E a meio do verão, aí está a primeira prova de força da Geringonça nas vésperas da rentrée. Os líderes parlamentares reuniram-se esta segunda-feira na Assembleia da República para discutir a possibilidade de se convocar uma Comissão Permanente Extraordinária para debater os problemas da ferrovia em Portugal. A sugestão veio do CDS-PP e pela voz da própria Assunção Cristas, que na semana passada anunciou que ia enviar um requerimento ao presidente da Assembleia da República nesse sentido. Dito e feito. As direções das várias bancadas do hemiciclo estiveram reunidas durante pouco mais de meia-hora, avaliaram a proposta centrista e votaram-na. Resultado final: não haverá Comissão Permanente Extraordinária.

O PSD juntou-se ao CDS e apoiou o requerimento. No entanto, como notou Telmo Correia em declarações aos jornalistas à saída da reunião, “não foi suficiente” para fazer avançar a convocatória. Os partidos que compõem a Geringonça decidiram não apoiar a proposta, embora reconheçam a existência de problemas na ferrovia. No entender dos partidos de esquerda, não há urgência para ouvir o ministro da tutela no Parlamento já esta semana, como sugeria o diploma do CDS-PP.

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Isto porque a Comissão Permanente tem uma reunião ordinária marcada para o dia 6 de setembro, cuja ordem de trabalhos ainda está por definir. O deputado centrista reconheceu inclusive que o Governo já “mostrou abertura” para incluir este tema na agenda desse encontro, embora tenha ressalvado que “ainda nada está decidido”. Telmo Correia entende ainda que este problema “beneficiaria se tivesse uma reunião específica” dedicada em exclusiva ao estado da CP e da ferrovia “já esta semana”.

O requerimento encontrou o apoio de apenas um partido: o PSD. O líder parlamentar laranja, Fernando Negrão, disse aos jornalistas que se está a assistir “ao caminho para a destruição de uma empresa muito importante, como é a CP” e que “as medidas do Governo” não ajudam a reverter esta situação. Assim, os sociais-democratas defendiam “uma reunião para discutir exclusivamente” o problema. Os dois partidos de direita não têm peso suficiente para fazerem avançar a proposta sem pelo menos o apoio de mais um partido. O que não aconteceu e deitou por terra as pretensões centrista.

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À esquerda, a reação foi quase sempre a mesma: os problemas no setor do transporte ferroviário existem, necessitam de uma solução urgente mas nada justifica que se marque uma reunião já esta semana. O PS, pela voz de Pedro Delgado Alves, entrou ao ataque, lembrando que ao CDS podem ser imputadas responsabilidades pelo desinvestimento na ferrovia verificado “no tempo em que estiveram no Governo”. Por isso, o deputado socialista recomendou aos centristas “algum pudor na forma como abordam” este tema.

Quanto à recusa em apoiar o requerimento do CDS, Delgado Alves justificou-se com a ausência de necessidade de reunir já esta semana. O deputado anunciou depois que no dia 6 de setembro este será um dos temas da agenda da Comissão Permanente, garantindo que o Governo está até disponível para levar ao Parlamento os membros que “os partidos queiram ouvir”.

O mesmo argumento usado mais à esquerda. Segundo o líder do grupo parlamentar do PCP, este tema “mais do que ser discutido à pressa” merece uma reflexão “conveniente” e “aprofundada”. João Oliveira aproveitou a declaração para dar uma alfinetada no CDS, que acusou de “andar agora a esbracejar” apesar de estas falhas existirem “há muito tempo”. “É natural que andem a tentar sacudir a água do capote em relação às suas próprias responsabilidades”, ironizou. A mesma tónica foi utilizada por Heloísa Apolónia, do PEV, que lembrou que a CP tem sido uma das bandeiras d’Os Verdes “ao longo de várias legislaturas”. A deputada criticou o CDS, “que acordou agora para esta situação”, e reafirmou a vontade da esquerda de encontrar soluções para os problemas da CP. Não tem é de ser forçosamente esta semana.

O Bloco de Esquerda, por seu lado, começou por defender um maior investimento na ferrovia e por reconhecer a existência de graves problemas no setor para mais à frente ressalvar que esta semana a reunião seria precipitada. Pelo meio, o deputado Pedro Filipe Soares tentou desmontar  a estratégia do CDS. Segundo o líder da bancada bloquista, os centristas querem, no fundo, seguir o caminho “das concessões ou da privatização”, numa referência clara às declarações do eurdeputado Nuno Melo na passada terça-feira.

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Já esta segunda-feira, o grupo parlamentar do PSD enviou uma pergunta ao Governo sobre a CP. Mas referente a uma outra polémica: o comboio que o PS fretou à CP para levar militantes à Festa de Verão do partido, que se realizou no passado sábado em Caminha.