A rádio pública israelita Kan Kol Hamusica recebeu chamadas de protesto e viu-se obrigada a pedir desculpa após passar uma peça de Richard Wagner, compositor favorito de Hitler e um antissemita vetado em Israel, noticiou este sábado o diário Haaretz.

Nem orquestras, nem rádios ou televisões no país — especialmente as públicas — tocam ou põem música de Wagner, uma norma não-escrita poucas vezes infringida.

A emissora passou durante o programa “Como Queiras”, do jornalista musical Uri Marcus, uma versão ao vivo do terceiro ato da ópera de Wagner “O Crepúsculo dos Deuses”, dirigida por Daniel Barenboim no Festival de Bayreuth em 1991.

“Em 1849, Richard Wagner começou a formular as suas ideias revolucionárias sobre a ópera como resultado de atividade política anarquista e inaugurou uma nova forma artística de juntar a poesia e o drama. Escutaremos o último ato do Crepúsculo dos Deuses”, disse o apresentador, Avishai Pelchi.

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A peça foi retirada do ar abruptamente cerca de um minuto antes do final.

Yonatan Livni, presidente da Fundação Wagner em Israel, deu as boas-vindas “à primeira vez que se põe, sem a dissimular, música de Wagner” e defendeu que “não se julgam as opiniões do compositor, mas a maravilhosa música que criou”.

“O meu falecido pai foi um sobrevivente do Holocausto e com ele aprendi a conhecer Wagner. Era um homem maléfico que escreveu música celestial“, sustentou.

A rádio estatal Kan indicou em comunicado que os seus diretores “mantêm a posição que tiveram durante anos: a obra de Wagner não passará na Kan Kol Hamusica”.

Esta decisão advém de entender a dor que passá-la pode causar a sobreviventes do Holocausto que nos escutam. O editor enganou-se quando escolheu pôr a peça. Pedimos desculpa por isso aos nossos ouvintes”, lia-se na nota de imprensa.

A peça musical foi interrompida antes do final, acrescentava, devido a “um problema técnico” e não por uma decisão nesse sentido.

A Orquestra Filarmónica de Israel tentou programar composições de Wagner em 1981, quando era dirigida por Zubin Mehta, mas recebeu fortes críticas por isso, e o mesmo aconteceu a Barenboim em 2001, quando interpretou música do compositor alemão num festival do país.