Vinte anos depois do crime, Jos Brech, suspeito de assassinar uma criança de 11 anos, foi detido este domingo em Espanha. As autoridades holandesas, jurisdição onde ocorreu o homicídio, aguardam agora a extradição do homem de 55 anos que abandonou o país em outubro do ano passado. Apesar de ter sido ouvido no início da investigação, em 1998, não havia quaisquer provas contra Jos Brech. Mas a evolução da tecnologia e a maior recolha de sempre de ADN a que a Holanda já assistiu, foram suficientes para chegar à identidade do suspeito. O seu ADN corresponde à amostra encontrada há duas décadas no cadáver da vítima.

Nicky Verstappen, de 11 anos, estava a acampar numa colónia de férias quando, em agosto de 1998, desapareceu da sua tenda, último sítio onde foi visto com vida. Quando acordaram, os seus colegas não o encontraram e foi lançado o alerta. No dia seguinte, o corpo sem vida de Nicky foi encontrado ainda de pijama, na floresta, descalço. Os seus pés estavam limpos e sem marcas ou cortes, apesar de o local se encontrar a 1,6 quilómetros de distância do acampamento, na província de Limburg. Isto levou as autoridades a concluir que o cadáver tinha sido levado até ali por terceiros. O corpo da criança mostrava também sinais de abuso sexual.

Há 20 anos, apesar da enorme caça ao homem, nenhuma detenção foi feita. Jos Brech, que vivia com a mãe a 13 quilómetros do local do crime, foi considerado suspeito e chegou a ser interrogado três vezes no decurso da investigação. A primeira delas ocorreu logo dois dias após o homicídio, quando a polícia o encontrou a vaguear, já depois da meia-noite, nas redondezas do local do crime. Mas Brech convenceu as autoridades de que estava apenas a fazer uma caminhada noturna para apanhar ar.

“Com o conhecimento que temos hoje, teríamos claramente feito as coisas de forma diferente”, disse o comissário da polícia Ingrid Schäfer-Poels, citado pelo The Guardian. Foram precisos 20 anos e um avanço tecnológico substancial para se chegar ao suspeito.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em maio do ano passado, as autoridades holandesas levaram a cabo a maior recolha de ADN de sempre no país. No corpo de Nicky havia uma amostra de material genético e o que as autoridades esperavam conseguir agora, com o recurso de novas técnicas, era encontrar ADN que correspondesse ao deixado no corpo. E conseguiram.

Para isso, foi pedida a colaboração da população e recolhidas perto de 15 mil amostras de material genético. Jos Brech não foi um dos dadores voluntários, até porque no decurso desta investigação abandonou o país, mas o ADN de um familiar seu estava entre as muitas amostras recolhidas. A partir daí, foi trabalho policial e de laboratório. Depois de chegar ao perfil genético de Jos Brech, a polícia levou a cabo buscas à sua casa e encontrou material genético num dos seus pijamas. E havia correspondência com o ADN deixado no corpo de Nicky.

Uma vez que Brech não era visto no país desde fevereiro — disse à família que estava em França — foi lançado um alerta europeu de caça ao homem e o nome do holandês entrou para a lista de procurados da Europol. Mas acabou por ser um cidadão anónimo, também holandês, a alertar as autoridades para o paradeiro de Brech. Na semana anterior à sua detenção, foram divulgadas fotografias do suspeito e o seu compatriota, que vive em Espanha, reconheceu-o, já que o tinha visto e falado com ele em Castelltercol, perto de Barcelona.

Jos Brech, que foi escuteiro e descrito como alguém com boas capacidades de sobrevivência o que o levaria a conseguir estar escondido na floresta durante longos períodos de tempo, estava a viver numa tenda.

“Ele estava a viver numa tenda na floresta, perto de uma casa, visitada por várias pessoas ao longo dos anos. É uma espécie de comuna onde eu próprio vivi há alguns anos”, disse o holandês, de 44 anos, que alertou as autoridades, citado pelo jornal Telegraaf.

Quando regressar ao seu país de origem, Jos Brech já tem um advogado que se mostrou disponível para o defender, anunciando já qual a sua estratégia: haveria ADN de mais pessoas no corpo de Nick. A mãe da criança assassinada disse apenas esperar ter finalmente respostas para todas as perguntas que fez durante os últimos 20 anos.