Olhar para o primeiro jogo oficial da nova temporada do andebol nacional era quase como ver uma inversão de realidades em relação ao que se passou na época anterior. E para se perceber isso bastava apenas atentar nas declarações dos dois técnicos antes da Supertaça entre Sporting e Benfica este domingo, num Fórum Braga bem composto, que relativizavam e muito o saldo claramente superior que os leões têm conseguido frente às águias nos confrontos diretos dos últimos anos (nos derradeiros 20 confrontos entre ambos, os verde e brancos ganharam 15, sendo que as duas vitórias encarnadas valeram troféus).

“A Supertaça joga-se numa altura muito prematura da preparação mas vamos estar na máxima força com todos os jogadores que temos disponíveis. O Benfica leva vantagem no início da época porque fizeram um investimento num conjunto de atletas que jogam há muitos anos juntos, já não precisam de ter tempo para se entrosar. Conhecem os métodos do treinador, jogam rápido, fazem muitas transições defesa-ataque e não permitem contra-ataques”, destacou Hugo Canela, técnico bicampeão pelos leões, sem recusar ainda assim uma dose de favoritismo pela conquista dos dois últimos Campeonatos.

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“Tivemos o cuidado de nos reforçar em posições que entendíamos ser necessárias, mas foi muito ao de leve porque acreditamos muito no valor da nossa equipa. Acreditamos também que esta semana nos pode levar ao sucesso. Não deixa de ser uma semana especial, na medida em que se trata de um jogo especial, porque é um encontro que pode conduzir a um título. O Benfica tem todas as condições para vencer”, salientou Carlos Resende, timoneiro das águias, que cumpre o segundo ano na Luz depois de ter começado com um segundo lugar no Campeonato e a conquista da Taça de Portugal.

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O início do encontro começou por mostrar uma história bem diferente em relação à norma das últimas cinco temporadas: com Borko Ristovski (não confundir com Stefan Ristovski, lateral direito do futebol dos leões que foi titular no dérbi deste sábado na Luz), o veterano macedónio de 36 anos contratado ao Barcelona, a funcionar como autêntico muro, o Benfica conseguiu com grande facilidade chegar aos 5-1 em cerca de seis minutos, obrigando Hugo Canela a pedir um desconto de tempo. Resultado do mesmo? Quase nulo: por um lado, a defesa 6:0 do Sporting nunca conseguiu travar o ataque organizado e as transições das águias; por outro, o 5:1 com Pedro Seabra mais adiantado condicionou e muito as ações ofensivas dos leões, que iam somando remates falhados e sobretudo erros técnicos. O Benfica chegou mesmo a ter uma vantagem de seis golos na primeira parte, atenuada para três ao intervalo (14-11) devido à reação na parte final do conjunto verde e branco já com Ruesga em campo a comandar o ataque e Skok a render de forma eficaz o titular Asanin na baliza.

No segundo tempo, o Sporting recuperou a regularidade de jogo que lhe permitiu ganhar os últimos dois Campeonatos, mas uma fase de autêntico desnorte foi aproveitada da melhor forma pelo Benfica, que conseguiu “cavar” pela primeira vez uma vantagem de sete golos no dérbi (21-14) fazendo o único parcial de 5-0 ao longo da partida. Com pouco mais de 15 minutos para jogar, a história da Supertaça estava escrita e bastou ao conjunto de Carlos Resende controlar a vantagem até ao final de um encontro que acabou com números inesperados face ao equilíbrio traçado inicialmente por ambos os técnicos: 29-24. Desta forma, os encarnados conquistaram a sexta vitória na prova – e terceira contra o rival lisboeta –, repetindo o feito de 1988, 1993, 2010, 2012 e 2016, igualando o número de troféus do FC Porto e ficando apenas a um do recordista ABC.

Pedro Seabra e Belone Moreira, os pequenos grandes jogadores da primeira linha do Benfica, foram os melhores marcadores dos encarnados com nove e oito golos, respetivamente, ao passo que Edmilson Araújo, com nove golos, ainda tentou disfarçar o dia muito abaixo do normal dos principais elementos ofensivos do conjunto do Sporting.

No próximo fim de semana vai arrancar o Campeonato, com o Benfica a receber o Maia ISMAI e o Sporting a deslocar-se aos Açores para defrontar o Sp. Horta. E ainda há o FC Porto, crónico candidato que se reforçou bem para esta nova temporada e começa com um jogo no Dragão frente ao Madeira SAD. Mas olhando para este encontro inicial, fica claro que Carlos Resende conseguiu colmatar as pequenas lacunas que tinha num plantel por si só equilibrado (guarda-redes e ponta direita, com a entrada de Ristovski e do ex-ABC Carlos Martins), ao passo que Hugo Canela terá de encontrar soluções para suprir a ausência de mais um elemento com capacidade física para a zona central da defesa, como tinha com Kopco, e que estava apalavrado até ao eclodir de toda uma crise institucional em Alvalade que teve reflexos a mais níveis do que se poderia inicialmente pensar.