O cardeal norte-americano Donald Wuerl, arcebispo de Washington e um dos nomes que figuram no relatório sobre abusos sexuais na Pensilvânia por alegadamente ter encoberto crimes cometidos por padres quando era bispo de Pittsburgh, enfrenta um crescente descontentamento nos Estados Unidos.

No final de uma missa em Washington no domingo, o cardeal decidiu fazer um pequeno discurso perante os mais de 200 fiéis que participavam na celebração para pedir perdão pelos seus “erros de julgamento”, mas foi interrompido por um homem que se levantou e gritou “shame on you!” (tenha vergonha) contra o prelado, conta a CNN.

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Naquele momento, o cardeal referia-se ao Papa Francisco, pedindo a todos os presentes que se mantivessem fiéis a Francisco num momento em que “é cada vez mais claro que ele é objeto de uma animosidade considerável”. Brian Garfield, um homem que estava sentado no meio da igreja, levantou-se para gritar contra o cardeal e saiu do templo.

Wuerl continuou o discurso. “Sim, irmãos e irmãs. Vergonha. Gostava de poder refazer tudo o que fiz ao longo destes 30 anos como bispo e fazer o correto em todos os momentos. Mas não é o caso”, disse o cardeal, antes de pedir aos fiéis que rezem por si, por todas as vítimas de abusos e por toda a Igreja.

Brian Garfield disse depois à CNN que não gostou da resposta do cardeal Wuerl ao relatório da Pensilvânia, que revelou abusos sexuais de mais de 300 padres sobre mais de mil crianças ao longo dos últimos 70 anos. “Não acho que ele é um monstro, mas gostava que ele falasse menos para se defender e mais sobre aquilo que fez mal”, disse o homem.

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Durante o mesmo discurso, uma outra fiel presente na igreja manifestou o seu descontentamento com Wuerl, levantando-se e voltando as costas ao presbitério durante o discurso do cardeal. “Penso que ele se devia demitir. Acho que ele devia entender que só porque não queria fazer alguma coisa, não quer dizer que não tenha havido consequências terríveis para muitas pessoas”, disse Mary Challinor à CNN.

Além de aparecer referido no relatório da Pensilvânia, Wuerl enfrenta ainda acusações por parte do arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo núncio nos EUA, que na sua carta escreveu que Wuerl sabia que o seu antecessor como arcebispo de Washington, o cardeal Theodore McCarrick, estava envolvido em escândalos de abusos sexuais e não disse nada por cinco anos.