É uma família de políticos. Jair Bolsonaro, o pai, começou como vereador do Rio de Janeiro em 1989 e dois anos depois foi eleito deputado federal pelo mesmo estado, cargo que ainda ocupa. A primeira mulher, Rogéria, também teve passagem pela política até ser derrotada pelo filho Carlos, quando o então jovem de 17 anos conseguiu ser eleito vereador pela Câmara do Rio de Janeiro. Flávio e Eduardo também são políticos ativos e Renan, de 19 anos, começa a querer dar os primeiros passos. A filha mais nova, Laura, tem sete anos mas já aparece em algumas ações de campanha do candidato nas eleições presidenciais no Brasil, que foi esfaqueado esta quinta-feira em Minas Gerais.
Flávio, o deputado estadual que já trocou palavras com a Netflix
Com 37 anos, Flávio é o mais velho do clã Bolsonaro. No seu site na internet, mostra que seguiu as pisadas do pai e que defende os mesmos valores do candidato ao Palácio do Planalto: “Comunga os ideais e os valores apreendidos de seu pai, Deputado Federal Jair Bolsonaro, resumidamente representados pela defesa da família; dos valores cristãos; do valor e importância do trabalho e do mérito como mais justos critérios de progresso social e distribuição de rendimentos; da ética; e do direito à propriedade e à posse e porte de armas por cidadãos cumpridores das leis”, pode ler-se na secção dedicada ao perfil do deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
Em 2016 candidatou-se a prefeito do Rio de Janeiro, altura em que disse que gostava de militarizar algumas escolas caso fosse eleito:
Um dos maiores problemas da educação é a indisciplina, então eu vou buscar o governo do estado para ver onde é possível fazer parcerias para militarizar algumas escolas. Não posso falar que vou militarizar todas as escolas. A gente tem que aprender com esses modelos”, disse numa entrevista ao jornal O Globo.
Em março de 2018 teve uma pequena troca de palavras no Twitter (rede social onde é muito ativo e onde tem vindo a fazer atualizações sobre o estado de saúde do pai) com a Netflix Brasil: “Se a esquerda está apavorada com a série ‘Mecanismo’, imaginem se soubessem que a Netflix Brasil estava interessada em fazer uma série sobre Bolsonaro”, escreveu. A resposta não tardou: “Você está louca, querida”.
Você está louca, querida.
— Netflix Brasil (@NetflixBrasil) March 27, 2018
Carlos, o filho que derrotou a mãe nas eleições
Depois de em 1992 e 1996 ter apoiado a primeira mulher, Rogéria, na candidatura a vereadora do Rio de Janeiro, nas eleições municipais de 2000, Jair Bolsonaro já estava separado e entrou em rota de colisão com a ex-companheira. No entender do agora candidato a presidente, Rogéria tinha traído a sua confiança.
Acertamos um compromisso. Nas questões polémicas, ela deveria ligar para o meu telemóvel para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu elegi-a. Ela tinha que seguir as minhas ideias. Acho que sempre fui muito paciente e ela não soube respeitar o poder e liberdade que lhe dei”, disse Jair numa entrevista.
Assim, decidiu que Carlos, o segundo filho mais velho, então com 17 anos, iria concorrer às eleições desse ano e disputar com a mãe um lugar na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Carlos registou a candidatura mas o Ministério Público Eleitoral alegou que a idade não permitia que o jovem concorresse. O pai recorreu para o Tribunal Superior Eleitoral e a decisão foi favorável: “a idade mínima de 18 anos para concorrer ao cargo de vereador tem como referência a data da posse”, ou seja, em 2001 Carlos já teria 18 anos e poderia assumir o cargo em caso de vitória. E ganhou, fazendo dele o mais jovem vereador do Rio. Atualmente ainda ocupa o mesmo cargo, tendo sido eleito para o quinto mandato consecutivo em 2016.
Eduardo, o polícia adepto das armas
Tem 34 anos e é deputado federal pelo estado de São Paulo desde 2015. Adepto da liberalização do porte de armas, gerou alguma revolta quando apareceu armado durante uma manifestação de apoio ao impeachment de Dilma Rousseff na Avenida Paulista, em São Paulo.
Eu sou polícia federal. Existem inúmeros exemplos de policiais que morrem fora de serviço, sob encomenda, principalmente do PCC [Primeiro Comando da Capital]. É meu hábito, é normal, tenho porte. O que quer que eu faça? Não vejo porque teria que ir desarmado, se eu sempre ando armado”, disse sobre o que tinha acontecido.
Quando em março deste ano a ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, que denunciava regularmente os abusos de poder da Polícia Militar, foi assassinada. Apenas um dia depois, numa altura em que as primeiras suspeitas recaíam sobre as milícias, Eduardo Bolsonaro usou o Twitter para atacar o PSOL, o partido de Marielle Franco: “Mais uma lição: se você morrer seus assassinos serão tratados por suspeitos, salvo se você for do PSOL, aí você coloca a culpa em quem você quiser, inclusive na Polícia Militar”.
Mais uma lição: se você morrer seus assassinos serão tratados por suspeitos, salvo se você for do PSOL, aí você coloca a culpa em quem você quiser, inclusive na PM. Eis o verdadeiro preconceito, a hipocrisia. "Para os meus amigos tudo, aos demais a lei".
— Eduardo Bolsonaro???????? (@BolsonaroSP) March 15, 2018
No meio desta família de políticos sobram dois nomes: Laura, a filha de sete anos (que, por agora, só acompanha o pai em algumas ações de campanha), e Jair Renan, o filho de 19 anos que estudou Direito e que muitos acreditam vir a seguir os passos dos irmãos e dois pais. “Por enquanto, a pretensão dele é seguir a carreira militar. Mas a política está no sangue. Ele gosta, eu também gosto muito. Por mim, seguiria… Ele faz Direito e está estudando para ingressar nas Forças”, disse a mãe, Ana Cristina Valle, em dezembro.
Em março, Renan criou uma página de Facebook para promover os seus “ideais e projetos”, o que muitos entenderam como um sinal de que uma carreira política pode estar para breve.