O fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, escreveu esta quarta-feira no Twitter que vai cancelar o convite que fez a Marine Le Pen, depois de todas as reações que leu online na noite passada e dos conselhos que recebeu.

“É claro para mim que a decisão correta para a Web Summit é rescindir o convite a Marine Le Pen. A sua presença é desrespeitosa para o nosso país anfitrião. E também é desrespeitosa para os muitos milhares de participantes que se vão juntar a nós de todo o mundo”, escreveu no Twitter Paddy Cosgrave.

O líder daquela que é a maior conferência de empreendedorismo e tecnologia da Europa mostra-se disponível para receber sugestões de pessoas que sejam “consideradas apropriadas para discutir uma série de assuntos que afetem a tecnologia e a sociedade” e que a sua ambição é que a Web Summit seja reconhecida como uma “plataforma de debate rigoroso”.

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Na terça-feira, Paddy tinha escrito um longo texto no Medium no qual afirmava que estava disposto a cancelar o convite que fez à líder do partido de extrema direita Frente Nacional se o Governo assim o entendesse e pedisse: “Se os nossos anfitriões em Portugal, o governo português, nos pedirem para cancelar o convite de Marine Le Pen, iremos, evidentemente, respeitar esse pedido e fazê-lo imediatamente”, escreveu.

Paddy Cosgrave: “Se o Governo pedir para cancelarmos o convite a Marine Le Pen, cancelamos imediatamente”

Na manhã desta quarta-feira, o Ministério da Economia emitiu um comunicado no qual afirmava que não iria envolver-se na polémica que envolve Le Pen e se demarcava de qualquer intervenção na seleção de oradores de uma conferência privada.

“A Web Summit é um evento tecnológico e de inovação, com milhares de oradores, que atrai anualmente a Portugal dezenas de milhares de empreendedores e investidores. Trata-se de um fórum alargado de discussão de tendências de mercado, cujo alinhamento – oradores e programa – é da exclusiva responsabilidade da organização”, lê-se na nota, que é citada pelo Dinheiro Vivo.

O convite que a Web Summit fez a Le Pen tem estado debaixo de críticas, o que levou a SOS Racismo a lançar uma petição para impedir a líder da Frente Nacional de vir a Lisboa e o PSD a afirmar que caso Le Pen venha a Portugal, só há uma solução: a Câmara Municipal de Lisboa retirar o patrocínio que faz à Web Summit.

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Na terça-feira, Paddy Cosgrave admite que a “decisão fácil” seria cancelar o convite a Marine Le Pen, mas que tinha optado por não o fazer, porque acreditava que “proibir ou tentar ignorar estes pontos de vista, que foram difundidos pela tecnologia, pouco contribui para promover a compreensão”. No entanto, mostrou-se sensível à opinião do Governo e dos portugueses.

“A história recente de Portugal é algo diferente e eu estou de mente aberta e sensível a esse facto. Em última instância, os interesses dos nossos anfitriões, Portugal, e do povo português devem ser postos acima dos interesses da Web Summit”, concluiu., escreveu Paddy.

Menos de 24 horas depois, surgiu o cancelamento oficial. A edição deste ano da Web Summit realiza-se entre 5 e 8 de novembro, no Altice Arena e na FIL. São esperadas cerca de 70 mil pessoas. Na edição do ano passado, participaram no evento, segundo a organização, 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil startups, 1.400 investidores e 2.500 jornalistas acreditados.

Fundada por Paddy Cosgrave, na Irlanda, em 2010, a Web Summit tornou-se num dos eventos de empreendedorismo e tecnologia mais importantes do mundo. O contrato com o Governo português termina em 2018, mas o executivo tem estado a tentar convencer os irlandeses a ficar no país por mais 10 anos. A proposta portuguesa está a concorrer com a de cidades como Madrid, Londres, Paris e Valência e, segundo o que o Observador apurou, está “em desvantagem”.

Web Summit. Proposta do Governo “em desvantagem” face à de Londres, Paris ou Madrid