Noventa elefantes foram encontrados mortos perto do Botswana, num incidente de caça considerado o “maior” de que há memória em África. Os animais foram encontrados ao longo de várias semanas durante as operações aéreas de levantamento do número de elefantes realizadas na região, na mesma área onde foram encontrados três rinocerontes brancos nos últimos três meses.

“A escala da caça ao elefante é de longe a maior que já vi ou li em África até hoje”, disse esta terça-feira à AFP Mike Chase, diretor da Elephants Without Borders, organização que está a conduzir as operações de contagem em conjunto com o Departamento de Vida Selvagem e Parques Naturais do Botswana. “Começámos voar para fazer a contagem a 10 de julho, e contámos 90 carcaças de elefantes desde então”, afirmou. “Estamos a contar elefantes mortos a cada dia.”

Segundo a organização sem fins lucrativos, os animais foram encontrados junto a pontos de água nas imediações do Santuário da Vida Selvagem do Delta de Okavango — zona que atrai muitos turistas devido à sua biodiversidade. De acordo com a Siyabona Africa, uma empresa de turismo que opera na região, a área apresenta uma elevada concentração de elefantes por ter cursos de água permanentes.

Os animais foram mortos com espingardas de calibre elevado e, de acordo com o relatório elaborado por Chase a que a NPR teve acesso, há indícios que apontam para caça furtiva motivada pelo marfim. “Todas as carcaças foram presumidamente caçadas, porque todas tiveram os crânios cortados para remover os seus dentes”, lê-se no documento. “Os caçadores tentaram esconder o crime ao ocultarem os montes de carne a apodrecer com arbustos secos”, acrescenta.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A caça ao marfim causa a morte a cerca de 30 mil elefantes anualmente. Este produto é altamente requisitado na Ásia para fins medicinais ou como ornamento, podendo chegar a ser vendido a 864 euros por quilo.

Até agora, o Botswana tinha passado à margem deste problema devido à sua política de tolerância zero para com a caça furtiva, que segundo a AFP permitia aos rangers da unidade anti-caça “atirar-a-matar” contra caçadores. O pico na caça furtiva coincidiu com o desarmamento desta unidade, em maio, cerca de um mês após a tomada de posse do novo presidente, Mokgweetsi Masis. Segundo a BBC, apesar de ter confirmado ter retirado as armas e equipamento militar à unidade, o gabinete do presidente não apresentou os motivos para a decisão.

Para Mike Chase, esta tolerância para com caçadores furtivos está na origem do pico no número de elefantes encontrados mortos, que teme poder atingir grandes proporções. “Os caçadores estão agora a virar as suas armas para o Botswana. Temos a maior população de elefantes o mundo e é temporada aberta para os caçadores. Claramente temos de fazes mais para parar a escala do que estamos a registar no nosso levantamento”, disse à BBC. “A variação da classificação e idade das carcaças é um indicador do frenezim de caça que está a acontecer na mesma área há muito tempo”, afirmava o relatório.

O presidente da Elephants Without Borders criticou ainda o novo presidente. “O nosso novo presidente [do Botswana] precisa de defender o nosso legado e atacar este problema rapidamente. O turismo tem uma importância vital para a economia, trabalhos, e também para a nossa reputação enquanto bastião seguro para os elefantes, que está em risco”, defende. “Isto requer ação urgente e imediata por parte do Governo da Botswana.”

Com 130 mil espécimes, o país tem a maior população de elefantes do continente africano. Muitas vezes considerado como o último santuário para estes animais, o Botswana reúne cerca de 37% da população ameaçada de elefantes de África — que segundo a Great Elephant Census perdeu cerca de 30% dos espécimes entre 2007 e 2014.