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Braga está pronta para Ahmed Fakroun, rei da disco e funk, "Talking Heads da Líbia" que os americanos resgataram do passado

Este artigo tem mais de 5 anos

Foi um pioneiro da música árabe nos anos 70 e 80. Viveu na Europa, fez discos marcantes e desapareceu do mapa. A internet e os DJ trouxeram-no de volta. Agora em Portugal, falou com o Observador.

Ahmed Fakroun, 65 anos, atua esta noite em Braga
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Ahmed Fakroun, 65 anos, atua esta noite em Braga

Ahmed Fakroun, 65 anos, atua esta noite em Braga

Foi numa tarde de 1973 ou 1974, assim de cabeça Ahmed Fakroun não se recorda ao certo. Estava em Inglaterra, para onde tinha viajado de Benghazi, cidade líbia onde nasceu e cresceu, para ir estudar inglês. Nessa tarde, o poiso era um “social club” londrino, um clube da cidade onde se juntava gente com o mesmo interesse: a música. Foi lá que o cantor e músico, hoje com 65 anos, começou a sua carreira internacional, foi ali que conheceu o radialista Tommy Vance, o primeiro produtor discográfico europeu que o ajudou a gravar um disco. O percurso foi bem sucedido durante alguns anos, até quase desaparecer do mapa no final dos anos 1980, quando da Líbia começaram a chegar notícias de bombardeamentos norte-americanos em 1986. Redescoberto por DJ americanos, voltou aos palcos, às colaborações, às digressões. Esta sexta-feira, é o Theatro Circo, em Braga, que o recebe, em concerto agendado para as 22h.

A história foi recordada pelo cantor, ao telefone com o Observador a partir da Holanda, há poucos dias. Com muitos risos e alguma nostalgia à mistura, Fakroun reviveu durante alguns minutos a história de um percurso musical singular, de um pioneiro da música árabe que misturou sons tradicionais africanos (por exemplo, música rai, variante da folk nascida na Argélia) com ritmos disco, art rock e funk populares em França, Itália, Inglaterra e Estados Unidos da América. Um percurso que lhe valeu o epípeto de Talking Heads líbio, que travou durante alguns anos mas voltou aos holofotes quando um DJ nova-iorquino chamado Prince Language remisturou e trouxe à tona uma pérola da primeira metade dos anos 1980, “Soleil Soleil”. A internet fez o resto, culminando tudo nesta vinda do músico a Portugal pela primeira vez.

“Esta será a minha primeira vez, tenho muito prazer em ter recebido um convite deste teatro. Mal posso esperar por atuar aí”, disse ao Observador, num inglês percetível mas esforçado.

Famoso por tocar numerosos instrumentos, dos mais ocidentais guitarra, teclado e baixo a instrumentos de quatro cordas turcos (como o saz) ou instrumentos de percussão árabes, como o derbake, Ahmed Fakroun apaixonou-se cedo pela música. A palavra que usou foi mesmo essa, “paixão”: “Era aquilo que prendia a minha atenção. Lembro-me de ir com a minha mãe para a escola onde ela era à época professora e uma das professoras que trabalhava lá tinha uma caixinha de música. Eu abria-a e aquele som fazia-me sonhar sempre que o ouvia”.

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Se Fakroun se distinguiu de muitos dos seus contemporâneos árabes que faziam música, era precisamente pela mistura dos ritmos tradicionais que cresceu a ouvir com música de outras culturas, que o inspiraram desde cedo. “Naquela altura estávamos abertos a todas as culturas na Líbia”, contou, acrescentando: “Ouvia música a toda a hora, era recetivo a tudo desde que fosse música vinda do coração. Com isso ficava fascinado. Música italiana, inglesa, francesa, americana…”, exemplificou.

As gravações foram várias entre 1974 e 1987, lançadas em editoras sobretudo francesas e italianas, regiões onde também viveu, mas também (imagine-se) em sucursais colombianas de grandes editoras multinacionais. Por exemplo, Nisyan, obra-prima de funk, no ponto certo entre a música étnica e o apelo global, em que contou com a colaboração do músico Nicolas Vangelis. O já referido Soleil Soleil, também. Ou ainda Mots d’Amour, o seu último grande sucesso antes do eclipse justificado, em parte, pelas dificuldades acrescidas geradas pelo bombardeamento norte-americano. Afinal, nos anos seguintes a esse ataque, para viajar de Benghazi para capitais europeias, Fakroun chegou a ter de viajar primeiro até à fronteira com a Tunísia. A alternativa era apanhar um barco noturno até Malta e só depois rumar diretamente ao ponto de destino.

Apesar do eclipse, Fakroun diz que “andou por aí”. E mais não diz. Se os DJ e fãs da cultura da música eletrónica norte-americana o trouxeram de volta, discutindo o seu legado em blogues e sites, é com uma banda turca, Altin Gün, que o músico tem revisitado os êxitos antigos. Apesar de ter atuado recentemente, por exemplo, no festival Le Guess Who?, os concertos não são assim tantos e as entrevistas são ainda menos. Mas enquanto o prazer da música se mantiver, para Fakroun está tudo bem.

“Se fizeres as coisas com amor, certamente que as pessoas vão ouvir-te e partilhar a tua música. Lembro-me disto: um dia, há não muitos anos, estava em Inglaterra e de repente reparei numa jovem rapariga, que andava com um gravador de áudio e uma coluna na rua. Parecia-me que conhecia a música que estava a tocar. Quando ela se aproximou, descobri que estava a ouvir as minhas canções”. Ahmed rematou isto com muitos risos, antes de lamentar a situação que ainda se vive no seu país (“Lamento que as pessoas não consigam juntar-se, estar bem. Há problemas em todo o mundo, diga-se”) e mostrar-se curioso quanto a Portugal: “Adoro música de sítios diferentes e quero descobrir a portuguesa. Mas para a poder conhecer tenho de estar no sítio em que ela é feita”. Logo à noite, talvez nos fale um pouco sobre isso.

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