Durou apenas algumas horas a presença de Steve Bannon no painel de convidados do festival anual da revista New Yorker, que acontece entre os dias 5 e 7 de outubro em Nova Iorque. Pouco tempo depois de ter anunciado que o ex-conselheiro de Donald Trump fazia parte do cartaz, o editor da revista, David Remnick, voltou atrás e, numa carta enviada aos funcionários, informou que Bannon tinha sido desconvidado.

A decisão, conhecida esta segunda-feira, surgiu na sequência das críticas ao convite e dos vários anúncios de cancelamento de participação feitos por alguns convidados, como John Mulaney, Judd Apatow, Jack Antonoff e Jim Carrey. “Se Steve Bannon está no New Yorker Festival eu estou fora. Não vou fazer parte de um evento que normaliza o ódio. Espero que a New Yorker faça a coisa certa e cancele a participação de Steve Bannon. Talvez devessem ler a sua própria reportagem sobre a ideologia dele”, escreveu o produtor Judd Apatow no Twitter.

O ator Jim Carrey também usou o Twitter para dizer que um evento com ele e Steve Bannon “nunca poderia acontecer” e o comediante John Mulaney usou a mesma rede social para mostrar a insatisfação pelo convite feito ao ex-conselheiro de Trump e anunciar o cancelamento da sua participação: “Estou fora. Eu apoio genuinamente o debate intelectual público, e já paguei para ver pessoas com que eu discordo fortemente. Mas isto não é James Baldwin vs William F Buckley”.

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No e-mail enviado à equipa da revista, David Remnick explicou que retirava o convite a Bannon devido às reações nas redes sociais mas também ao desconforto demonstrado pelos funcionários da New Yorker. A entrevista a Steve Bannon iria ser conduzida pelo próprio David Remnick. Contactado pelo New York Times, o antigo “homem forte” de Trump a quem a Bloomberg chegou a chamar o “operacional político mais perigoso” dos EUA disse que Remnick tinha sido cobarde.

A razão para ter aceitado o convite foi simples: ia enfrentar um dos jornalistas mais destemidos da sua geração. Naquilo que eu chamaria um momento determinante, David Remnick mostrou que era um cobarde quando confrontado pelas críticas”, disse ao New York Times.

Quem é Steve Bannon, o “homem forte” do governo de Trump?

Questionado pelo mesmo jornal, Remnick disse que o objetivo não era ter uma conversa amigável com Bannon: “Tinha toda a intenção de lhe fazer perguntas difíceis e ter uma conversa séria e até combativa”

A própria audiência, pela sua presença, coloca uma certa pressão na conversa, algo que uma entrevista individual não faz”, afirmou.

No passado mês de julho, Steve Bannon anunciou que está a planear construir uma fundação na Europa que, espera, alimente a disseminação do populismo de extrema-direita. Bannon já se terá reunido com vários políticos de direita um pouco por todo o Velho Continente nos últimos 12 meses. Entre a lista de contactos que já fez encontra-se o nome de Nigel Farage, o ex-líder do Ukip e grande responsável pelo Brexit, assim como vários associados de Marine Le Pen, em França, e de Viktor Orbán, na Hungria.

Steve Bannon planeia criar uma fundação para apoiar direita populista na Europa