europa.

Aqui entram também questões de segurança, já que a Turquia faz fronteira com a Síria e tem sido um dos principais pontos de entrada para a Europa de terroristas oriundos da Síria e do Iraque. As autoridades europeias contam com o apoio da Turquia, um país da NATO, para conter ou colaborar tendo em vista o controlo das redes terroristas no médio oriente. A Turquia é também o principal ponto de entrada dos combatentes estrangeiros que se juntam ao Estado Islâmico na Síria e no Iraque.

Para já, o euro está a desvalorizar para mínimos de um ano e as bolsas europeias estão em queda, com as ações dos bancos europeus a serem especialmente afetadas.

Bancos espanhóis são os mais expostos

Entre os bancos internacionais, os espanhóis eram os mais expostos à Turquia no primeiro trimestre deste ano. De acordo com o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS, na sigla em inglês), a exposição dos bancos espanhóis à Turquia é de cerca de 82,3 mil milhões de dólares. Destes, apenas 2,4 mil milhões de dólares é de exposição aos bancos turcos. A maior parte é a empresas, mais de 59 mil milhões de dólares, mas os bancos espanhóis também detém cerca de 19,3 mil milhões de dólares de dívida pública turca. No entanto, se se adicionarem a estes o valor das garantias concedidas por bancos espanhóis a entidades turcas e os compromissos já assumidos para dar créditos, a exposição dos bancos espanhóis seria superior a 100 mil milhões de dólares.

Em segundo lugar nesta lista surgem os bancos franceses,  com uma exposição total que ronda os 38,4 mil milhões de dólares, dos quais 24,2 mil milhões são também a empresas. Deste bolo total, os bancos franceses terão ainda cerca de 7 mil milhões de dólares emprestados ao setor público turco e outros 3,9 mil milhões de dólares a bancos turcos.

Os bancos alemães surgem como os terceiros mais expostos, mas só contando com a zona euro (já que o Reino Unido e os Estados Unidos são o terceiro e quarto mais expostos em termos globais) com uma exposição de cerca de 17,2 mil milhões de dólares, mas com mais dinheiro em bancos do que em dívida pública. Os bancos italianos são os quartos mais expostos da zona euro, com um uma exposição de cerca de 16,9 mil milhões de dólares.

O que agravou esta crise?

Os receios em torno da situação económica turca agravaram-se depois de um embate entre o presidente da Turquia e o presidente dos Estados Unidos, depois de a Turquia prender e se recusar a libertar Andrew Brunson, um pastor norte-americano de 50 anos oriundo da Carolina do Norte.

Andrew Brunson (direita) escoltado pela polícia turca depois da sair da prisão em direção à sua casa, onde permanece sob prisão domiciliária.

Andrew Brunson encontra-se atualmente sob prisão domiciliária e é um dos 20 norte-americanos acusados pela justiça turca de participarem na tentativa de golpe de Estado contra o presidente da Turquia em 2016.

O pastor é acusado de ter ligações a dois grupos que a Turquia considera terroristas, o partido dos trabalhadores do Curdistão – mais conhecido como PKK – e o movimento liderado por clérigo turco radicado nos Estados Unidos, Fethullah Gulen.

Fethullah Gulen é considerado por Erdogan como o responsável máximo pela tentativa de golpe de Estado e tem sido um foco de tensão entre Turquia e Estados Unidos. A Turquia exige, desde 2016, a extradição de Fethullah Gullen para que seja julgado na Turquia como o autor moral da tentativa de golpe de Estado, mas os EUA recusaram sempre estas pretensões, tanto durante a administração de Barack Obama como na de Donald Trump.

O presidente norte-americano já falou diretamente como Erdogan a exigir a libertação do clérigo norte-americano, mas o presidente turco tem recusado. Na sequência da falta de entendimento, Donald Trump ameaçou impor sanções contra a Turquia, que como uma economia fragilizada, se vê agora a braços com uma instabilidade que pode sair cara aos turcos.

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