Quando o italiano Maurizio Sarri foi apresentado como sucessor do compatriota Antonio Conte ao leme do Chelsea, deixou, desde logo, a sua declaração de intenções. “Se uma equipa se diverte, muitas vezes os adeptos também se divertem. Isto é muito importante. Queremos atingir objetivos ambiciosos, mas primeiro temos de nos divertir“. Isto é tudo muito bonito, mas se não passa para dentro de campo, nada feito. Willian veio esta semana, na antecâmara do dérbi londrino com o Arsenal, confirmar que as palavras do treinador passaram mesmo para as quatro linhas: “Se é divertido jogar assim? Eu acho. Se parece o samba brasileiro? Sim. É isso que fazemos no Brasil e estamos a tentar fazer aqui, jogar com habilidade e movimento”.

Desde o primeiro minuto o Chelsea foi assim. Um autêntico carrossel, com dinâmica, passes curtos, desmarcações rápidas, os jogadores a trocarem de posição e a baralharem os adversários, sempre a velocidade nas movimentações e a pressão alta que não deixa a outra equipa construir. Foi assim que, logo aos 9 minutos, os blues chegaram à vantagem. Mkhitaryan ficou a ver navios, o espanhol Marcos Alonso avançou pela esquerda e serviu o compatriota Pedro Rodríguez para o 1-0.

Aos 19′, Aubameyang teve um daqueles falhanços proibidos — sobretudo tendo em conta a avalanche do adversário. Sem marcação no centro da área, o gabonês não conseguiu melhor do que um remate por cima. O jogo estava vivo, tão vivo que na jogada seguinte Morata surgiu nas costas dos centrais, venceu a marcação de Mustafi e atirou para o 2-0. O espanhol, contratado a peso de ouro (66 milhões de euros) para render Diego Costa (que se desentendeu com Conte e teve de procurar outro destino) já não marcava desde 1 de abril, na derrota do Chelsea diante do Tottenham (3-1).

Só podia ser este o samba de que falava Willian e o jogo que divertia, apresentado por Sarri. Mas isto é a Premier League. Isto é um dérbi. E do outro lado estava um Arsenal que foi mordaz na ponta final do primeiro tempo. Mkhitaryan redimiu-se do falhanço aos 32′ e, cinco minutos depois, reduziu a desvantagem para 2-1: numa bomba à entrada da área bateu Kepa Arrizabalaga — contratado esta época como o guarda-redes mais caro da história do Chelsea (80 milhões de euros), mas que acusou o peso de substituir Courtois.

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O jogo desenhava-se em parada-resposta: logo depois do golo do Arsenal, Morata desferiu um tiro que obrigou Petr Cech a esticar-se, mas apenas quatro minutos depois Mkhitaryan, que já tinha marcado, apareceu pela direita e, num cruzamento rasteiro e mortífero, serviu Iwobi para o empate na primeira jogada com cabeça, tronco e membros do Arsenal.

Era preciso o carrossel blue voltar a girar, e girou, mas a segunda parte desenvolveu-se num ritmo mais lento. O Chelsea voltou a assumir o jogo — basta ver que, à passagem do minuto 20 da etapa complementar a formação de Sarri tinha 68% de posse de bola — e o Arsenal só a espaços conseguiu criar perigo, como quando Kepa defendeu para a frente o remate de Ramsey e Lacazette e Torreira quase aproveitaram (77′).

Foi já ao cair do pano (81′) que o duelo se decidiu. Grande trabalho individual de Hazard pela esquerda (a passar com facilidade por Lacazette), ao mesmo tempo que Marcos Alonso correu para a área, fugindo à marcação e batendo Petr Cech: 3-2. O guarda-redes checo foi decisivo para o Arsenal perder pela margem mínima, já que socou os remates de Hazard (86′) e Giroud (88′ e 94′). A dada altura as câmaras televisivas captaram Unai Emery a cerrar os punhos, tentando incentivar os jogadores. Mas a garra do técnico espanhol não foi suficiente para travar o samba de Sarri.