O procurador-geral da Pensilvânia, Josh Shapiro — responsável pela investigação do Grande Júri que revelou mais 300 padres que terão cometido abusos sexuais de menores — enviou uma carta ao Papa Francisco onde lhe pede ajuda para atuar contra os padres abusadores para que “abandonem os seus esforços destrutivos para silenciar os sobreviventes”. Shapiro pede ainda para que a Igreja Católica cumpra o plano proposto pelo Papa de responsabilizar os abusadores ou os que “falham na proteção das crianças”, como os bispos.

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“Tristemente, parte do clero que lidera a Igreja na Pensilvânia falhou e não ouviu as suas palavras”, escreveu o procurador na missiva, divulgada pela CNN. “Peço-lhe respeitosamente que direcione os líderes da Igreja para que eles sigam o caminho que propôs no Seminário em 2015.” Na carta, Shapiro acusa ainda dois líderes da Igreja na Pensilvânia de terem orquestrado esforços para travar a divulgação do relatório — o Supremo Tribunal da Pensilvânia decidiu em junho que o relatório não deveria ser publicado na íntegra, tendo em conta as várias queixas apresentadas por pessoas nomeadas no relatório.

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A procuradoria afirma que não recebeu ainda qualquer resposta por parte da equipa do Papa Francisco. A carta surge depois de ser conhecido o resultado da investigação do Grande Júri da Pensilvânia, que concluiu que mais de mil menores foram abusados ao longo de anos em seis paróquias do estado da Pensilvânia, por cerca de 300 padres, muitas vezes com a conivência de bispos.

O Papa Francisco reagiu em comunicado, divulgado 48 horas depois de ser publicado o relatório da Pensilvânia. Nele, o Vaticano explica que “as vítimas devem saber que o Papa está do seu lado” e resume o sentimento da Igreja em relação a estas notícias como sendo de “vergonha e arrependimento”.

Leia na íntegra a carta enviada pelo procurador Josh Shapiro:

“Sua Santidade:

Tive o prazer de recebê-lo oficialmente no Seminário de St. Charles Borromeo em Wynnewood, Pensilvânia, quando chegou para o Encontro Mundial de Família a 27 de setembro de 2015. Foi uma grande honra receber cumprimentos e bênçãos suas. Sou um grande admirador seu e do seu trabalho — especialmente do seu compromisso para lutar pelos indefesos.

Foi no Seminário, pouco depois da nossa conversa, que quis encontrar-se com um grupo de sobreviventes de abuso sexual. De acordo com os registos oficiais do Vaticano, nesse encontrou Sua Santidade expressou arrependimento, tristeza, pediu desculpas às vítimas e declarou estar “profundamente arrependido de que a vossa inocência tenha sido violada por aqueles em quem confiaram”. Sua Santidade continuou a expressar remorsos por a Igreja ter falhado em ouvir e em acreditar neles durante tanto tempo, mas que agora você, o Santo Padre, “ouve e acredita em vocês”. Prometeu “seguir o caminho da verdade onde quer que ele leve. O clero e os bispos serão responsabilizados quando abusarem ou não conseguirem proteger as crianças.” Fiquei comovido pelas suas palavras, a sua compaixão e o seu compromisso.

Infelizmente, parte do clero que lidera a igreja na Pensilvânia falhou e não acatou as suas palavras. Uma investigação profunda do Gabinete do Procurador-Geral encontrou abuso sexual de menores generalizado e um encobrimento sistémico por parte dos líderes da Igreja Católica. No mês passado, decidi divulgar os resultados da nossa investigação. À medida que me preparava para tal, requerentes anónimos implicados neste relatório foram a tribunal para me impedir e para silenciar as vítimas, apesar do facto de os bispos da Pensilvânia se terem comprometido publicamente a não se atravessarem no caminho da verdade. Relatos credíveis indicam que pelo menos dois líderes da Igreja Católica na Pensilvânia — mesmo não tendo desafiado a divulgação do relatório nos tribunais — estão por trás destes esforços para silenciar as vítimas e evitar a responsabilização.

Sua Santidade, peço-lhe respeitosamente que direcione os líderes da igreja para que eles sigam o caminho que propôs no Seminário em 2015 e que abandonem os seus esforços destrutivos para silenciar os sobreviventes. Em vez disso, por favor inste-os a ‘seguir o caminho da verdade’ que desenhou e permita que o processo de cura tenha início. Agradeço-lhe pela consideração e pela preocupação.

Com os melhores cumprimentos,

Josh Shapiro”