Salvador Malheiro queria mostrar na Universidade de Verão em Castelo de Vide o lado que o PSD não conhece: o de professor, engenheiro e especialista em energia. Disciplinado e concertado com Rio, o vice-presidente trazia a lição bem estudada: só falar de Ambiente e Energia e não de política partidária. Mas — mesmo no meio de uma aula de duas horas sobre a área que domina — a política lá foi aparecendo. Desde logo, um aluno que conhecia Salvador Malheiro fez-lhe rasgados elogios ao “estilo político” e lançou a candidatura do autarca ovarense a ministro do Governo de Rio: “Vai ser o próximo ministro do Ambiente, não tenho dúvidas disso.” Salvador não negou o interesse, embora fosse dizendo que não troca o cargo de autarca “por qualquer coisa”.

“Tenho a certeza de que vamos ganhar as eleições, não tenho a certeza de quem vai ser o ministro do Ambiente”, disse Malheiro, confiante e rejeitando a candidatura a ministro. Depois do especialista em Ambiente (com uma hora de intervenção e outra de resposta a perguntas), e do candidato a ministro, surgiu Salvador Malheiro, o vice-presidente PSD ao serviço do líder. Naquilo que pode ser entendido como uma resposta aos críticos internos, o vice-presidente do PSD defendeu a opção de Rui Rio de fazer acordos com o Governo PS : “Confio muito e tiro o chapéu à humildade do presidente do nosso partido de estar a colocar verdadeiramente o interesse do país acima de tudo, dizendo e mostrando ao país que é tão importante o líder do Governo como é o líder da oposição, quando estão em causa interesses nacionais”.

O dirigente do PSD sugeriu ainda que a estratégia de dar a mão ao PS em alguns casos pode trazer mais-valias ao PSD, explicando que “por vezes quem mais cede é quem mais ganha. Temos de olhar para o futuro com esperança, que só pode existir se tomarmos atitudes sérias e corretas.” Já depois da aula, Salvador Malheiro explicou aos jornalistas o que queria dizer com as cedências, explicando que “neste momento é fundamental a existência de consensos para podermos implementar no país reformas estruturais.”

Na mesma linha do líder, Salvador Malheiro criticou o plano apresentado por Fernando Medina e pelo Governo, de valores mais baixos nos passes dos transportes públicos nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto. Rui Rio tinha destacado que “a proposta tem de ser para o país todo”, o presidente da câmara de Ovar defendeu que o apoio nos “transportes públicos têm de ser para todos, não apenas para algumas zonas mais populosas do país.”

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“Um território mais sportinguista, mais verde, mais descarbonizado”

Salvador Malheiro — com um vasto currículo como engenheiro especializado em energia — mostrou um grande conhecimento técnico na área, tentando contrariar também a imagem a que até agora era associado após a eleição para vice-presidente: do caciquismo e da investigação do Ministério Público. Na sala, a postura foi de professor universitário, profissão que interrompeu para ser autarca, mas com uma linguagem simples. Sem surpresa, foi andando e gesticulando pela sala de aula da Universidade de Verão como se estivesse num anfiteatro de uma faculdade.

Fazendo uso da paixão clubística, Salvador Malheiro defendeu durante a aula que está na altura de o país ter “um território mais sportinguista, mais verde, mais descarbonizado” e acusou o Governo de estar “refém” dos partidos da “extrema-esquerda”, Bloco de Esquerda e PCP. Para Salvador Malheiro o “grande objetivo de BE e PCP na área do ambiente é privatizar o setor da energia, o setor da água e o setor dos resíduos”.

Sobre a proposta desses mesmos partidos de reduzirem o IVA da eletricidade da taxa máxima (23%) para 6%, Salvador Malheiro diz não perceber a razão de não o terem feito mais cedo, já que estão há três anos no Governo sem imposições de um resgate financeiro. Para o vice-presidente do PSD “a questão que se coloca é porque é que esta redução da taxa do IVA da eletricidade não aconteceu anteriormente”, já que o aumento aconteceu num “período excecional no país em que todos tiveram de fazer um esforço enorme.”

Sobre a exploração de petróleo no país, Salvador Malheiro pediu que não houvesse fanatismo, já que “se temos petróleo, temos de aproveitar esse ativo”, mas de uma forma em que “o setor turístico não seja descurado”. O dirigente do PSD lembrou também o exemplo em Viana do Castelo em que há uma zona de teste de energia eólica offshore, alertando que essa exploração não pode impedir que haja naquela zona atividade piscatória.