A prova não diz muito a quem mora por estas bandas do planeta — os Jogos Asiáticos não são reconhecidos pela FIFA, apesar de contarem com 25 países participantes. Mas diz muito aos asiáticos em geral e, este ano, a um em particular: Son Heung-min, a estrela do Tottenham, o nome maior do futebol sul-coreano nos dias que correm (pelo menos desde que Park Ji-sung terminou a carreira, em 2014, depois de 12 títulos pelo Manchester United e um terceiro lugar no Mundial disputado em casa).

Mas porque é que a prova é tão importante para o avançado dos spurs? Porquê para ele em particular? Passamos a explicar: porque é o passaporte para o jogador fintar o serviço militar obrigatório de dois anos que o seu país impõe. É que, na Coreia do Sul, todos os homens são obrigados a cumprir um mínimo de 21 meses de serviço antes de atingirem os 28 anos de idade. Ora Son tem 26, pelo que teria de se alistar até 2020. Poderia ser o ponto final numa bonita e promissora carreira.

Poderia, mas havia uma brecha: os desportistas estão abrangidos por um regime de exceção, segundo o qual ficam dispensados por 20 meses (tendo apenas de cumprir um mês de recruta), caso consigam trazer medalhas para o país. E é aqui que entram os Jogos Asiáticos. O governo sul-coreano determina que o ouro nessa prova, assim como os três primeiros lugares num Mundial ou nos Jogos Olímpicos, garantem a tal carta branca. Como Son chegaria às Olimpíadas de Tóquio já com 28, a oportunidade era agora. Havia que levantar o caneco dos Jogos Asiáticos. Ganhar ou ganhar, como se diz na gíria.

E eis que chegávamos à final deste sábado entre a Coreia do Sul e o Japão. Se nada mais houvesse como motivação para Son, havia esta possibilidade de escapar ao pesadelo que lhe poderia comprometer, e que de maneira, os sonhos no futebol. Mas quando a bola rolou, a vontade não chegou; o jogo terminou sem golos aos fim de 90 minutos.

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A decisão avançou para o prolongamento e aí desatou-se o nó: ainda na primeira parte, Lee Seungwoo e Hwang Hee-Chan adiantaram a Coreia do Sul no marcador — ambos os golos com assistência do motivadíssimo Son. O Japão ainda conseguiu reduzir por intermédio de Ueda, mas a reação não impediu a derrota por 2-1. Ou a vitória para a Coreia do Sul — que assim revalida o título conquistado, pela última vez, em 2014, quando bateu a outra Coreia por 1-0 na final. E, claro, para Son, que escreveu, enfim, um final feliz na história, depois de ter falhado as duas últimas oportunidades de escapar ao serviço militar: os Jogos Asiáticos de 2014, já que, na altura, o Bayer Leverkusen não o libertou para participar na prova, precisamente por não ter chancela FIFA; e o último Mundial, na Rússia, onde os coreanos não foram além da fase de grupos. À terceira foi mesmo de vez. Son (e, claro, o Tottenham) pode agora respirar de alívio.