Esta sexta-feira, na partida para a oitava etapa em Barcelos, Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, aproveitou para pintar um galo que simboliza a cidade de azul, mostrou-se muito confiança na terceira vitória consecutiva da equipa na Volta a Portugal em bicicleta e até deixou uma “bicada” para bom entendedor, dizendo que não queria ficar apenas pelo tri e que ambicionava chegar ao penta. Algo que, se olharmos apenas para este projeto sem nomes de equipas, até foi alcançado no ano passado – uma vitória de Alejandro Marque, duas seguidas de Gustavo Veloso, uma de Rui Vinhas e a última de Raúl Alarcón, entre OFM Quinta da Lixa, W52 Quinta da Lixa e W52 FC Porto. O líder dos dragões apontava com as palavras ao que se passou no futebol. E esta penúltima etapa da Volta a Portugal em bicicleta teve outras semelhanças, na parte tática. Mas a confiança em Alarcón tinha razão de ser: o espanhol tem “roda e meia” na revalidação da amarela do ano passado.

Com Alarcón na frente com 52 segundos de vantagem sobre Joni Brandão, do Sporting Tavira, e com um trajeto de pouco mais de 155 quilómetros pela frente a ter início em Felgueiras e a terminar na Senhora da Graça, era ao conjunto verde e branco que tinha de pertencer a iniciativa do “jogo”, como viria a acontecer, num terreno favorável às características dos quatro elementos que foram lançados desde início para a frente do grupo onde seguia também o camisola amarela: Joni, Frederico Figueiredo (sexto da geral, a 2.20 minutos), Rinaldo Nocentini e Alejandro Marque.

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“O Sporting está a puxar, como já esperávamos, mas até agora só o Rui Vinhas descolou porque entrou de início a puxar e tem aquelas debilidades físicas conhecidas”, dizia o diretor desportivo da W52 FC Porto, Nuno Ribeiro, aos microfones da RTP. “Hoje tínhamos de fazer qualquer coisa, tínhamos de ser agressivos no bom sentido, porque estamos num terreno que é favorável para nós”, retorquia Vidal Fitas, o diretor desportivo do Sporting Tavira. Tudo a 40 quilómetros da meta.

Na véspera, Alarcón recusava qualquer tipo de festejo antecipado, dizendo que ainda tinha muito trabalho pela frente para revalidar o título do ano passado. Já Joni Brandão, que no ano passado esteve ausente por questões físicas, acreditava naquilo que alguns companheiros lhe tinham dito e mostrava ainda crença num dia mais complicado do espanhol tal como acontecera no ano passado (neste caso, sem prejuízo para o próprio). Por fim, Vicente de Mateos, da Aviludo Louletano, que ganhara na chegada a Braga da véspera, tentava perceber o que se passava para diminuir a desvantagem de 1.41 minutos para o primeiro lugar. A tática, que existe e muita no ciclismo, vinha ao de cima. Como comentara antes João Benta, da Rádio Popular Boavista, sem a passagem pela Torre por decisão da organização, esta ia ser mesmo a etapa rainha da prova.

Na passagem pela meta volante de Vila de Fermil de Basto, Filipe Cardoso, da Rádio Popular Boavista, conseguiu superar Hugo Sancho (Vito Feirense) e Thomas Deruette (Aqua Protect), mas era de David Rodrigues, outro corredor dos axadrezados, que se falaria durante largos minutos seguintes, depois de ser o primeiro a passar pela contagem de montanha do Barreiro (com Jesus del Pino, Efapel; Nathan Earle, Israel Cycling Academy; Hugo Sancho, Vito Feirense; e David de la Fuente, Aviludo Louletano) já com quase três minutos de avanço sobre um pelotão onde já eram os corredores da W52 FC Porto na frente.

Para trás já tinham ficado dois casamentos e o apoio de alguns locais com o acordeão a tocar na rua, à vista estava um autêntico mar de gente em Mondim de Basto, com milhares de pessoas na rua a saudar os ciclistas sem olhar a nomes nem camisolas, naquela que ficou como uma das principais imagens do dia. David Rodrigues liderava, mas o pelotão onde continuavam colados os elementos do Sporting Tavira e da W52 FC Porto começa a ter movimentações antes da subida final. A dez quilómetros do final, as imagens não deixavam dúvidas: era altura dos leões voltarem a atacar na frente. Fizeram-no, esticaram o grupo, mas foi sol de pouca e os azuis e brancos “agarraram” novamente no ritmo da subida.

Os quilómetros passavam, David Rodrigues continuava lá na frente mas a diferença ia caindo para pouco mais de 1.30 minutos a 4.000 metros da meta, altura em que Nathan Earle, já em dificuldades, foi apanhado. O mesmo aconteceu pouco depois com Del Pino. Ricardo Mestre, da W52 FC Porto, tanto puxou pelo ritmo do grupo perseguidor que o boavisteiro foi mesmo também alcançado, numa vitória que estava aberta entre os primeiros classificados da geral mas que acabou por cair para o suspeito do costume: Raúl Alarcón foi o primeiro na Senhora da Graça, ganhou a terceira etapa de 2018 e deu um passo de gigante rumo à revalidação do título. Se dúvidas ainda existissem, o espanhol é mesmo o mais forte desta Volta. E no dia em que a Volta passou por dois casamentos, o número 1 azul e branco preparou a boda para o segundo triunfo consecutivo.

Edgar Pinto, da Vito Feirense, acabou a etapa na segunda posição a cinco segundos; Vicente de Mateos, da Aviludo Louletano, terminou na terceira posição com mais sete segundos; Joni Brandão passou no quarto posto a nove segundos (David Rodrigues, que fez um esforço hercúleo este sábado, ficou-se pelo sexto lugar). O que, verdade seja dita, pouco ou nada mexe na classificação geral individual a não ser passar a vantagem de Alarcón para 1.01 minutos sobre o corredor verde e branco.