Os blocos de parto dos hospitais públicos estão com falta de pessoal. De acordo com o jornal Público, os problemas sucedem-se e agudizaram-se este verão, com chefes de serviço a ameaçar demissão, grávidas a serem transferidas e a taxa de cesarianas a aumentar: tudo por causa da falta de médicos nos blocos de parto dos hospitais públicos. Nas contas da Ordem dos Médicos, a falta de pessoal é sentida em cerca de 80% das equipas de obstetrícia, sendo que nos últimos dez anos terá havido um decréscimo de médicos daquela especialidade a um ritmo de menos 20 ao ano.

Num documento onde reflete sobre “o panorama geral das urgências de obstetrícia do país”, a Ordem dos Médicos aponta como mais graves os casos do hospital de Amadora-Sintra, de Braga e de Faro, onde as equipas de urgências obstetrícias deviam ter pelo menos cinco médicos e dispõe apenas de três, ou até mesmo de dois (no caso do Amadora-Sintra).

O problema agrava-se no período de férias, quando um dos dois médicos disponíveis tem de se ausentar: num sábado de julho, apenas um especialista e um médico interno asseguraram a urgência tendo sido necessário transferir grávidas por falta de recursos para proceder aos partos. Na sequência desse e doutros episódios, os chefes de equipa de ginecologia e obstetrícia desse mesmo hospital escreveram uma carta de demissão a exigir que o problema fosse resolvido. Segundo o Público, o hospital abriu entretanto um concurso para contratação de médicos tarefeiros.

Mas o caso do Amadora-Sintra não é único. Na Maternidade Alfredo da Costa, também no período do verão, um problema semelhante obrigou à transferência de grávidas para outras unidades.

Portugal tem um total de 1400 médicos especialistas nesta área, número superior à média de muitos países europeus, mas segundo o mesmo documento da Ordem dos Médicos só cerca de metade destes especialistas estão no Serviço Nacional de Saúde. A isto acresce outro problema: mais de metade dos especialistas de obstetrícia do SNS tem já 55 anos ou mais — o que implica que estejam dispensados de fazer urgências à noite.

O Ministério da Saúde, contudo, prefere olhar para os aumentos: ao Público, o gabinete do ministro diz que em 2015 havia 804 médicos desta área, tendo passado para 832 em 2016 e, este ano, para 862. Mais: no último concurso foram abertas 30 vagas para esta especialidade.

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