Nuno Morais Sarmento, vice-presidente do partido, foi à Universidade de Verão lembrar que o PSD sempre foi um “partido de combate”. Com os outros e consigo mesmo, em lutas internas e dissidências que nunca levaram a uma derrota por KO. De punhos cerrados, o vice-presidente do PSD, que já foi pugilista profissional, desferiu golpes como quis e sem preocupações de cumprir o politicamente correto. Numa aula sobre a social-democracia na Universidade de Verão do PSD, Morais Sarmento descreveu o PSD como um “partido de contestação” e lembrou que “não há um único líder do PSD que não tenha andado a desgastar e a fazer sofrer o líder ou os líderes anteriores, até ele próprio ser líder“. E nem poupou os mais recentes: “Todos, todos os líderes. Passos Coelho, Rui Rio...”

Embora tenha estado fora do ringue nos últimos anos, Morais Sarmento não vê alterações no posicionamento político do partido e explicou que a “linha de separação entre o PS e o PSD é hoje tão clara como em 1974“. E, por isso, não se percebem as “crises existenciais” de alguns sociais-democratas, numa alusão à recente saída de Pedro Santana Lopes para formar um novo partido. O vice-presidente do PSD disse, ainda de luvas calçadas, não temer o aparecimento de novas forças políticas: “Não me faz confusão nenhuma as movimentações que aí acontecem“.

Morais Sarmento lembrou que esteve com Santana Lopes em quase todas as batalhas no PSD e lembrou que o antigo líder do PSD “sempre teve uma posição coerente à direita”. O dirigente do PSD admitiu até que há em Portugal um espaço por ocupar à direita do PSD e do CDS, que pode levar ao surgimento de plataformas à direita ou a “homens providenciais”. E acrescentou: “Santana Lopes vem um bocadinho como homem providencial.”

Sarmento entende que o sistema político português é “distorcido para a esquerda”, exemplificando: “A nossa Le Pen é a Assunção Cristas. Não cabe na cabeça que em Portugal não haja ninguém mais conservador que Assunção Cristas. É claro que há. Nós não temos é partidos de extrema-direita.”

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O PSD, no entender do “vice” de Rio, “deve estar onde sempre esteve”, no “centro político”, numa altura em que o PS se assume como “o grande partido de esquerda”. Ora, o PSD, destaca, “não é um partido que vai da esquerda à extrema-esquerda”, logo nunca pode ser confundido com o PS. E chegaram, finalmente, os golpes contra essa ala ideológica. Para Morais Sarmento o PSD deve afirmar-se como alternativa não só ao PS, mas à frente de esquerda, a “Catarina, Jerónimo e também a António Costa”.

Sarmento disse depois que o programa do PS pouco importa, e que o relevante é olhar para “o cardápio de exigências de Bloco de Esquerda e PCP“, que irá tornar o programa da ‘geringonça’ “numa salada russa, como foram os últimos três anos, sem um único desígnio nacional”. O dirigente do PSD criticou ainda que não tenha havido esse “desígnio nacional para além do raio do ego do primeiro-ministro.

Num tom de senador, Morais Sarmento recusou a ideia, após a pergunta de uma aluna, de que Passos Coelho seja mais da ala direita do PSD do que Rui Rio. “O Pedro Passos Coelho sempre foi um homem da esquerda do PSD. Eu acho que ele quando chegou a líder do PSD estava galvanizado por alguns conceitos económicos que vinham da sua recente licenciatura. E foi por isso que foi definido um como perigoso liberal”, explicou.

Embora até tenha tido “uma posição aberta desde sempre em matérias que foram discutidas na Assembleia da República” [eutanásia], Sarmento acredita que Rio “é muito conservador na prática política“. E acrescentou: “Até Marcelo é menos conservador na prática política do que Rui Rio”. O Presidente da República, logo no início da intervenção, tinha sido brindado com o rótulo de “saltitão político”. No fim da comparação entre Rio e Passos, Sarmento acabou por concluir que “Passos Coelho e Rui Rio são ambos da ala esquerda do PSD”.

Morais Sarmento explicou como o PSD sempre foi um partido de militantes e de protesto e como se tornou num partido de eleitores com Cavaco Silva. Um partido que defende a “igualdade à partida e não a igualdade à chegada” e que defende a “mobilidade social” em que a ascensão é feita “mérito”.