A ameaça do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI), presente no norte do Burkina Faso, está a espalhar-se para o leste do país, que deve “colocar grandes meios” para contê-la, segundo os especialistas.

No passado fim-de-semana, cinco polícias e um civil foram mortos numa emboscada contra um comboio a cem quilómetros de Fada N’Gourma, principal cidade da região leste do Burkina Faso. O veículo principal saltou numa mina e, de seguida, os atacantes dispararam. O incidente foi classificado como um “ataque terrorista” pelo Ministério da Defesa do Burkina Faso, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

“O modo de ataque não é novo, pois há muitos do seu tipo na região do Sahel. Mas este é o primeiro caso na região leste, que resultou num balanço tão pesado”, afirmou Abdoul-Karim Sawadogo, analista do Burkina Faso e especialista em segurança, citado pela AFP. Para Paul Koalaga, consultor em geopolítica e segurança do Burkina Faso, a “região leste tem estado no olho da tempestade”. “Já era uma área reconhecida por ataques de banditismo, mas também está a começar a ser alvo de ataques terroristas”, referiu.

A 17 de junho, um polícia foi morto e ocorreu um duplo ataque simultâneo contra duas esquadras da polícia e da força militar na localidade de Comin-Yanga. A capital do Burkina Faso, Ouagadougou, foi atingida por três ataques em dois anos, o que provocou quase 60 vítimas mortais.

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De acordo com a AFP, é no norte do país que a situação “é mais preocupante”. No final de abril, um relatório oficial, citado pela AFP, relatava 133 mortos em 80 ataques, durante três anos naquela região, visando nomeadamente os representantes do Estado.

Segundo Abdul-Karim Sawadogo, a recente expansão de ataques no leste do Burkina Faso deve-se à pressão exercida por grupos ´jihadistas´ no Mali e Níger, pela força francesa Barkhane e pela força africana do G5 Sahel. Um especialista militar, disse à agência France-Presse, sob condição de anonimato, que sabiam que naquela zona “havia tentativas de tomar posições de alguns grupos ´jihadistas´”. “O leste do Burkina Faso é uma área não densamente povoada, há muitas florestas onde se pode esconder, é uma área favorável”, referiu.

De acordo com a mesma fonte, o exército do Burkina Faso estava a realizar operações de “limpeza” há vários dias na área onde ocorreu o último ataque. “A estratégia contra o terrorismo não está totalmente desenvolvida”, disse o especialista militar, que destaca a fraqueza dos serviços de inteligência. Estes estavam assentes no Regimento de Segurança Presidencial, que foi desmantelado após uma tentativa de golpe de 2015.

Paul Koalaga, consultor em geopolítica e segurança, afirmou que “apesar dos esforços, da vontade real e da retórica tranquilizadora do governo”, existe “uma clara progressão do terrorismo”. “A Burkina deve empregar grandes meios para enfrentá-lo, contar com suas próprias forças, e não apenas descansar no G5 Sahel”, referiu.