O comissário europeu Carlos Moedas diz não ter dados sobre se o Governo português aplicou mal os fundos comunitários que chegaram na sequência dos incêndios de 2017, mas garante que Bruxelas vai ser rigorosa a analisar se houve um uso indevido desse dinheiro. À margem da Universidade de Verão do PSD, que se realiza em Castelo de Vide, Carlos Moedas garante que “a Europa monitoriza e vai olhar exatamente para como é que os dinheiros foram utilizados e, portanto, vamos olhar para aqueles que são os regulamentos que temos e se houve algo ou não que correu mal.”

Moedas respondia aos jornalistas sobre uma notícia do jornal i que avança esta terça-feira que o Governo terá destinado metade dos 50,6 milhões do Fundo de Solidariedade Europeu (26,5 milhões) a entidades públicas envolvidas no combate aos incêndios, como a GNR, a ANPC, o ICN ou as Forças Armadas. Sobre essa aplicação, o comissário europeu não quis fazer nenhum juízo político ou ético, mas lembra que a Europa “tem sido sempre muito direta sobre quando há algum uso que seja indevido“.

Moedas explica que a Europa vai estar atenta a essas situações, mas avisa que “não pode estar nos detalhes todos”. E a função principal de Bruxelas não é investigar os Estados, mas sim “disponilizar esses 50 milhões”, depois o Governo tem de “utilizá-los através das suas entidades e terá de responder em relação à União Europeia como faz sempre”.

Carlos Moedas opta por destacar a “solidariedade que a Europa tem tido em relação a Portugal” em matéria dos incêndios e também o facto de Portugal ter sido uma “inspiração para a Europa”. Isto porque, “foi há um ano, durante a tragédia em Portugal, que Juncker deu a ideia a nós comissários de construir a partir de nada um sistema de Proteção Civil Europeia e isso foi realmente inspirado por aquilo que se viveu em Portugal.” O comissário diz ainda que além desses 50 milhões, a Europa ajudou Portugal “na parte da inovação e da ciência, com 100 milhões para tudo o que é investigação nesta área”.

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O PSD atacou violentamente, através do líder parlamentar Fernando Negrão, a proposta de António Costa de reduzir para metade o IRS dos portugueses que regressem ao país depois de terem emigrado no tempo da troika. Mas Moedas elogiou a medida. “Todas as medidas que tenham a ver com incentivo para aqueles que saíram, voltarem, são interessantes”, defendeu o comissário europeu.

Carlos Moedas fez, no entanto, questão de lembrar que “já há medidas nesse sentido” e que no tempo em que era governante as pessoas que “voltavam para Portugal, que não tinham trabalhado há mais de 5 anos em Portugal, tinham uma taxa preferencial nos impostos (…) É importante ter incentivos para as pessoas poderem vir.”

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Questionado pelos jornalistas, Moedas comentou ainda as palavras do antigo líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, que antecipou que na próxima campanha eleitoral a “política suja” vai chegar a Portugal, dizendo que há “um fascínio, particularmente da direita, pelo sucesso” do Presidente dos EUA, Donald Trump. O comissário europeu reagiu dizendo que “a política suja vem da extrema-direita, mas também da extrema-esquerda”. E acrescentou: “É importante nós em Portugal não esquecermos o papel dessa extrema-esquerda, que é extremamente negativo e às vezes tão negativo como as da chamada extrema-direita. Por isso, parece-me estranho que professor Francisco Louçã venha falar em política suja apenas na extrema-direita, quando ela também existe na extrema-esquerda, que é uma área política que ele conhece bem.”

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