Quando chegou a Inglaterra, naquela que foi a primeira experiência no estrangeiro depois de mais uma década ao serviço dos seniores do Sporting, Rui Patrício estreou-se com a camisola 11 pelo Wolverhampton. Não foi a primeira vez que um guarda-redes envergou um número normalmente dedicado a jogadores que alinham noutras posições ou que jogam noutros terrenos, mas neste caso havia outra razão e a atitude mereceu muitos elogios.

Rui Patrício não conseguiu acabar a zero mas teve três defesas fantásticas frente ao City (GEOFF CADDICK/AFP/Getty Images)

Formado no clube com quem teve ligação durante 18 anos, Carl Ikeme, guarda-redes nascido em Inglaterra mas que optou por jogar na seleção da Nigéria, realizou mais de 200 jogos pelos Wolves entre empréstimos a Accrington Stanley, Stockport County, Charlton, Sheffield United, QPR, Leicester, Middlesbrough e Doncaster Rovers. No início da pré-temporada de 2017, naquela que deveria ser apenas mais uma simples análise ao sangue, foi diagnosticado com leucemia aguda e teve de colocar de lado o futebol para se dedicar apenas aos tratamentos, anunciando o final da carreira este verão (nos primeiros dias de agosto, o internacional deu uma entrevista ao The Guardian onde explicou todo o processo). A direção do clube juntou os três guarda-redes do plantel e foi decidido em conjunto que o número 1 não seria utilizado em sua homenagem. Foi assim que Patrício ficou com o 11.

No entanto, não é pelo número que alguma coisa se altera e o jogador de Marrazes conseguiu este sábado a melhor prestação desde que chegou à Premier League, sobretudo pela fantástica defesa que teve a remate de Sterling ainda na primeira parte que promete ficar como uma das melhores de todo o Campeonato. Foi a mão do internacional português e o braço do antigo central portista Boly que deram corpo ao empate (1-1) do Wolverhampton frente ao campeão Manchester City, no encontro que abriu a terceira jornada do Campeonato.

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Com o nulo a resistir ao intervalo, num jogo onde os comandados de Pep Guardiola tiveram quase sempre o domínio mas com uma resistência muito interessante da equipa mais portuguesa do Campeonato inglês (além de Patrício, Rúben Neves, João Moutinho, Diogo Jota e Hélder Costa foram titulares, enquanto Rúben Vinagre entrou a cinco minutos do final para o lugar de Castro), foram os Wolves que conseguiram inaugurar o marcador aos 57′ na sequência de uma bola parada com cruzamento de Moutinho e golo com o braço do defesa francês, num lance onde nem Ederson esboçou muitos protestos apesar da clara irregularidade no momento do último toque.

Não chegou lá com a cabeça, foi lá com o braço e ninguém reparou: o golo irregular de Boly (Shaun Botterill/Getty Images)

O Manchester City arriscou mais, lançou Gabriel Jesus no lugar de Bernardo Silva, conseguiu chegar ao empate aos 68′ também num livre lateral onde Laporte chegou de cabeça mais alto do que a linha defensiva do Wolverhampton mas Patrício voltou a segurar o empate com mais uma intervenção por instinto a remate do brasileiro. E até foi Diogo Jota a ter a melhor oportunidade no final, com um remate que passou a rasar a trave, antes de Kun Agüero acertar na trave após livre direto num dos últimos lances do jogo já nos descontos. É certo que a equipa de Nuno Espírito Santo ainda não ganhou no Campeonato (antes empatou com o Everton e perdeu com o Leicester), mas a exibição frente ao campeão inglês deixa boas indicações para o resto da temporada.