A Turquia alertou esta sexta-feira Moscovo, que intervém militarmente na Síria apoiando o regime de Damasco, contra uma possível “catástrofe” no caso de uma “solução militar” em Idlib, último grande feudo rebelde no país. Uma ofensiva do regime sírio contra aquela província na fronteira com a Turquia parece iminente, mas será pouco provável sem acordo de Ancara, que apoia os rebeldes.

Os contactos entre a Rússia e a Turquia intensificaram-se nas últimas semanas e uma importante delegação turca deslocou-se esta sexta-feira a Moscovo. “Uma solução militar causaria uma catástrofe não apenas para a região de Idlib, mas também para o futuro da Síria. Os combates poderiam durar muito tempo, os civis serão afetados”, declarou o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, numa conferência de imprensa ao lado do seu homólogo russo, Serguei Lavrov.

O regime de Damasco, do qual Moscovo é o principal aliado, quer reconquistar a região no noroeste da Síria, 60% da qual é dominada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS, formado por membros do antigo ramo da Al-Qaeda) e que conta também com uma multitude de grupos rebeldes.

“No entanto, é importante que os grupos radicais, os terroristas, sejam impedidos de causar perigo. Também é importante para a Turquia, pois estão do outro lado da nossa fronteira. Eles representam primeiro uma ameaça para nós”, adiantou Cavusoglu.

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Último grande feudo dos rebeldes e dos ‘jihadistas’ na Síria, Idlib faz parte das “zonas de distensão” criadas nas negociações de paz de Astana, patrocinadas pela Rússia, Turquia e Irão. É para esta província que o regime tem enviado os rebeldes e civis que faz sair das áreas reconquistadas após cercos e assaltos muito violentos.

Lavrov reconheceu que a situação em Idlib é “muito difícil”, mas assinalou que quando foi criada uma “zona de distensão” em Idleb “ninguém propunha utilizar esta zona para combatentes, antes de mais os da Frente al-Nusra (“jihadistas”), se esconderem, servindo-se dos civis como escudo humano”. O chefe da diplomacia russa disse que aqueles “jihadistas” não apenas se escondem na província, mas que “há ataques e tiros permanentes a partir dessa zona contra as posições do exército sírio”.

Lavrov disse ainda que recentemente foram lançados a partir de Idlib cerca de cinco dezenas de ‘drones’ (veículos aéreos não tripulados) visando a base aérea russa de Hmeimim, que as forças russas destruíram. Iniciada em 2011, a guerra da Síria já causou mais de 350.000 mortos e obrigou milhões de pessoas a abandonarem as suas casas.