Milhares de nicaraguenses manifestaram-se na quarta-feira em Manágua para exigir a demissão do Presidente, Daniel Ortega, e a libertação dos opositores detidos desde o início da crise política.

“Liberdade para os nossos prisioneiros políticos!” e “Vá-se embora!”, gritaram os manifestantes, quatro meses após o início da revolta popular contra o chefe de Estado, durante os quais mais de 300 pessoas foram mortas. “Libertem os prisioneiros políticos, porque eles não cometeram qualquer dos crimes inventados por esse maldito Daniel Ortega, ele é que matou o povo”, declarou Carla Areas, uma quadragenária que participou no protesto com os dois filhos pequenos, citada pela agência noticiosa francesa AFP.

Os opositores marcharam ao longo de sete quilómetros pelas ruas da capital da Nicarágua, agitando fotografias dos detidos e bandeiras do país, ao som de assobios e tambores.

Os manifestantes desfilaram pela cidade apesar de uma lei, adotada em julho a pedido do Governo, que classifica como “ato terrorista” a participação em protestos, um crime passível de uma pena de até 20 anos de prisão. “As pessoas saem à rua sabendo que têm uma pistola apontada à cabeça, que a qualquer momento eles vão apanhar-nos e acusar-nos de ser terroristas”, explicou um manifestante que se apresentou como Nestor.

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Segundo Nestor, perante “tanta injustiça”, as pessoas atingiram “o limite” da sua paciência. “Muitas pessoas foram presas sem qualquer razão. O Governo não tem qualquer razão para colocar na prisão civis cujo único crime é expressarem os seus sentimentos”, sublinhou Tania González, de 26 anos.

Cerca de 500 nicaraguenses foram detidos e encarcerados por terem participado em protestos, e 180 deles foram acusados de terrorismo e outros crimes, segundo o Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos.

Os opositores a Daniel Ortega, de 72 anos e no poder há 11, acusam-no de corrupção, de nepotismo e de ter instaurado uma ditadura com a mulher, Rosario Murillo, que é vice-presidente. As manifestações da oposição começaram a 18 de abril contra uma reforma da segurança social — entretanto abandonada — e intensificaram-se em seguida, alastrando a todo o país em reação a uma violenta repressão que fez mais de 300 mortos.