As principais organizações não-governamentais australianas, assim como ativistas e partidos da oposição, colocaram em marcha uma campanha nacional que apela à libertação das crianças refugiadas detidas no Centro Regional de Processamento de Nauru, uma pequena ilha no Oceano Pacífico. 119 crianças vivem atualmente neste centro de refugiados controlado pela Australian Border Force e a grande maioria estará a precisar de cuidados médicos urgentes.

Uma das crianças, um rapaz iraniano de 12 anos, está gravemente doente e tem recusado comer nas últimas duas semanas. “Só podemos assumir que ele está deprimido devido ao progressivo abandono dos diferentes aspetos da vida. Sabemos que ele recusa comer e beber”, explicou à CNN Barri Patharfod, presidente dos Médicos para os Refugiados. O rapaz pesa atualmente 36 quilos e já não consegue andar; mas a transferência para a Austrália continua a não ser permitida. Ainda assim, de acordo com Patharfod, este é apenas um dos casos urgentes que precisam de ser transferidos para a Austrália para receber cuidados hospitalares.

Os refugiados detidos no Centro Nacional de Processamento de Nauru foram para lá transferidos sob a rígida política de imigração australiana, que impede qualquer pessoa que chegue ao país de barco de permanecer na Austrália. Ainda que o Governo australiano insista que as crianças já não estão detidas, a verdade é que nenhuma família é autorizada a deixar Nauru.

Mais de 30 organizações não-governamentais australianas juntaram-se este domingo para exigir ao Governo australiano a libertação das crianças até 20 de novembro, o Dia Universal da Criança. Como parte da campanha – que está a ser feita principalmente nas redes sociais, com a hashtag #KidsOffNauru – foram divulgadas imagens de três crianças que vivem em Nauru. Duas delas, uma com 2 anos e outra com 3, já nasceram no centro de detenção. Em comunicado, os pais das crianças afirmaram que não sabem “o que lhes reserva o futuro”. “As nossas crianças são como quaisquer outras em qualquer parte do mundo, mas não são autorizadas a ser livres”, acrescentaram.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os casos de greves de fome, como o do rapaz de 12 anos, multiplicam-se e chegam a agravar-se para episódios de mutilação, auto-imolação, depressão e tentativas de suicídio. Os registos de danos físicos e psicológicos são abundantes mas Barri Patharfod encontra outra justificação para estes casos. “A única maneira de ser transferido de Nauru para a Austrália para tratamento médico é risco de morte iminente”, explica a presidente dos Médicos para os Refugiados. Várias crianças estão ainda a regredir e apresentam-se agora menos desenvolvidas do que quando chegaram a Nauru.

O Centro Regional de Processamento de Nauru foi originalmente aberto em 2001. Foi encerrado em 2008 enquanto cumprimento de uma promessa eleitoral do recém-eleito primeiro-ministro Kevin Rudd. Reabriu em agosto de 2012 por decisão do executivo de Julia Gillard, depois de um grande aumento das chegadas de refugiados por via marítima e de muita pressão por parte da oposição. A recusa em permitir a estes refugiados a permanência na Austrália, de acordo com o Governo australiano, prende-se com uma tentativa de evitar mortes em alto mar e alimentar as redes de tráfico humano. O centro de detenção regressou à discussão no parlamento australiano no passado dia 13 de agosto, quando Andrew Wilkie, deputado independente, pediu ao Governo para “parar de fazer política com vidas” e enumerou vários casos de pessoas com problemas de saúde urgentes que estão em Nauru.

“Um rapaz de 12 anos que teve duas overdoses nas últimas duas semanas, uma rapariga de 11 anos que tem tendências suicidas, um rapaz de oito anos com autismo que precisa de apoio substancial, uma mulher de 27 anos que foi agredida sexualmente em Nauru e tem tanto medo de sair da cama que faz as necessidades num balde”, disse Andrew Wilkie num discurso na Câmara dos Representantes.

Até agora, o Governo australiano não revelou qualquer intenção de tomar uma medida quanto às 119 crianças detidas em Nauru. Em novembro de 2015, viviam 543 pessoas no Centro Regional de Processamento da ilha do Pacífico.