Mais de cem jornalistas de 27 países da UE assinaram uma carta do colega da AFP Samy Ketz, apelando aos deputados europeus para instaurarem os “direitos conexos”, que forçariam os gigantes da Internet a contribuir para o financiamento da imprensa.

O documento, subscrito por 103 grandes repórteres e chefes de redação, foi publicado esta terça-feira pela AFP no seu site e divulgado por vários media europeus, entre os quais Le Monde, Le Figaro, JDD, La Libre Belgique e o diário alemão Tagesspiegel, depois de o Parlamento Europeu ter rejeitado em julho uma reforma dos direitos de autor, que previa a criação de tal direito. Em Portugal, o documento foi assinado pelos jornalistas Sofia Lorena, Paulo Moura e Cândida Pinto.

Os GAFA (Google, Facebook, Apple e Amazon) desencadearam uma campanha sem precedentes ao nível das instâncias europeias contra esta reforma, argumentando que corria o risco de minar a Internet gratuita.

“Em mais de 40 anos de carreira, vi o número de jornalistas no terreno diminuir de forma constante, enquanto os perigos não param de crescer. Tornámo-nos alvos e as reportagens estão cada vez mais caras”, lê-se no apelo aos eurodeputados lançado por Sammy Ketz, diretor da delegação da AFP em Bagdad, que cobriu numerosos conflitos para a agência de notícias.

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“Acabou a época em que ia para a guerra, de casaco, ou em mangas de camisa, um caderno no bolso, acompanhado por um fotógrafo ou um operador de imagem. Hoje, é preciso coletes à prova de bala, capacetes, viaturas blindadas, por vezes guarda-costas para evitar raptos, seguros. Quem paga estas despesas? Os media. E isso é caro”, prossegue o texto, assinando por jornalistas de renome como a francesa Florence Aubenas, o alemão Wolfgang Bauer, o britânico Jason Burke ou o fotógrafo sueco Paul Hansen.

E o apelo continua: “Ora, os media que produzem os conteúdos e que enviam os jornalistas a arriscar a vida para assegurar uma informação fiável, pluralista e completa, por um custo cada vez mais elevado, não são os que tiram benefícios, mas as plataformas que se servem sem pagar. É como se vocês trabalhassem, mas uma terceira pessoa recolhesse, sem vergonha e descaradamente, o fruto do vosso trabalho”. “Agora, (os media) querem reclamar os seus direitos para poderem continuar a informar, pedem que sejam partilhadas as receitas comerciais com os produtores desses conteúdos, sejam media ou artistas. É isto os ‘ireitos conexos’, acrescenta-se no documento.

Rejeita-se, de caminho, “a posição partilhada pelo Google e pelo Facebook segundo a qual a diretiva sobre os ‘direitos conexos’ ameaça a gratuitidade da internet”. “Trata-se da defesa da liberdade de imprensa, porque se os jornais não tiverem mais jornalistas, não haverá mais esta liberdade à qual os deputados, qualquer que seja a sua filiação política, estão ligados”, conclui-se no documento, em que se apela aos parlamentares para votarem massivamente a favor da aplicação dos “direitos conexos” às empresas de informação, para que viva a democracia e um dos seus símbolos mais marcantes: o jornalismo”.

A reforma dos direitos de autor na UE, que divide os europeus mesmo dentro dos próprios grupos políticos, será novamente debatida em sessão plenária em setembro e poderá ser alterada antes de nova votação.