A missão espacial Cassini-Huygens descobriu outro anel com formato de hexágono no polo norte de Saturno, desvendou Leigh Fletcher, cientista planetário da Universidade de Leicester, através da Agência Espacial Europeia. O anel é muito semelhante a outro descoberto em 1988 através de imagens captadas pela sonda Voyager, mas este fica a uma latitude maior na atmosfera de Saturno e formou-se na estratosfera.

As imagens da Cassini, que terminou a missão em setembro do ano passado, provam que esse anel é na verdade um vórtice de nuvens em circulação, mas ninguém sabe exatamente como se criam nem que ligação tem este hexágono com o que foi descoberto há 30 anos.

As fotografias analisadas por Leigh Fletcher foram recolhidas em 2004 quando era inverno no polo norte de Saturno e verão no polo sul. Nesse ano havia uma tempestade circular e quente no sul do planeta, mas a Cassini não conseguiu encontrar no polo norte a tempestade com formato de hexágono que a Voyager da agência espacial norte-americana tinha visto nos anos 80. A sonda ainda se aproximou do polo norte, mas estavam -158ºC e essa temperatura invalidaria quaisquer dados recolhidos pela sonda. Foi preciso esperar cinco anos terrestres até que o polo norte se tornasse mais quente.

À medida que o verão ia avançando no polo norte de Saturno, a Cassini conseguiu ver cada vez mais claramente a formação de dois vórtices, um a uma altitude muito maior do que o outro. Foi assim que a sonda conseguiu perceber uma grande diferença entre esses vórtices: os anéis na atmosfera de Saturno encontrados pela Cassini e pela Voyager tinham forma de hexágono, enquanto o anel encontrado no polo sul do planeta era circular.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Isso levou os cientistas a teorizarem que uns e outros têm origens diferentes: “Ou se geraram dois hexágonos espontaneamente e identicamente em duas altitudes diferentes, uma mais baixa nas nuvens e outra mais alta na estratosfera, ou o hexágono é de facto uma estrutura imponente que abrange uma faixa vertical de várias centenas de quilómetros”, explica Leigh Fletcher.

A ideia de que os anéis circulares têm um processo de formação diferente dos anéis hexagonais ainda se adensa mais porque em 2017, quando a Cassini deixou de olhar para Saturno, os anéis no polo norte ainda estavam a evoluir. Leigh Flecther tinha sugerido que o anel hexagonal descoberto pela Voyager tinha sido criado por colunas hexagonais de nuvens que se moviam como nuvens.

Segundo essa teoria, elas não podiam subir até à estratosfera porque seriam bloqueadas por outras nuvens mais altas. Agora, Leigh Fletcher tem uma nova ideia: “Uma maneira pela qual a onda pode escapar é através de um processo chamado Evanescência, onde a força de uma onda diminui com a altura mas é forte o suficiente para persistir na estratosfera”. Mas ainda sabemos pouco sobre a atmosfera de Saturno para tirar conclusões.