Villar Perosa é um pequeno município a cerca de 50 quilómetros de Turim com pouco mais de 4.000 habitantes que é falado em grande parte das ocasiões por ser o local onde a poderosa família Agnelli, dona da Fiat e da Juventus, tem a sua residência de verão (uma mansão apelidada de ‘Castelo’, construída ainda no século XVIII). É também um pequeno município que tem um ainda mais pequeno estádio, o Gaetano Scirea, com lotação máxima para cerca de 5.000 pessoas. E é também um pequeno município que tem as ruas cortadas há dois dias e 600 agentes de autoridade. Razão? Cristiano Ronaldo.

Como é habitual, e para manter uma certa ligação quase familiar entre clube e adeptos, a Juventus defronta naquele local a equipa Sub-23, conhecida como Primavera, numa espécie de troféu de pré-temporada para tifosi ver. É um dia quase de passeio de família, onde um jogo de futebol a feijões onde a Vecchia Signora sai sempre vencedora serve de pretexto para aproveitar o domingo e sair da rotina da cidade. No entanto, este foi o encontro que marcou a estreia do avançado português pela nova equipa, com quem começou a trabalhar há uns dias na plenitude depois do regresso do grupo de Allegri dos Estados Unidos. E gerou-se uma loucura sem precedentes na localidade (que agradece, porque com isso saiu-lhe o jackpot). Com uma certeza: depois do que aconteceu na praça de San Carlo em 2017, onde um barulho semelhante a uma explosão acabou por gerar um enorme caos entre os milhares e milhares de pessoas que ali viam nesse local a final da Champions, a segurança foi mais “apertada” perante a enchente confirmada há semanas, quando os ingressos voaram num ápice.

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“Este é um clube enorme. Desde pequeno que olhava para a Juventus e dizia: ‘Um dia vou jogar aqui’. Agora consegui que isso se concretizasse e estou numa das melhores equipas do mundo. E estou também contente porque sempre senti que os fãs italianos gostavam de mim”, contou o português em declarações ao canal do clube, recordando também o golo de pontapé de bicicleta em Turim para a Liga dos Campeões: “Já seguia o clube, via os jogos, mas a partir daquele momento fiquei a gostar ainda mais. Na Champions, nos quartos de final, marcares um golo e toda a gente aplaudir… Não foi o mais importante, mas acabou por ser mais um detalhe para vir para cá. Quando sentes o apoio do clube e dos adeptos, é tudo diferente”.

Como seria de esperar, as imagens de gáudio dos adeptos andavam ao ritmo de Ronaldo: o que quer que o português fizesse, era bem feito e merecia ser saudado. Até no aquecimento ou na altura em que os jogadores transportaram os títulos conseguidos na última temporada (Campeonato e Taça), era no português que se concentravam todos os olhares. No campo ou na bancada, entenda-se – por lá também pairavam muitos cartazes com a imagem do capitão da Seleção Nacional. Neste contexto, a titularidade do madeirense era quase uma inevitabilidade, num onze que contou também com Szczesny; Cuadrado, Bonucci (um regresso a Turim, depois de uma troca surpreendente com o AC Milan no ano passado), Chiellini, Alex Sandro; Emre Can, Betancur; Douglas Costa, Bernardeschi e Dybala, com quem o português tem estado mais próximo.

Entrada das equipas, euforia total. Início do jogo, a mesma coisa. Tal como acontecia no Real Madrid, qualquer bola que entra no último terço parece sempre ser atraída pelo português e os primeiros 20 minutos foram assim, sem tirar nem pôr: aos 5′, Ronaldo fez o primeiro remate mas ao lado; aos 8′, isolado com um grande passe por Bernardeschi, inaugurou o marcador; aos 10′, após um cruzamento de Douglas Costa, desviou ao lado; aos 18′, esteve no lance em que Capellini fez o 2-0 com um autogolo. Emre Can ainda viu um golo anulado, Douglas Costa acertou no poste (assistido pelo dianteiro nacional), Dybala aumentou para 4-0 (32′ e 40′, este último numa recarga após remate de CR7). No entanto, todos os renovados sonhos dos adeptos bianconeri tinham parado no momento em que Ronaldo marcou o seu primeiro golo com a camisola da Juventus.

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O adversário não era propriamente o mais complicado, mas a estreia de Cristiano Ronaldo acabou por correr mundo num jogo (sobretudo o primeiro golo) que ao intervalo já tinha 4-0 no marcado. Dybala marcou dois golos, mas todos os olhos estiveram sempre focados no português, que ganhou confiança e até remates mais acrobáticos tentou no regresso aos relvados. Contas feitas, e nos primeiros 45 minutos, fez um golo e teve intervenção direta em mais dois. Ou seja, o costume. E acabou por sair ao intervalo, num jogo em clima de festa onde os jogadores aproveitaram também para dar alguns autógrafos. Marchisio ainda fez o 5-0 mas, aos 70 minutos, uma invasão de campo acabou por terminar mais cedo o jogo. Tudo sempre em festa.