Era de madrugada quando soldados bolcheviques fuzilaram os sete Romanov, juntamente com a sua criada, o mordomo, o cozinheiro e o seu médico. Teriam que esperar mais de 73 anos, até 1991, para nove dos 11 corpos serem recuperados. Só no verão de 2007 quando um grupo de especialistas sem quaisquer ligações governamentais foi capaz de encontrar os dois cadáveres em falta, de Alexei, herdeiro do trono, e de Maria, a terceira filha do czar, enterrados sob uma pequena elevação entre as árvores.

“Não sou o ‘Indiana Jones’, ele é muito mais bonito do que eu”, brincou Leonid Vojmyakov, um dos autores da “descoberta do século na Rússia”, em entrevista ao El Mundo. A chave para a descoberta esteve sempre lá, nas palavras do homem que fuzilou os Romanov, garantiu Vojmyakov. Ao contrário do que sempre se pensou, no relatório, o revolucionário não disse ter enterrado os corpos em duas covas abertas uma ao lado da outra, mas sim em duas sepulturas na mesma área.

Nicolau, ex-czar de toda a Rússia, a mulher, os cinco filhos e os empregados que tinham percorrido com eles metade do país até virem a ocupar a Casa Ipatiev, foram brutalmente assassinados na adega da moradia de dois andares que, antes de o Exército Vermelho tomar conta de Ecaterimburgo, tinha pertencido a um engenheiro de minas abastado.

Depois de assassinados, os cadáveres dos Romanov foram transportados dentro da carrinha Fiat até um bosque, desfigurados com ácido sulfúrico e enterrados em duas valas com poucos centímetros de profundidade, abertas no meio de uma estrada.

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100 anos depois, haverá paz para os Romanov?

Leonid tem uma vasta experiência de prospeção. Ao longo da sua vida trabalhou na busca de corpos de soldados da Segunda Guerra Mundial. “Numa ocasião, encontrei um soldado espanhol da Divisão Azul perto do que era Leninegrado, agora São Petersburgo”, contou. No entanto, a procura de soldados é sempre mais fácil. Geralmente, têm consigo objetos de metal que são facilmente encontrados com um detetor de metais. No caso dos Romanov a situação era diferente.

Era como procurar uma agulha num palheiro. Para procurar os restos mortais dos Romanov tiveram de picar o terreno às cegas, com uma haste de metal afiada e não muito comprida. “Eu sabia que seria suficiente porque os bolcheviques cavaram com pressa. Não podiam escondê-los a mais de um metro de profundidade”, afirmou. Com experiência suficiente é possível distinguir um osso de uma pedra.

E tinha razão. No dia 29 de julho chegou a descoberta. “Eu senti alguma coisa naquele buraco”, conta Leonid. Usou a sua pá e encontrou cinzas e restos de algo que havia sido queimado. A terra também tinha sido mexida. Tinha acertado.

Ossos de diferentes tamanhos espalhados no local, balas de diferentes calibres e fragmentos de cerâmica. Ao todo, foram encontrados 44 fragmentos de ossos e dentes. “Peguei partes do crânio, partes do pélvis, a tíbia queimada, parte do antebraço, um pequeno pano queimado e uma peça de cerâmica”, contou.

Restava comprovar a autenticidade da descoberta. Foram efetuados testes de forma independente por quatro laboratórios distintos e os resultados divulgados em dezembro de 2008. A correspondência foi de 100%, ficando assim confirmada a autenticidade não só dos restos mortais da primeira sepultura, como também dos da segunda. Alexei e Maria tinham sido finalmente encontrados, acabando com a especulação de que os dois irmãos tinham escapado ao fuzilamento dos soldados bolcheviques.