O Procurador-Geral norte-americano, Jeff Sessions, reagiu às recentes declarações do Presidente Donald Trump, que o criticou abertamente por não ter intervindo na investigação por suspeitas de conluio da campanha presidencial com o Governo russo. “Enquanto eu for Procurador-Geral, as ações do Departamento da Justiça não serão influenciadas de forma imprópria por considerações políticas”, declarou Sessions em comunicado, esta quinta-feira.

A reação surgiu na sequência de uma entrevista dada pelo Presidente dos Estados Unidos à Fox News, emitida nesse mesmo dia, onde Trump aproveitou para criticar abertamente o Procurador-Geral do seu Governo: “Escolhi um procurador que nunca assumiu o controlo do Departamento da Justiça. É uma coisa incrível.”

Questionado sobre se pretende demitir Sessions — já que o cargo de Procurador-Geral nos Estados Unidos é ocupado por nomeação do próprio Presidente e funciona como o de um membro do Governo —, Trump optou por reforçar o seu descontentamento com a ação do Procurador relativamente à investigação do procurador-especial Robert Mueller, sobre o alegado conluio entre o Governo russo e a campanha de Trump.

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Ele aceitou o cargo e depois disse ‘vou-me retirar disto’. Eu disse-lhe: ‘que tipo de homem é este?'”, disse o Presidente à Fox News.

A entrevista foi gravada na quarta-feira, um dia depois de o antigo advogado de Trump, Michael Cohen, ter implicado o Presidente em dois crimes relacionados com a lei de financiamento de campanha e de o antigo diretor de campanha do Presidente, Paul Manafort, ter sido condenado por fraude fiscal e bancária.

O Presidente dos Estados Unidos foi implicado num crime. E agora?

Na sua reação, Sessions respondeu diretamente à acusação de que não tinha assumido o controlo do seu Departamento, respondendo que o fez desde o dia em que tomou posse. “É por isso que temos tido um sucesso sem precedentes ao aplicar a agenda do Presidente”, declarou no mesmo comunicado.

Donald Trump já reagiu ao comunicado do Procurador-Geral através do Twitter. Dirigindo-se diretamente a Jeff Sessions e começando por citar a frase do Procurador sobre uma influência “imprópria”, o Presidente indicou os assuntos que considera que o Departamento da Justiça deveria investigar em vez das suspeitas de conluio com os russos: “Jeff, isto é ÓTIMO, é o que toda a gente quer, por isso olha para toda a corrupção ‘do outro lado’ incluindo os emails apagados, as mentiras e fugas de informação do Comey, os conflitos do Mueller, o McCabe, o Strzok, o Page, o Ohr…”, disse, referindo-se a alguns agentes do FBI envolvidos na investigação de Mueller que se viram envolvidos em vários escândalos. E continuou: “…os abusos do FISA [Foreign Intelligence Surveillance Act, lei que rege os sistemas de vigilância], o Christopher Steele e o seu Dossiê falso e corrupto sobre a Fundação Clinton, a vigilância ilegal à Campanha Trump, o conluio entre os russos e os democratas — e muito mais.”

O Presidente continuou, dando o exemplo da pena aplicada a Reality Winner, trabalhadora da NSA que divulgou informação classificada (63 meses), e considerando-a coisa pouca “quando comparado ao que a Hillary Clinton fez”. “Tão injusto Jeff, Dois Pesos e Duas Medidas.”

De acordo com o New York Times, vários congressistas republicanos apoiaram o Procurador-Geral, alertando o Presidente para o facto de que seria má ideia demitir Sessions. “Não temos tempo nem há outro candidato provável que conseguisse ser aprovado [pelo Congresso] nas circunstâncias atuais, na minha opinião”, declarou o senador John Cornyn. O porta-voz do líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, declarou não estar a par de nenhuma mudança relativamente ao apoio de Trump a Sessions.

A Reuters/Ipsos realizou uma sondagem desde terça-feira, dia em que foi conhecida a condenação de Manafort e as declarações de Cohen em tribunal, que dá conta de uma ligeira queda no apoio ao Presidente, de 43% para 37%. A sondagem mostra uma descida mesmo entre os eleitores republicanos, com uma redução dos 81% de taxa de aprovação da semana anterior para 78%.