Vários postos de saúde móveis e mais de 1300 agentes da polícia estão a assegurar este sábado o primeiro de dois dias da peregrinação de Nossa Senhora da Muxima, promovida anualmente pela igreja católica angolana.

Milhares de peregrinos estão já, ou ainda a caminho, naquela vila, localizada 130 quilómetros a leste de Luanda, sendo sede do município de Quiçama, na fronteira com o parque natural homónimo.

Para garantir a segurança dos peregrinos no maior centro mariano da África subsaariana, o comandante municipal da Polícia Nacional na Quiçama, subcomissário Manuel Gonçalves Lopes, indicou que foram tomadas toda as medidas de prevenção para evitar acidentes de viação e atropelamentos e aconselhou os automobilistas e as companhias de transportes a fazerem uma condução cuidadosa.

O subcomissário referiu ainda que, ao longo da via, estão colocados postos de controlo, que visam aconselhar os automobilistas a evitarem o excesso de velocidade e o uso de bebidas alcoólicas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para um maior controlo, assegurou, as viaturas e os autocarros têm de ficar estacionados num parque a cinco quilómetros da vila, onde existem pequenos autocarros para os transportar até Muxima, sendo ainda cedo para determinar quantos fiéis se deslocarão ao santuário, apesar das previsões que apontam para um milhão de visitantes.

Por outro lado, o Instituto Nacional de Emergências Médicas de Angola (INEMA) está presente na peregrinação, com postos médicos avançados destinados a facilitar a assistência médica em caso de necessidade.

O chefe de departamento interino de atendimento hospitalar, António Neto, disse que o INEMA está presente com cinco médicos e 18 enfermeiros, entre outro pessoal paramédico, que já assistiram, na sexta-feira, 14 peregrinos, três deles vítimas de picadas de insetos.

A peregrinação de Nossa Senhora da Muxima, que decorre sob o lema “Jovens com Maria, Caminhemos Hoje ao Encontro de Jesus”, foi marcada na sexta-feira com confissões e orações dos devotos e para hoje está prevista uma procissão da luz e uma vigília noturna, sendo o ponto mais alto a celebração da missa dominical.

Dentro de dois anos, e no quadro do Projeto de Requalificação da Vila e do Santuário de Muxima, prevê-se uma renovação total, tendo já sido lançados vários concursos públicos, um deles para a construção de uma basílica com capacidade para 4.600 fiéis.

A 18 de junho último, o Governo angolano lançou “concursos públicos limitados por prévia qualificação” para a empreitada de construção da basílica de nossa Senhora da Muxima e áreas externas contíguas e para a empreitada de construção das infraestruturas daquela vila.

Os concursos, aguardados há vários e cujas obras foram sendo atrasadas devido à crise económica e financeira em Angola, têm como critério de adjudicação a “proposta economicamente mais vantajosa”.

No anúncio dos concursos não são adiantados valores para estas obras, mas o Governo angolano inscreveu no Plano de Investimentos Públicos (PIP) de 2018 uma verba de 713.452.079 kwanzas (2,5 milhões de euros).

O projeto foi lançado em 2008 pelo então Presidente, José Eduardo dos Santos, que, cerca de um ano depois, aquando da visita pastoral de Bento XVI a Angola, mostrou a maqueta ao papa e ofereceu a futura basílica à Santa Sé.

A vila foi ocupada pelos portugueses em 1589, que, dez anos depois, construíram a fortaleza e a igreja de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como “Mamã Muxima”, que na língua nacional quimbundu significa “coração”.

O projeto visa a intervenção numa área de 40 hectares e só a basílica será edificada num espaço de 18.000 metros quadrados, tendo capacidade para acomodar 4.600 pessoas sentadas, bem como o seu arranjo urbanístico. Prevê, no exterior da basílica, a construção de uma praça pública para receber até 200.000 peregrinos.

Envolve ainda infraestruturas rodoviárias em torno do perímetro do santuário e áreas de estacionamento para 3.000 viaturas.

A vila da Muxima transformou-se no maior centro mariano da África subsaariana e templo atual tem apenas capacidade para 600 pessoas sentadas, insuficiente, por exemplo, para a anual peregrinação de setembro que leva àquela vila, junto ao rio Kwanza, mais de um milhão de fiéis.

O executivo angolano decidiu, em outubro de 2014, reestruturar o projeto do novo santuário, da autoria do arquiteto português Júlio Quaresma, prevendo a implantação do novo santuário numa área de 18.352 metros quadrados, tendo a nova catedral capacidade para acomodar 4.600 devotos sentados, além de contemplar a construção da vila Nossa Senhora da Muxima.

No mês seguinte, José Eduardo dos Santos criou uma comissão interministerial para acompanhar e executar o projeto de requalificação da vila, mas as obras ainda não foram para o terreno, numa altura em que o Governo limitou as despesas públicas, face à crise com a quebra das receitas petrolíferas.