O governador do estado de Nova Iorque Andrew M. Cuomo e a atriz Cynthia Nixon, que se tornou candidata política, encontraram-se em debate pela primeira vez na passada quarta-feira, depois de vários meses de “bate-boca”.  Segundo o The New York Times, o duelo que antecipa as eleições intercalares nos EUA foi tudo menos tranquilo, tendo sido marcado por “ataques ferozes” e “provas de frustração” entre os dois candidatos pelo partido Democrata.

A oposição a Donald Trump, o estado dos transportes públicos em Nova Iorque, divulgar relatórios de impostos, saúde e corrupção foram alguns dos temas que dominaram o frente-a-frente que durou cerca de uma hora. Entre investidas e desvios, ambos os candidatos insistiram em acusações mútuas de distorções da realidade, tendo Cuomo chegado a acusar Nixon de “viver num mundo de ficção” — uma clara alusão ao facto de Cynthia ter toda uma carreira no mundo da representação, sendo o seu papel na série “Sexo e a Cidade” aquele que mais fama lhe deu.

A onda hostil que se fez sentir durante o debate foi uma espécie de eco das tensões que têm tomado conta do partido Democrata nesta “era Trump”, nomeadamente naquilo que diz respeito ao caminho de volta ao poder e se quem o deve liderar é um político veterano e experiente ou “outsider” conotado com a linha ideológica do partido.

Para Nixon, que já soma várias anos no papel de ativista social e é tida como a menos favorita na corrida à candidatura estadual, este debate foi o maior palco que já teve para se posicionar na corrida eleitoral, evento que capitalizou ao máximo caracterizando Cuomo como um “Democrata corrupto do mundo empresarial” e prometendo uma série de medidas progressistas que, afirmou a própria, tem vindo a planear ao longo dos últimos sete anos.

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“Não sou uma natural de Albany como o governador Cuomo, mas experiência serve de pouco se não tivermos realmente uma aptidão para governar”, atirou.

Cuomo, por sua vez, tentou levantar dúvidas sobre as capacidades de Cynthia — que nunca deteve qualquer cargo público — em exercer um papel político. “Essa é a arte de governar. Eu consigo fazer coisas acontecer”, afirmou a dada altura, chegando a explicar a Cynthia Nixon, mais à frente, de que “não basta estalar os dedos para as coisas acontecerem”.

Assumindo-se como um oponente claro às políticas (e figura) de Trump, o mesmo Cuomo repetiu várias vezes tudo aquilo que afirma já ter feito para contrariar medidas da Casa Branca. “Conheçam-me olhando para os meus inimigos”, afirmou o atual governador, fazendo referência aos vários Tweets de Trump que já o mencionaram — um dos mais famosos diz respeito ao episódio em que Cuomo afirmou que os “EUA nunca foram grandes” e o Presidente dos EUA gozou com isso. “Ninguém enfrentou Donald Trump como eu”, atirou o mesmo, a determinada altura.

Face a estas declarações, Nixon foi mordaz ao dizer que Cuomo enfrentou-o da mesma forma que Trump “enfrentou Putin”. Nenhum dos candidatos caiu nas “armadilhas” lançadas por ambos os lados: Nixon demonstrou-se bem preparada para discutir até mesmo os assuntos mais técnicos da governação e Cuomo não perdeu a calma face às provocações da sua adversária.

No capítulo das discordâncias, de destacar que nenhum deles tem a mesma posição face ao facto dos trabalhadores públicos terem autorização para fazer greve (Nixon está a favor, Cuomo não), nas várias visões do sistema de saúde norte-americano ou na problemática do financiamento político/partidário.

Para quem não está habituado à “máquina da política”, Nixon foi bastante incisiva nos ataques e abordagens que dirigiu ao seu adversário. Um dos melhores exemplos disso foi a forma como explorou o escândalo de corrupção que envolveu Joseph Percoco, um dos conselheiros mais próximos de Cuoco, que recebia dinheiro em troca de favores a empresas que pretendiam trabalhar (ou já trabalhavam) coma sua administração. Cynthia clamou que este exemplo mostrava uma de duas coisas: que Cuomo sabia do que se passava e permitiu que tal acontecesse, ou que era “incompetente” e deixou escapar tudo isso.

Cuomo, por sua vez, tentou ripostar, apontando para as finanças da sua adversária, que apenas revelou cinco declarações de impostos nos últimos 20 anos e que canaliza o seu dinheiro através de uma empresa — algo que o governador Andrew afirma ser “um buraco na lei” que Nixon aproveita (“Trabalhadores verdadeiros não têm empresas!”).

Faltam apenas duas semanas para o sufrágio de dia 13 de setembro que vai determinar quem será o concorrente Democrata à posição de Governador do estado de Nova Iorque. Por enquanto, as sondagens mostram que Nixon mantém-se no fundo da tabela de concorrentes, apesar da sua equipa acreditar que esses dados não são reflexo fidedigno do verdadeiro clima político entre os Democratas.